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quinta-feira, 22 de julho de 2021

O histórico show do Pink Floyd que quase destrruiu Veneza em 1989




Trinta anos se passaram de uma inesquecível noite que animou a Festa do Redentor, tradicional manifestação religiosa que ocorre em Veneza há mais de 400 anos. Em 15 de julho de 1989, aconteceu um dos espetáculos mais grandiosos que os venezianos presenciaram, o histórico show do Pink Floyd na laguna de Veneza.

O evento, de proporções impensáveis para os dias de hoje, deixou marcas na cidade. Quem teve o grande privilégio de estar presente garante que foi uma emoção indescritível. Mas a experiência única trouxe consigo uma série de problemáticas e polêmicas que Veneza ainda hoje comenta.

A escolha de Veneza e o Redentor



A lendária banda sempre foi conhecida por escolher locais prestigiosos e especiais para a realização de seus concertos. Quem não se lembra da performance que eles fizeram em 1971 em Pompeia? A turnê italiana de 1989 contou com a organização do produtor Fran Tomaso. Por que não fechar as apresentações da banda no dia do Redentor com um mega show?

Para quem não conhece este capítulo da história de Veneza, a Festa do Redentor comemora o final, em 1577, de um grande surto de peste que a cidade viveu. Com a população dizimada, o doge faz uma promessa declarando que ao final do flagelo a cada ano se faria uma procissão que seguiria até a igreja do Redentor, projetada por Andrea Palladio e construída após a peste. Desde então, a festa acontece todos os anos, no segundo ou terceiro sábado de julho.



Pois em 1989, a festa foi celebrada junto ao mega show do Pink Floyd. Se pensarmos bem, nada completamente inédito, já que no século XVIII, era comum que músicos se exibissem em pequenas embarcações durante o Redentor. Claramente em outro contexto e dimensão.

Os integrantes do Pink Floyd aceitaram a ideia com entusiasmo, a apresentação seria gratuita para o público e eles aceitaram inclusive bancar uma parte da ideia do próprio bolso.


O dia do show

Não foi nada simples montar uma estrutura flutuante em plena laguna. Tão pouco toda a logística ligada a uma operação deste tipo. Para montar o palco foi necessária uma operação realizada por mergulhadores que estabilizaram a estrutura e ligaram cabos elétricos a alguns metros de profundidade.

Todo o trânsito da cidade, prevalentemente na água, teve de ser completamente desviado, isso significa uma pausa considerável no abastecimento da cidade. Era um evento tão especial, que a rede de TV italiana RAI transmitiu o concerto ao vivo para milhares de telespectadores.








Conforme relatam alguns jornais da época, ás 8 da manhã do dia do show, 50 mil pessoas já estavam praticamente acampadas na Praça São Marcos. Às 17, ela foi fechada, não entrava  mais ninguém e quem saísse não podia mais voltar. O público total foi de 200 mil pessoas e o show durou 90 minutos. A decisão de limitar o número de decibéis fez com que o espetáculo perdesse muito em termos de qualidade, as pessoas não conseguiam escutar claramente as músicas.



Enquanto muitos fãs estavam completamente eufóricos com o show, uma parte dos venezianos e da administração da cidade protestaram fortemente contra sua realização. E torceram contra ao ponto de contribuir para a criação de grandes problemas que também marcaram o evento.

Polémica e o day after



A cidade não foi preparada suficientemente para a realização de um show dessa dimensão. Não foram montadas estruturas de segurança, cercas e o caos se instaurou durante, mas principalmente após o show.

Os responsáveis pela limpeza não permitiram a instalação de banheiros químicos e não seguiram as instruções de limpar completamente a praça imediatamente após o fim do show.  Todo o lixo acumulado de 200 mil pessoas foi deixado propositalmente até a segunda-feira de manhã, em um absurdo e inexplicável protesto de alguns dirigentes públicos.



Os arredores de Praça São Marcos e os canais ficaram completamente cobertos de todo tipo de lixo, garrafas, copos, plástico. A falta dos banheiros públicos e estruturas químicas fez com que a cidade se tornasse uma latrina a céu aberto. No dia seguinte a imprensa não fazia outra coisa a não ser mostrar a situação degradante da cidade que é Patrimônio UNESCO da Humanidade.

Ainda hoje, passados 30 anos, a data é relembrada pelos dois pontos de vista. De um lado, toda a emoção de um concerto de uma das maiores bandas de todos os tempos, em uma das cidades mais belas e improváveis do mundo. Do outro, a incivilidade, o abandono e o degrado, incentivados indiretamente pela política e suas ideologias.

Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)

Show Pink Floyd em Veneza com público de 200 mil pessoas (Foto: Reprodução / Divulgação)


Nos últimos anos, bem antes da pandemia começar, muito vinha sendo discutido sobre os efeitos negativos causados pelo turismo predatório por todo mundo. Por sentir na pele os problemas trazidos por esse modelo de negócio, Veneza é, e sempre foi, um dos epicentros da questão. No dia 15 de julho de 1989, quando a população local não passava de 60 mil habitantes, a cidade recebeu 200 mil pessoas para um show histórico, gratuito, e destrutivo, do Pink Floyd no dia 15 de julho.

A apresentação começou a dar problemas antes mesmo de acontecer. De acordo com aquivos do The New York Times, havia muitas ressalvas com relação à apresentação, principalmente, pela intensidade do som gerado, que poderia causar potenciais danos aos monumentos antigos. Na época, a banda aceitou reduzir o volume de 100 decibéis para 60, e também realizar o show embarcados. "Centros históricos não devem ser usados ​​para apresentações incompatíveis com sua natureza histórica", disse Augusto Salvadori, ex-comissário de turismo de Veneza, na época.

Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)

Por conta dos possíveis riscos aos diversos monumentos históricos da cidade, a banda aceitou se apresentar em uma barca (Foto: Reprodução / Divulgação)


Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)

300 toneladas de lixo foram geradas e deixadas para trás (Foto: Reprodução / Divulgação)


Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)

O exército italiano precisou ser acionado para ajudar na limpeza devido ao tamanho do caos (Foto: Reprodução / Divulgação)


Entretanto, os maiores danos vieram durante e, obviamente, depois da apresentação, causados principalmente pelo excesso de lixo - cerca de 300 toneladas foram deixadas para trás, sendo 500 metros cúbicos de latas vazias e garrafas -, pelo vandalismo, como a destruição de postes e de um monumento histórico, e, pela sujeira, por não haver banheiros públicos ou cabines portáteis, as pessoas urinaram por toda a cidade, que, à época, já acumulava mais de 1500 anos de história. Dois dias depois do evento, o exército italiano foi mobilizado para colaborar com a limpeza da cidade.

Polémica

Em razão do evento, o então prefeito, Antonio Casellati, e todo o seu conselho municipal, renunciaram aos seus cargos. De acordo com publicação do The Washington Post realizada na época, Casellati afirmou que o seu governo teria sofrido uma pressão incomum da televisão estatal italiana, que vendeu os direitos de transmissão do show para 12 países - a apresentação chegou a ser transmitida em mais de 20 países, com uma audiência de quase 100 milhões de espectadores - , e também de outros grupos de interesse político que permitiu que o show continuasse. "Houve muitos contatos e contratos gerados com esse show”, disse ele.

Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)

Além das 200 mil pessoas presentes, 100 milhões de espectadores assistiram a apresentação pela televisão (Foto: Reprodução /



Show Pink Floyd em Veneza  (Foto: Reprodução / Divulgação)




VÍDEO












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