Otelo,uma toranja e uma lágrima. (Derradeiros momentos.)
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Excerto do seu biógrafo,Paulo Moura,resultado da conversa, logo após a morte de Otelo, com a companheira de há 34 anos, Filomena Outeiro.
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Otelo queria escrever um livro para esclarecer todas as inverdades sobre ele, mas já não teve forças.
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«Nos últimos meses da vida de Otelo,Filomena foi a sua cuidadora. Ele estava doente e ela cuidou dele 24 horas por dia.Durante dois meses ,quase não dormiu,contou-me.Na noite de sábado(24/7) no hospital,a médica pediu a Filomena que ficasse ao lado dele,lhe pegasse na mão e não parasse de lhe falar. Para que ele não se sentisse sozinho,disse a médica. Para que se sentisse em paz.
"Diga-lhe o quanto gosta dele para que se sinta acompanhado".
Pouco antes,Otelo pedira a Filomena que não se esquecesse da toranja que ela todas as manhãs partia em gomos e lhe trazia numa pequena caixa. Ela prometeu-lhe a toranja e ele fechou os olhos. Durante a noite Filomena segurou-lhe a mão e disse-lhe muitas vezes que o amava. Que o amava muito e que ficaria ali sempre, ao pé dele.Que ele era o amor da sua vida.
Otelo não acordou mais,mas Filomena teve a certeza que ele a ouviu,porque a meio da noite viu,num dos seus olhos,uma lágrima.Foi assim.Não tentou falar,nem fazer um gesto. Soltou uma lágrima.
Talvez o que lhe devemos seja apenas aceitar essa lágrima.»
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Paulo Moura no "Público" de hoje 26.07.2021.
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