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Cacela Velha é uma das 15 melhores praias do mundo e uma das melhores da Europa para quem gosta de caminhar. São duas distinções antigas, mas que foram dadas por quem não tem qualquer ligação afectiva com o Algarve ou com Portugal, demonstrando independência na sua escolha e dando mais valor aos galardões. O primeiro foi atribuído pela edição espanhola da Condé Nast Traveler, o segundo pelo jornal britânico The Guardian.
Os elogios dos estrangeiros deixam-nos sempre muito satisfeitos, mas não precisamos deles para descobrirmos o nosso património, na verdade fomos nós que ajudámos a preservá-lo e devemos ser os primeiros a defendê-lo.
E aqui estamos perante uma verdadeira paisagem selvagem, quase intocável e sem mordomias.
Descendo a partir da aldeia de Cacela Velha, chegar à língua de areia separada pela água pode ser um grande desafio. O mar só está do lado de lá, mas antes precisamos de atravessar a ria Formosa. Enquanto a maré está baixa, é possível percorrê-la a pé com atenção aos bivalves e mariscos que vivem no fundo daquelas águas. Os bens pessoais têm que ir parar à cabeça, como se fôssemos autênticas lavadeiras, e os pés têm que ir progredindo com cautela para evitar escorregar e deitar tudo a perder.
O desafio de quem parte à aventura pode ser menos radical, uma vez que há pescadores que transportam os banhistas nos seus barcos por apenas um euro por trajecto. É esta a opção escolhida para o regresso, quando se percebe que a maré subiu de tal forma que não há altura que consiga assegurar que as toalhas não se molham no regresso ao carro.
O acesso ao areal pode ser feito a partir de Cacela Velha ou do sítio da Fábrica, a povoação onde até à década de 1940 funcionou uma fábrica de cerâmica e a que ao tempo resiste apenas o nome. Os barcos dos pescadores estão em constante movimento, mas se por algum motivo não for possível localizá-los, não há nada como ligar para os números de telefone que estão disponíveis nos pontos de embarque. E sim, falamos de pontos e não de cais de embarque porque o estado natural desta praia não se compadece com a criação de cais flutuantes, a entrada no barco implica molhar os pés na água.
No areal não é difícil encontrar lugar para estender a toalha, mesmo nos períodos mais movimentados.
O isolamento deste lugar ajuda a evitar que as grandes enchentes desistam da Manta Rota. Mas há desvantagens. Os serviços disponíveis por aqui são mínimos, com a maioria das áreas sem vigilância e com apenas um pequeno quiosque que vende algumas bebidas e snacks. Junto aos bens pessoais, convém que traga à cabeça comida para passar bem o dia.
Antes ou depois dos banhos de sol e água salgada importa olhar para o nosso ponto de origem, a aldeia de Cacela Velha. “As praças fortes foram conquistadas / por seu poder e foram sitiadas / as cidades do mar pela riqueza / Porém Cacela / foi desejada só pela beleza”.
As palavras são de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das muitas escritoras que se inspirou neste lugar. O nome dela está perto de Eugénio de Andrade ou Gastão Cruz, que deram nomes a ruas deste povoado e que têm os seus textos a pairar por aqui.
Há uma mistura de estilos que nos transportam para os tempos em que os muçulmanos construíram aqui um castelo, com uma importância de defesa primordial devido à posição privilegiada de Cacela Vela no mapa algarvio. Hoje sobra a muralha com dois baluartes e guaritas, reconstruída depois do terramoto de 1755. Mesmo em frente foram levadas a cabo escavações que permitiram descobrir vários artefactos usados na vida quotidiana das populações na época medieval.
A Igreja Matriz é outro dos pontos de passagem obrigatória. É daqui que se consegue ter a vista desimpedida para o oceano e a língua de areia que vai mudando de forma consoante a vontade do vento, mas este é um espaço com uma história mais antiga que a nossa própria vida enquanto nação. Possivelmente nascido como mesquita muçulmana, este templo tem três naves com arcos e ogivas assentes em colunas, com grandes janelões nas paredes das naves, e inclui uma capela de estilo renascentista.
Cláudia Paiva
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