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A campeã olímpica estava no auge de sua carreira quando foi escolhida pelo führer para representar a Alemanha Nazista; a partir de então, sua carreira começou a ruir
Em 1936, Berlim sediou os Jogos Olímpicos de Verão, por onde Hitler teve a chance de demonstrar a glória de seu império ao mundo. Construindo estádios colossais e investindo na preparação dos atletas, as Olimpíadas serviriam ao Reich como propaganda dos ideais supremacistas.
Porém, uma questão se tornou polémica entre os alemães e a comunidade olímpica: os porta-vozes do Partido Nazista defendiam arduamente que as equipes alemãs não eram lugar de judeus e nenhum atleta de origem semita deveria competir. Já para algumas comissões pelo mundo, isso devia ser motivo de boicote ao evento.
Muitos atletas judeus sofreram violência ou penalidades, alguns chegaram a sair da Alemanha. Enquanto isso, outros consideravam isso uma usurpação de um evento esportivo que deveria celebrar a união e a colaboração. Os EUA, por exemplo, defenderam boicotar essas Olimpíadas.
Diante desse nó diplomático, o Führer decidiu trazer um desportista judeu de fachada que pudesse ser usado de argumento contra acusações de injustiças na Alemanha. A escolhida foi Helene Mayer, desportista da esgrima e vencedora da medalha de ouro nas Olimpíadas de Amsterdã aos 17 anos.
Helene possuía pai judeu, mas sua mãe era de origem luterana. Quando o nazismo assumiu o poder na Alemanha, isso se tornou um problema familiar. Helena competiu em Los Angeles nas Olimpíadas de 1932, mas ficou nos EUA por um programa de intercâmbio. Lá, era tratada como esgrimista de alto nível.
Quando as leis raciais foram implementadas, Helene perdeu sua associação com o clube de esgrima alemão e sua bolsa de estudos foi cancelada. Em 1935, ela perdeu a cidadania alemã, mas conseguiu competir na Inglaterra.
Porém, no ano seguinte, ela recebeu a notificação da decisão de Hitler de colocá-la na equipe de esgrima.
A decisão difícil de prosseguir a carreira em favor daqueles que a humilharam e a expulsaram de seu lar foi complicada, mas Helene decidiu aceitar o convite oficial.
Milly Mogulof, biógrafa de Helene, acredita que essa decisão foi feita para que a atleta recuperasse sua cidadania e retornasse à casa que tanto sentia falta. Porém, muito se debateu em relação a essa aparente traição ao povo judeu.
Goebbels em pessoa proibiu os jornais de mencionar suas origens supostamente 'sujas', enquanto os nazistas a declarava “judia simbólica” na equipe olímpica.
Muita pressão foi colocada em cima de Helene, que acabou perdendo para a húngara Ilona Elek.
No pódio, recebendo a medalha de prata, cumpriu a parte final do acordo que fez com o Führer e levantou o braço numa saudação Sieg Heil. Entretanto, era claro para todos que tudo aquilo era uma armação para encobrir o racismo do Estado Alemão.
No ano seguinte, ela representou novamente a Alemanha no campeonato da Federação Internacional de Esgrima, vencendo. A imprensa alemã decidiu em peso ignorar a vitória, o que foi muito sentido por Helene.
Ela voltou aos EUA amargurada e triste, por ter sido renegada em sua terra, mesmo com tantas vitórias em favor dela. Não dava entrevistas e nunca explicou sua participação na Comissão Olímpica dos nazis.
Helene continuou lutando e venceu diversos campeonatos femininos pelos EUA, competindo até 1946. Só em 1952, ela retornaria à Alemanha, onde tentou reaver sua vida como era antes do Terceiro Reich, sem sucesso. Menos de um ano depois, ela morreu, vítima de um câncer de mama.
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