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terça-feira, 3 de agosto de 2021

O Masacre de Pidjiguiti,

 Sobreviventes do massacre de Pidjiguiti.

SOBREVIVENTES DO MASSACRE





Neste dia, a 3 de Agosto de 1959, em resposta a uma greve iniciada pelos estivadores e marinheiros do porto de Pidjiguiti, na Guiné-Bissau, as tropas coloniais portuguesas massacraram 40~70 pessoas e deixaram centenas de feridos e presos, muitos dos quais foram depois torturados.

Os trabalhadores das docas, que trabalhavam para a poderosa Casa Gouveia, um monopólio comercial do grupo CUF, haviam iniciado uma greve por melhores salários e, apesar da Casa Gouveia ter aceite as reivindicações, o administrador colonial do porto de Pidjiguiti não aceitou.

Em resposta, os trabalhadores pararam de trabalhar, bloquearam o portão do porto, armaram-se com paus e aguardaram. Para se demonstrar irredutível, a tropa portuguesa e a PIDE (polícia secreta) avançaram contra os trabalhadores guineenses, disparando a matar, +

deixando entre 40 a 70 mortos, mais de 100 feridos e dezenas de presos, muitos dos quais viriam a ser torturados, com a intenção de se obter informação sobre quem seriam os cérebros por detrás da greve,+

porque as autoridades portuguesas consideravam impossível que "indígenas analfabetos" organizassem uma greve desta envergadura. Este acontecimento acelerou e modificou qualquer pretensão de moderação dos jovens que estavam a formar a resistência organizada ao poder colonial.

Ficou claro que Salazar nunca iria aceitar a autonomia. Era preciso dar início à luta armada. Era preciso sair dos centros urbanos controlados pelos portugueses e formar e armar uma guerrilha. Nascia assim o PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.

Contextualizando: Até 1961 esteve em vigor o regime do indigenato, que permitia o trabalho forçado de pessoas nativas africanas na Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé. Em 1959, a maioria ainda se encontrava nesta situação similar à escravatura, ou a receber baixíssimos salários.








O massacre de Pidjiguiti e o cão do administrador Carreira

15 SETEMBRO 2015 16:32

Alfredo Cunha

Alfredo Cunha

Fotojornalista



De como a morte do cão do administrador do Porto de Bissau foi um dos acontecimentos que originou um dos massacres mais negros da história da Guiné, e o início de um processo histórico que iria acabar na independência.


3 DE AGOSTO DE 1959, PORTO BISSAU


Pode um cão mudar o curso da história? 

A versão oficial reza assim. A 3 de agosto de 1959, os marinheiros e estivadores do Porto de Bissau, ao serviço da então poderosa Casa Gouveia, revoltaram-se e exigiram melhores condições de trabalho e um aumento da jorna. 

Foi aí que o poder colonial português mostrou que não estava para ser intimidado. Dá-se o massacre de 3 de agosto, em que polícias, cabo do mar e outras forças que se armaram no momento disparam sobre os homens que reivindicavam apenas um pouco mais de dignidade. 

O resultado foi desastroso. Um número de mortos que nunca chegou bem a ser contabilizado (40 ou 70). 

E que acelerou e modificou qualquer pretensão de moderação dos jovens quadros que estavam a formar a resistência organizada ao poder colonial. Ficou claro que Salazar nunca iria aceitar uma autonomia administrativa. 

Era preciso dar início à luta armada. 

Era preciso sair dos centros urbanos controlados pelos portugueses. Era preciso formar e armar uma guerrilha. Nascia assim o PAIGC — Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde — que agregou várias tendências. E o cão? Onde entra ele?

Em setembro de 2015, uns 55 anos depois desse dia que continua a ser celebrado na Guiné, ainda é possível juntar uma dúzia de sobreviventes do massacre de Pidjiguiti e levá-los ao Porto de Bissau. São velhotes tristes e desencantados com a vida, abandonados e sem grande sustento. 

E Porto de Bissau é um cadáver já decomposto. À entrada, há uma bizarra escultura em blocos. Só depois se percebe que é uma mão fechada, em honra dos mortos em Pidjiguiti. Chama-se “Mão de Timba” — mão de caloteiro.

"A mão de Timba", escultura à entrada do Porto de Bissau.

"A mão de Timba", escultura à entrada do Porto de Bissau.

 

Alfredo Cunha

É aqui que começa uma versão um pouco diferente da história de Pidjiguiti, contada pelos próprios, no local. 

O mais dramático — se é que se pode utilizar este termo — é que as reivindicações dos estivadores e marinheiros já tinham sido aceites pela Casa Gouveia em 3 de agosto, dia do massacre. Quem o diz é, por exemplo, o coronel Carlos Fabião, em várias entrevistas. Mas o administrador achou que só iria dar seguimento a essa ordem quando lhe apetecesse.

Sobreviventes do massacre de Pidjiguiti.

Sobreviventes do massacre de Pidjiguiti.

 

Alfredo Cunha


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Para os velhos marinheiros com quem falámos a motivação era evidente: vingança. O administrador Carreira não perdoava terem-lhe matado um cão. 

Esta versão que nos conta Estêvão Vieira, de 70 anos, tem a concordância de todos.

“O administrador tinha dois cães enormes que largava pelo porto às seis da tarde para não deixar ninguém andar por aí. Um marinheiro foi apanhado e, ao defender-se, matou um. O administrador prometeu vingar-se. Até se mudou para esta casa aqui mais perto.” A morte do cão tinha iniciado um processo histórico imparável, que iria acabar na independência da Guiné.

VÍDEO




De todos os relatos gravados e lidos, nunca se percebe muito bem qual foi a acendalha que levou ao primeiro tiro. Cabe aos velhos estivadores contarem. Eles garantem que o cabo do mar Nicolau se assustou quando o marinheiro Augusto agarrou num barrote para se sentar. Julgou que o ia atirar contra ele. E disparou. Eram 15h45. Durou até às 18h. E a Guiné mudou.


VÍDEO






O PAIGC já teve várias versões sobre a sua intervenção na génese deste movimento. 

A verdade é que foi apenas mais tarde, em setembro, que se organizou. Carlos Correia, um destacado membro do partido, primeiro-ministro da Guiné e várias vezes ministro dos Negócios Estrangeiros, era funcionário da Casa Gouveia. Desdramatiza um pouco o papel de ‘mau’ do administrador Carreira, até porque ele foi sua testemunha moral quando esteve preso. Mas não deixa de ter sido irónico ter-se encontrado várias vezes com o filho, Medina Carreira, enquanto homólogo nos Negócios Estrangeiros portugueses. 

“Ele é guineense, não tem culpa do que o pai fez.” E continua: “Só foi desagradável uma vez, quando eu o confundi e disse que ele era ministro do PSD.

” A Guiné independente nasceu ali, naqueles escombros, agora um misto de ferrugem e de lama.

https://expresso.pt/

1 comentário:

  1. A fotografia em grande destaque, com militares, policia e mortos estendidos no chão, não parece ser do massacre do Pidjiguiti.
    Os nossos militares e policias não andavam assim fardados, ou dizendo melhor assim impecavelmente fardados, não são fardas portuguesas.
    Julgo tratar-se de algum massacre das forças racistas do África do Sul.
    O interessante é estar a mesma fotografia na wikipedia reportando-se ao mesmo massacre.

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