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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A me­dalha de ouro de Pi­chardo, en­quanto me­dalha, vale tanto quanto as de Rosa Mota, a de Nelson Évora, Fer­nanda Ri­beiro ou Carlos Lopes va­leram - Jorge Cordeiro


 




Medalhas

Jorge Cordeiro

A ta­ca­nhez de ar­gu­mentos e mo­ti­va­ções para lá das des­por­tivas que puxam para a po­lé­mica es­téril o ques­ti­o­na­mento, não se sabe bem a quem, se o «ouro de Pi­chardo vale menos que o ouro de Rosa Mota», é isso mesmo, con­versa ba­rata.

Poder-se-ia deixar a coisa passar sem co­men­tário ou si­tuar a elu­cu­bração no es­trito plano dos equi­lí­brios men­tais que a sus­citam. Assim não se fará porque a questão ca­rece de um mí­nimo de sen­satez e so­bre­tudo de um apuro que a situe no plano da ra­ci­o­na­li­dade.

A me­dalha de ouro de Pi­chardo, en­quanto me­dalha, vale tanto quanto as de Rosa Mota, a de Nelson Évora, Fer­nanda Ri­beiro ou Carlos Lopes va­leram. Pi­chardo, en­quanto atleta, não tem menos mé­rito des­por­tivo que ou­tros me­da­lhados ou não me­da­lhados. A me­dalha por ele ob­tida vale, em termos quan­ti­ta­tivos, tanto para Por­tugal quanto todas as ou­tras va­leram. A questão é que neste caso não es­tamos a falar de um atleta fruto da po­lí­tica des­por­tiva na­ci­onal mas da im­por­tação, por ra­zões não des­por­tivas, de al­guém que ou­tros for­maram. E não se venha com a con­versa da in­te­gração quando mi­lhares que aqui tra­ba­lham estão por in­te­grar e re­gu­la­rizar.

Mas não vale a pena iludir o óbvio. Não vale a pena tomar como boas as pa­la­vras do Mi­nistro da Edu­cação que, à bo­leia do feito des­por­tivo de Pi­chardo, se apressou a apre­sentá-lo como re­sul­tado do in­ves­ti­mento deste go­verno no des­porto. E não vale a pena porque não é ver­dade. Parte im­por­tante, e talvez de­ci­siva, da for­mação de Pi­chardo é alheia ao es­forço de in­ves­ti­mento na­ci­onal. E não vale a pena porque os nú­meros re­velam que Por­tugal é dos países da União Eu­ro­peia com mais baixo nível de in­ves­ti­mento e nú­mero de pra­ti­cantes. Facto que nega ao nosso País que os muitos atletas em po­ten­cial e ta­lento nas vá­rias mo­da­li­dades que de­ve­riam re­sultar da de­mo­cra­ti­zação da prá­tica des­por­tiva, a co­meçar pelo des­porto es­colar, fi­quem por re­velar. Não será por acaso que países como Cuba, su­jeito às con­di­ções de cerco e blo­queio, apre­sentem os re­sul­tados que se viram nos úl­timos jogos co­lo­cando esse país no lote das quinze na­ções com mais me­da­lhas de ouro e entre as vinte com me­lhores re­sul­tados glo­bais ob­tidos.



avante.pt/pt/2489/opinia

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