Medalhas
A tacanhez de argumentos e motivações para lá das desportivas que puxam para a polémica estéril o questionamento, não se sabe bem a quem, se o «ouro de Pichardo vale menos que o ouro de Rosa Mota», é isso mesmo, conversa barata.
Poder-se-ia deixar a coisa passar sem comentário ou situar a elucubração no estrito plano dos equilíbrios mentais que a suscitam. Assim não se fará porque a questão carece de um mínimo de sensatez e sobretudo de um apuro que a situe no plano da racionalidade.
A medalha de ouro de Pichardo, enquanto medalha, vale tanto quanto as de Rosa Mota, a de Nelson Évora, Fernanda Ribeiro ou Carlos Lopes valeram. Pichardo, enquanto atleta, não tem menos mérito desportivo que outros medalhados ou não medalhados. A medalha por ele obtida vale, em termos quantitativos, tanto para Portugal quanto todas as outras valeram. A questão é que neste caso não estamos a falar de um atleta fruto da política desportiva nacional mas da importação, por razões não desportivas, de alguém que outros formaram. E não se venha com a conversa da integração quando milhares que aqui trabalham estão por integrar e regularizar.
Mas não vale a pena iludir o óbvio. Não vale a pena tomar como boas as palavras do Ministro da Educação que, à boleia do feito desportivo de Pichardo, se apressou a apresentá-lo como resultado do investimento deste governo no desporto. E não vale a pena porque não é verdade. Parte importante, e talvez decisiva, da formação de Pichardo é alheia ao esforço de investimento nacional. E não vale a pena porque os números revelam que Portugal é dos países da União Europeia com mais baixo nível de investimento e número de praticantes. Facto que nega ao nosso País que os muitos atletas em potencial e talento nas várias modalidades que deveriam resultar da democratização da prática desportiva, a começar pelo desporto escolar, fiquem por revelar. Não será por acaso que países como Cuba, sujeito às condições de cerco e bloqueio, apresentem os resultados que se viram nos últimos jogos colocando esse país no lote das quinze nações com mais medalhas de ouro e entre as vinte com melhores resultados globais obtidos.
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