Um vestígio de obras portuguesas, uma cidade multicultural, um testemunho notável do intercâmbio de influências entre as culturas europeia e marroquina, assim é El Jadida.
El Jadida acolhe corridas de cavalo. Nesta imagem, Donia Gara, a campeã Tbourida ou Fantasia 2011 montada no seu cavalo.
A 90 quilómetros a sudoeste de Casablanca, situa-se a fortificação portuguesa de Mazagão ou Mazagan, agora parte da cidade de El Jadida. Construída no início do século XVI, como colónia fortificada na costa atlântica, foi assumida pelos marroquinos no ano de 1769. A partida dos portugueses, nesse ano, e o consequente abandono da cidade, levou à reabilitação por parte dos marroquinos, inclusive com o sultão Moulay Abderrahmane, em meados do século XIX, sendo então batizada de El Jadida (A Nova).
Os primeiros exemplos do projeto militar renascentista, encontram-se nesta fortificação, nos seus bastiões e muralhas. Entre os edifícios portugueses sobreviventes, encontram-se a cisterna e a Igreja da Assunção, ao estilo manuelino da arquitetura gótica tardia. O tecido histórico dentro da fortaleza reflete as diferentes mudanças e influências ao longo dos séculos.
Traços portugueses talhados pela cidade de El Jadida
Na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, a antiga padroeira da vila, estão ainda hoje guardadas lápides funerárias portuguesas. Alguns vestígios do antigo Palácio dos Governadores, no edifício atual da mesquita, estão também presentes.
As primeiras obras portuguesas foram edificadas por ordem do rei D. Manuel, começando pelo castelo, erguido em 1514, traçado por Diogo e Francisco de Arruda. D. João III considerou a obra pouco eficaz e, por isso, encomendou ao engenheiro italiano Benedetto de Ravena, o projeto de construção de uma cidade fortificada. A obra acabou por avançar com João de Castilho e João Ribeiro, sendo a fortaleza fundada em 1541, constituindo assim o primeiro exemplo de arquitetura militar europeia, erguida fora da Europa. O projeto acabou por influenciar, posteriormente, as praças portuguesas construídas no Norte de África.
A cidade recebe corridas e feiras de cavalos para promover o setor equestre do país.
A cidade portuguesa de Mazagão, em El Jadida, foi um dos primeiros assentamentos dos exploradores portugueses na África Ocidental, na rota para a Índia. Entre os locais ocupados pelos mesmos, este trata-se de um testemunho notável do intercâmbio de influências entre as culturas europeia e marroquina.
Património Mundial da UNESCO e uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa
Com uma população de cerca de 214 mil habitantes, é uma das cidades mais visitadas internacionalmente, estando classificada pela UNESCO como Património Mundial desde 2004, eleita como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, em 2009.
Atualmente, El Jadida é um centro comercial e uma sociedade multicultural, unindo muçulmanos, judeus e cristãos. Beneficia da beleza ímpar de uma baía natural, está mais bem preservada do que outras fortificações portuguesas em Marrocos, uma vez que a maioria dos demais entrepostos comerciais portugueses no mundo sofreram alterações.
El Jadida sempre foi uma cidade habitada e, apresentando todas as condições de autenticidade, justificou-se a sua inscrição na Lista do Património Mundial. Alguns dos monumentos foram reabilitados, aos quais foram atribuídas novas funções, compatíveis também no programa de salvaguarda integrado, do Ministério da Cultura.
A população de El Jadida está totalmente envolvida e preocupada com a conservação e apresentação deste património histórico marroquino-português. A fortaleza apresenta-se como um quadrilátero irregular, rematado por quatro frentes abaluartadas. Duas das suas faces estão viradas à costa e, outras duas, ao eixo terrestre.
Primeira fortificação deixava a cidade pouco protegida
De facto, a sua posição geográfica salientava o caráter iminente militar e defensivo da construção da cidade. Assegurando a sua robustez, o fosso da fortaleza permitia a entrada de embarcações através do sistema de comportas.
No interior da praça da cidade centravam-se vários serviços e equipamentos como hospital, vedoria, celeiros, armazéns, cisterna, chafariz, igrejas, ermidas e o palácio do governador. A cisterna, localizada no pátio interior da primitiva fortaleza, foi também construída por João Castilho, embora tenha sido concluída só em 1547, por Lourenço Franco.
O porto de El Jadida, no centro da cidade, é reservado à pesca, barcos de recreio e desportos aquática. O porto de Jorf Lasfar, 17 quilómetros ao sul da cidade, é o primeiro porto mineral da África, aberto ao comércio internacional desde 1982. Este é um dos elos da infraestrutura portuária de Marrocos.
El Jadida é conhecida também pela qualidade do sável e marisco. As praias são de mar calmo e as principais exportações da cidade são o feijão, as amêndoas, o milho, o grão-de-bico, a lã, as peles, a cera e os ovos. O algodão, o açúcar, o chá e o arroz são produtos importados.
O clima da cidade é geralmente agradável, sendo que de janeiro a abril a temperatura situa-se entre os 20 e 30 graus, embora em agosto possa escalar até aos 40 graus. A partir desse mês, a temperatura decai, até dezembro, atingindo os 20 graus.
O Município de Sintra assinou um protocolo de geminação com o município de El Jadida no ano de 1988, a 5 de outubro, com intuito de reforçar laços de amizade e desenvolver a cooperação económica e comercial, entre Portugal e Marrocos. O protocolo abrange a área comercial, industrial, turismo, cultura e desporto.
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