No Algarve, no concelho de Faro, Estoi é uma pequena localidade, com menos de quatro mil habitantes mas com uma grande riqueza arquitetónica: tem as casinhas típicas algarvias, um palácio de estilo rococó, totalmente recuperado e as ruínas romanas de Milreu. São estas algumas das atrações que chamam cada vez mais visitantes a Estoi. Já conhecem?
Considerada uma “Aldeia Monumento”, Estoi destaca-se por manter “vivos” vários estilos arquitetónicos e históricos: o Palácio de Estoi com o seu estilo rococó (que é atualmente uma charmosa pousada), as casas típicas do Algarve e ruínas romanas que provam a antiguidade das povoações neste local.
Antes de chegar ao centro de Estoi, e antes de ver à sua esquerda as ruínas de Milreu, já está a fazer uma espécie de viagem ao passado. Ao percorrer a rua central somos levados à fachada da Igreja Matriz, que se ergue no cimo de uma imponente escadaria. E à sua volta a vida leva-se sem correrias e com habitantes dispostos a responder a um “bom dia” ou “boa tarde”.
E o que pode visitar em Estoi? Depois de parar o carro, passeie pelas ruelas e, se quiser, pode ir visitar o Palácio e os seus jardins (e, se desejar, ficar lá alojado, uma vez que é uma pousada), sentar-se numa esplanada a conviver com os locais e visitar as ruínas romanas de Milreu, percebendo a importância deste território para povoações antigas.
Igreja Matriz de Estoi
De estilo neoclássico, estima-se que a Igreja Matriz de Estoi terá tido uma construção-base do século XV, mas a mesma terá desaparecido com o sismo de 1755. Depois, várias restaurações aconteceram no edifício e, foi no século XIX, que se tornou o edifício neoclássico que hoje exibe – uma obra da autoria do arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri.
Em redor da Igreja estão as típicas habitações algarvias – algumas mais bem conservadas que outras – e os largos ajardinados, com sombras de árvores, que ajudam a refrescar o corpo (e a alma!) nos dias quentes (muito quentes!!) de verão, no barrocal algarvio.
Há gente sentada nas esplanadas, crianças a andar de bicicleta, em redor de árvores, e sinto uma tranquilidade única nas ruas, enquanto os habitantes, sentados debaixo das árvores, põem a conversa em dia (com a distância de segurança imposta pela pandemia).
No centro de Estoi, há escadarias que nos fazem lembrar os bairros de Lisboa e é por lá que encontrámos painéis de azulejos com poemas: um atribuído a Jorge de Sena (“Metamorfoses” 1963), dedicado à “Cabecinha Romana de Milreu”*, e um outro dedicado à “Minha Aldeia”**, junto de uma fonte já antiga.
Ruínas Romanas de Milreu / Ruínas de Estoi
À entrada de Estoi, está a Vila Romana de Milreu que preserva inúmeros vestígios romanos. No século I D.C. este local foi um acampamento agrícola, mas depois, durante os séculos II e III, transformou-se numa vila romana de diferentes divisões: com casa senhorial, templo, balneários e um complexo termal. As ruínas de Milreu são a prova de com viviam os romanos, entre os séculos I e IV d.C., e onde se podem encontrar colunas, um tanque de água, pátios, mosaicos e jardins.
Devido à sua importância histórica, desde 1910, estão classificados como Monumento Nacional.
O complexo de ruínas de Milreu está junto no Cerro do Guelhim, na margem esquerda do Rio Seco, no sopé da Serra de Monte Figo. Mais informações aqui e aqui.
Como chegar:
A partir da A22 – Via do Infante, siga até à saída para Faro/São Brás de Alportel, em direcção a São Brás de Alportel/ Estoi, vira para Estoi, atravessa a ponte sobre o Rio Seco e encontra à esquerda a entrada para o Monumento.
O Centro de Interpretação e área parcial de visita ao Monumento tem acessibilidade para utentes de mobilidade reduzida.
Transporte público: Autocarros da Eva-Transportes
De Faro (duração da viagem aprox. 25 minutos): 9h00m/10h15m/13h35m/16h30m
Palácio de Estoi
A cerca de 20 minutos do centro de Faro, no Algarve, em Estoi, está uma das mais bonitas Pousadas onde já estive: a Pousada Palácio de Estoi é um Small Luxury Hotels of The World, destacando-se pela espetacular recuperação que foi feita de um antigo palácio do século XIX e por ser um dos poucos exemplos do estilo rococó nesta região. Além dessas singularidades, o luxuoso e charmoso alojamento vale também pelo seu restaurante e pela tranquilidade que a envolvente rural algarvia lhe imprime.
Nos salões do Palácio há um mobiliário clássico, pinturas nos tetos, espelhos grandes e antigos e lustres majestosos. A sua antiguidade espelha-se também nos azulejos que estão espalhados por vários cantos do edifício. Um desses cantos é a entrada para a sala de jantar, numa espécie de copa – mas onde se percebe que já foi a antiga cozinha, pelos fornos antigos que aí permaneceram – onde está escrito nos azulejos “Chávenas, Água fria e Água Quente”. Em dois cantos do jardim central do palácio, onde no meio está uma fonte, estão pequenas salas com janelas de vidros coloridos e outros azulejos antigos para conhecer.
Este palácio em Estoi, também conhecido como Palácio do Carvalhal, é tido como um dos melhores exemplos de estilo “Rococó”, do século XIX, presentes no Algarve. Os jardins do palácio são grandes e podem ser visitados mesmo por não hóspedes. Na parte de baixo, tem uma enorme fonte e muitas estátuas ladeadas por uma escadaria, decorada com azulejos*. No total, o palácio tem 23 salas (!) e cinco anexos, e reza a história que, neste local, já no século XVIII, existiam os jardins e uma pequena residência, que pertencia ao bispo de Faro. Saiba muito mais da sua história e o que visitar, aqui.
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*”Cabecinha Romana de Milreu” (Jorge de Sena “Metamorfoses” 1963)
Esta cabeça evanescente e aguda,
Tão doce no seu ar decapitado,
Do Império ostentoso nada tem.
Nos seus olhos vazios não se cruzam línguas,
Na sua boca as legiões não marcham,
Na curva doo nariz não há os povos
Que foram massacrados e traídos.
É uma doçura que contempla a vida,
Sabendo como, se possível, deve
Ao pensamento dar certa loucura,
Perdendo um pouco, e por instantes só.
A firme frieza da razão tranquila.
É uma virtude sonhadora: o escravo
Que a possuía às horas de tristeza
De haver um corpo, a penetrou jamais
Além de onde atingia: e quanto ao esposo,
Se acaso a fecundou, não pensou nunca
Em desviar sobre el’tão longo olhar.
Viveu, morreu, entre colunas, homens.
Prados e rios, sombras e colheitas,
E teatros e vindimas, como Deusa.
Apenas não o era, o vasto Império
Que os deuses todos tornou seus, não tinha
Um rosto para os deuses, e os humanos,
Para que os deuses fossem, emprestavam
O próprio rosto que perdiam. Esta
Cabeça evanescente resistiu:
Nem deusa nem mulher, apenas ciência
De que nada nos livra de nós mesmos.
**”Minha Aldeia”
LABUTA, sempre atrás do gado manso,
Afeita aos sóis e às chuvas invernosas,
Neste amanho de beiras trabalhosas,
Onde se viu maior desembaraço?!
Seis dias continuados de cansaço
Dão-lhe gramíneas e leguminosas;
Seu quintal de gerânios e de rosas
Quando o sétimo chega pró descanso…
Num sgredinho murmurou de fontes
Conversa então co’os cerros, com os montes
Que, em volta, ela de amores estonteia…
Ingénua, alegre e fresca, ao ar lavado,
Com a rosa do sol no penteado,
Como é beo ao Domingo, a minha aldeia!
Autor: assinatura ilegível
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