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sábado, 16 de outubro de 2021

A professora que alfabetizou 20 mil homens e mulheres negras ensinando-lhes, no processo, a Constituição


 


 
A professora que alfabetizou 20 mil homens e mulheres negras ensinando-lhes, no processo, a Constituição. Considerada uma mulher brilhante nas história dos Estados Unidos. Mary foi responsável por boa parte da estruturação da educação para negros no país do Tio Sam.
Mary McLeod nasceu em 1875, na cidade de Mayesville, Carolina do Sul, Estados Unidos. Filha de um casal liberto da escravidão e irmã de mais 16 pessoas, Mary ajudava a mãe a lavar roupas na casa de brancos. Um dia, com 12 anos, ela adentrou na casa de uma das clientes de sua mãe e apanhou um livro da estante, logo foi repreendida pela filha da dona da casa, que disse: “Você é negra, negros não sabem ler”.
Naquele momento, Mary percebeu que a coisa mais importante que desigualava brancos e negros era a alfabetização. Era final do século XIX e poucas salas no sul dos Estados Unidos aceitavam negros, McLeod pressionou a família para matriculá-la em uma sala de aula apenas para negros na Trinity Mission School, instituição dirigida pela ordem religiosa Presbiteriana. A família permitiu, mas a orientou a se virar, por serem humildes, seus pais não puderam proporcionar boas condições para que ela estudasse. Mary caminhava 16 km todos os dias para chegar à escola. Em pouco tempo, ensinou os pais e os irmãos a ler e a escrever, os membros da família foram os primeiros a experimentarem a vocação educadora de Mary.
Por se destacar como melhor aluna da escola, Mcleod conseguiu uma bolsa de estudos Instituto Dwight L. Moody, uma instituição religiosa que formava missionários e professores. Docente formada, iniciou sua carreira alfabetizando negros em fazendas e periferias americanas, de casa em casa, Mary levava a magia da leitura e escrita para os excluídos da sociedade americana. Foi a partir desse trabalho que ela ingressou na luta pelos Direitos Civis dos Negros, sendo uma das primeiras mulheres a organizar movimentos contínuos contra as leis Jim Crow (leis que garantiam a segregação racial).
Mary formava e orientava seus alunos a se movimentarem para transformar o status quo da sociedade, levou muitos alunos para tirarem documentos, ensinava matemática financeira e sobre a história da escravidão.
Muito influente entre os líderes políticos e religiosos batistas e metodistas, Mary conseguiu arrecadar fundos para abrir uma escola particular para afro-americanos em Daytona Beach. O colégio atingiu excelentes notas no ranking das melhores escolas da Carolina do Sul e, mais tarde, se transformou na Universidade Bethune-Cookman, uma das primeiras instituições educacionais a abolir a segregação entre negros e brancos. Além do trabalho na escola e universidade, Mary conseguiu licença para lecionar dentro de presídios, alfabetizando os internos e os encaminhando para o mercado de trabalho.
Mas o maior destaque na vida dessa grande heroína foi a contribuição que deu à luta pelos Direitos Civis dos Negros. Mary foi participante ativa de protestos contra o racismo institucional e escreveu manifestos sintetizando as reivindicações da causa. Através de sua influência, pressionou deputados e senadores. McLeod debatia face a face com os homens e mulheres mais racistas do poder político americano. Foi tão importante para as reivindicações dos afro-americanos que passou a ser chamada de “Primeira Dama da Luta”.
A consagração como porta voz do movimento negro viria no início dos anos 40, quando foi nomeada conselheira sobre assuntos raciais de Franklin Delano Roossevelt, o presidente americano procurava acalmar as tensões raciais nos Estados do Sul.
Estima-se que, em toda sua vida, Mary tenha ensinado mais de 20 mil pessoas a ler, se contarmos o legado e o número de professores alfabetizadores que formou, o número de pessoas influenciadas por seus ensinamentos é incontável.
O The New York Times colocou Mary McLeod Bethune na lista das 10 maiores mulheres estadunidenses da história. Seu nome também figura no Hall da Fama das Mulheres Americanas.
Mary morreu de tuberculose, aos 79 anos, em 1955, mesmo ano em que Rosa Parks, uma costureira de Montgomery, se recusou a levantar de um assento de ônibus para um branco sentar, fato que desencadeou a maior luta da história do Movimento pelos Direitos Civis dos Negros, nos Estados Unidos. Mary não presenciou o fato, mas, certamente, seu legado contribuiu decisivamente para a formação e consolidação das ideias que levaram o movimento negro a desafiar e derrotar parte da ordem institucional racista vigente nos Estados Unidos até a década de 1960.

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