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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A PROPÓSITO DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2022 - A resposta de que o País precisa

 




A PROPÓSITO DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2022

A resposta de que o País precisa

O País pre­cisa de res­postas para os pro­blemas que en­frenta. Res­posta à al­tura da di­mensão desses pro­blemas. Em 2015 co­locou-se o ob­jec­tivo da in­ter­rupção de um per­curso de des­truição de di­reitos. O PCP as­sumiu o ob­jec­tivo de abrir con­di­ções e pers­pec­tivas não só de o in­ter­romper como de iden­ti­ficar um ca­minho de de­fesa e re­po­sição de di­reitos e ren­di­mentos. Um ca­minho que se sabia li­mi­tado, tendo em conta as pa­tentes di­fe­renças em do­mí­nios e op­ções cru­ciais entre o PS e o PCP. Mas, mesmo assim, um per­curso va­lo­ri­zável tendo em conta o que era cen­tral al­cançar no tempo mais ime­diato.

A epi­demia exigiu também res­postas a que o PCP não faltou com sua in­ter­venção em as­pectos de­ci­sivos.

Pas­sada a epi­demia, posta em evi­dência pelo avo­lumar de pro­blemas a res­posta de que o País pre­cisa, não se pode adiar o que é ina­diável.

Há re­cursos e pos­si­bi­li­dades. Nin­guém per­ce­berá que não haja von­tade po­lí­tica para dar si­nais claros de um ca­minho di­fe­rente para en­frentar as ques­tões de de­sen­vol­vi­mento do País e de ele­vação efec­tiva das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo.

O que está em causa neste mo­mento é saber se há ou não a res­posta aos pro­blemas do País. Não é subs­ti­tuir esta questão es­sen­cial pela dis­cussão sobre se há ou não há um qual­quer or­ça­mento, in­de­pen­den­te­mente do seu con­teúdo. Ou subs­ti­tuir a abor­dagem ne­ces­sária sobre a res­posta aos pro­blemas pela pre­ci­pi­tação de uma dis­cussão sobre ce­ná­rios po­lí­ticos.

O de­bate do Or­ça­mento do Es­tado tem de se in­serir nessa res­posta global tão ne­ces­sária quanto ina­diável. O Or­ça­mento tem um valor pró­prio mas é – tem de ser – ex­pressão e tra­dução dessas op­ções. Op­ções que si­na­lizem em con­creto, e em me­didas e com­pro­missos con­cretos, essa pers­pec­tiva de um ca­minho di­fe­rente capaz de pre­en­cher ob­jec­tivos cen­trais dessa po­lí­tica.


É pre­ciso um de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial sus­ten­tado. Ob­jec­tivo em que o au­mento geral dos sa­lá­rios se afirma como emer­gência na­ci­onal

O au­mento geral dos sa­lá­rios para todos os tra­ba­lha­dores é uma questão de­ci­siva para o fu­turo do País. Para travar a saída de mi­lhares de tra­ba­lha­dores para o es­tran­geiro, para ga­rantir o po­vo­a­mento do ter­ri­tório na­ci­onal, para fixar e captar mão-de-obra (in­cluindo a mais qua­li­fi­cada), para dis­tri­buir me­lhor a ri­queza, para au­mentar o poder de compra e es­ti­mular a eco­nomia, para alargar as re­ceitas do Es­tado e da Se­gu­rança So­cial, para apro­ximar, em vez de di­vergir, face a ou­tros países da Eu­ropa, os sa­lá­rios têm de au­mentar. Um ob­jec­tivo que re­quer a fi­xação do Sa­lário Mí­nimo Na­ci­onal (SMN) nos 850 euros no curto prazo, e re­clama au­mentos na Ad­mi­nis­tração Pú­blica que ga­rantam uma efec­tiva re­cu­pe­ração do poder de compra per­dido e a va­lo­ri­zação das car­reiras.

No plano da le­gis­lação la­boral, exige-se a re­vo­gação das normas gra­vosas com o que com­portam em si mesmas de factor de com­pressão de sa­lá­rios, de li­qui­dação de di­reitos e de blo­queio ao de­sen­vol­vi­mento do País. Re­pondo o prin­cípio do tra­ta­mento mais fa­vo­rável, re­vo­gando a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva, com­ba­tendo a fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos, a pre­ca­ri­e­dade e a des­re­gu­lação dos ho­rá­rios.


Impõe-se in­verter a quebra de­mo­grá­fica, pro­mover a na­ta­li­dade, ga­rantir os di­reitos dos pais e das cri­anças

O País está a en­ve­lhecer a um ritmo pre­o­cu­pante, como provam os mais re­centes dados. É pre­ciso ga­rantir aos jo­vens ca­sais es­ta­bi­li­dade na ha­bi­tação, cre­ches gra­tuitas para todas as cri­anças em 2022. É ne­ces­sário lançar a cons­trução de uma rede pú­blica, ga­rantir a es­ta­bi­li­dade la­boral e ho­rá­rios re­gu­lados para que possam de­cidir ter fi­lhos.

É pre­ciso repor a uni­ver­sa­li­zação do abono de fa­mília. A de­cisão de ter fi­lhos não se pode cons­ti­tuir num factor de risco de po­breza ou de acres­cidas di­fi­cul­dades eco­nó­micas.

A ha­bi­tação e os trans­portes as­sumem também um papel de­ci­sivo. É pre­ciso re­vogar a Lei das Rendas, re­gular preços e dar es­ta­bi­li­dade aos con­tratos de ar­ren­da­mento. É pre­ciso du­plicar os ac­tuais ob­jec­tivos de dis­po­ni­bi­li­zação de ha­bi­tação pú­blica (ava­liada em mais de 50 mil casas), uti­li­zando os meios dis­po­ní­veis do PRR (con­si­de­rados para a cons­trução de 26 mil) e a ca­pa­ci­dade pró­pria do Es­tado para res­ponder às res­tantes ca­rên­cias. É pre­ciso também avançar no sen­tido da pro­gres­siva gra­tui­ti­dade dos trans­portes pú­blicos, de­sig­na­da­mente alar­gando a gra­tui­ti­dade até aos 18 anos em 2022, e in­vestir for­te­mente no alar­ga­mento da oferta em todo o ter­ri­tório na­ci­onal, rom­pendo com a de­pen­dência do trans­porte in­di­vi­dual e fa­zendo da pro­moção do trans­porte pú­blico uma das mais im­por­tantes me­didas de ca­rácter am­bi­ental.


É pre­ciso com­bater a po­breza entre os idosos, va­lo­rizar quem tra­ba­lhou

É pre­ciso va­lo­rizar as pen­sões de re­forma e pôr fim aos cortes que per­sistem no valor das pen­sões nas longas car­reiras con­tri­bu­tivas, as­se­gu­rando a re­forma por in­teiro com 40 ou mais anos de des­contos e re­pondo a idade da re­forma nos 65 anos. A par do au­mento das re­formas mais baixas, tem de se ini­ciar um ca­minho de efec­tiva re­cu­pe­ração do poder de compra per­dido ao longo destes anos de todas as re­formas com valor su­pe­rior a 1 IAS e meio – 658 euros. Ob­jec­tivo que deve ter ex­pressão em Ja­neiro de 2022 com um au­mento de 1,8% – con­ju­gando a in­flação pre­vista para 2021 e 2022 – com ga­rantia mí­nima de 10 euros. É pre­ciso criar con­di­ções para que o au­mento da es­pe­rança média de vida não seja um pro­blema, nem para os idosos, nem para as fa­mí­lias, sendo fun­da­mental a cons­trução de uma rede pú­blica de lares e o au­mento do in­ves­ti­mento nos cui­dados da po­pu­lação mais idosa.


É pre­ciso de­fender e re­forçar o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde en­quanto ga­rantia do di­reito à saúde

do povo por­tu­guês

Ob­jec­tivo que re­clama como con­dição cru­cial a va­lo­ri­zação das car­reiras (em al­guns casos re­pondo car­reiras que foram ex­tintas), re­mu­ne­ra­ções e in­cen­tivos dos pro­fis­si­o­nais de saúde, que con­tribua para a sua fi­xação e de­di­cação plena ao SNS. Esta é a grande ta­refa de­pois da epi­demia. Para além dos in­ves­ti­mentos em infra-es­tru­turas e equi­pa­mentos, a questão de­ci­siva que se co­loca ao SNS é a da sua ca­pa­ci­dade de travar a saída, fixar e atrair pro­fis­si­o­nais, é isso que per­mite o au­mento da ca­pa­ci­dade pró­pria do SNS para as­se­gurar mé­dico e en­fer­meiro de fa­mília, tal como exames, tra­ta­mentos, ci­rur­gias e con­sultas.

Em con­creto, impõe-se ga­rantir uma ma­jo­ração sa­la­rial mí­nima de 50% a partir de Ja­neiro para os pro­fis­si­o­nais que optem pela de­di­cação plena. São ne­ces­sá­rios ou­tros in­cen­tivos, como a con­ta­bi­li­zação dos anos de exer­cício em de­di­cação plena – ma­jo­rando em 25% cada ano – para uma mais rá­pida pro­gressão na car­reira, assim como o justo e ade­quado pa­ga­mento das horas ex­tra­or­di­ná­rias. Impõe-se igual­mente a ne­ces­sária re­cu­pe­ração da total au­to­nomia de cen­tros hos­pi­ta­lares, uni­dades de saúde fa­mi­liar e cen­tros de saúde e para con­tra­tação de pro­fis­si­o­nais e in­ves­ti­mentos pre­vistos nos or­ça­mentos.


É pre­ciso de­fender e va­lo­rizar os ser­viços pú­blicos para que res­pondam às ne­ces­si­dades das po­pu­la­ções e à co­esão ter­ri­to­rial

A par do in­ves­ti­mento em equi­pa­mentos ou edi­fí­cios, é pre­ciso criar con­di­ções para fixar e va­lo­rizar pro­fis­si­o­nais, en­fren­tando a sério a questão das car­reiras e sa­lá­rios, em es­pe­cial na edu­cação, ga­ran­tindo a vin­cu­lação e a cri­ação de in­cen­tivos à fi­xação de pro­fes­sores na es­cola pú­blica para os mi­lhares de pro­fes­sores des­lo­cados, en­quanto con­dição para a de­fesa da es­cola pú­blica. Áreas como as forças e ser­viços de se­gu­rança, a jus­tiça, a Se­gu­rança So­cial e ou­tros sec­tores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica re­clamam ur­gente con­si­de­ração. O País não pode ver os seus ser­viços pú­blicos a en­cerrar ou des­pro­vidos de meios e tem de re­forçar subs­tan­ci­al­mente a sua in­ter­venção em áreas fun­da­men­tais para a so­ci­e­dade, como a cul­tura e o des­porto.


É pre­ciso mais jus­tiça fiscal, mais meios para fazer o que é pre­ciso

É pre­ciso de­sa­gravar a tri­bu­tação sobre os ren­di­mentos mais baixos e in­ter­mé­dios (IRS), tal como dos im­postos in­di­rectos – de que o IVA a 23% sobre a elec­tri­ci­dade é um exemplo –, e en­frentar, de facto, os pri­vi­lé­gios fis­cais do grande ca­pital, em vez de os manter, como pre­tende o Go­verno. Ob­jec­tivo que se al­cança pelo au­mento do mí­nimo de exis­tência e da de­dução es­pe­cí­fica fi­xando, no caso do mí­nimo de exis­tência, um valor de 200 euros acima da re­fe­rência do SMN e au­mento igual­mente em 200 euros da de­dução es­pe­cí­fica. A pers­pec­tiva de ar­re­ca­dação de re­ceita fiscal que o Go­verno di­vulgou sobre a sua pro­posta de en­glo­ba­mento obri­ga­tório – 10 mi­lhões de euros – é re­ve­la­dora de que só com a am­pli­tude que o PCP sempre de­fendeu – en­glo­ba­mento obri­ga­tório de todos os ren­di­mentos acima dos 100 mil euros – é que esta me­dida po­derá ter algum sig­ni­fi­cado no ca­minho da jus­tiça fiscal que de­fen­demos.


É pre­ciso di­na­mizar a ac­ti­vi­dade eco­nó­mica, va­lo­rizar a pro­dução na­ci­onal, apoiar as micro, pe­quenas e mé­dias em­presas

O País pre­cisa de re­cu­perar sec­tores como os cor­reios, a energia, os trans­portes ou as te­le­co­mu­ni­ca­ções, em vez de con­ti­nuar a as­sistir à saída, todos os anos, de muitos mi­lhões de euros para o es­tran­geiro, in­cluindo para pa­raísos fis­cais. Os sec­tores es­tra­té­gicos pre­cisam de estar ao ser­viço do apa­relho pro­du­tivo, das MPME, do País.

www.avante.pt

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