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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Um atalho sem saída?



«O encontro [MEL] coincide com a a abertura cada vez mais clara de Rui Rio a Ventura. Os que querem uma direita mais dura, mas capaz de governar, percebem que o voto no Chega não é perdido. Os que, querendo uma alternativa ao PS, não querem um governo que dependa de Ventura, percebem que o PSD não lhes dá essa garantia. Rui Rio perde a direita e o centro» (Daniel Oliveira, A direita na sua bolha).

A dificuldade em apresentar um programa político distintivo e consistente (de rutura com a linha austeritária de Passos e que ao mesmo tempo não se preste a confusões com o PS), foi alimentando no PSD a tentação aritmética de aproximação à Iniciativa Liberal (IL) e ao Chega, como forma de alcançar, com o CDS-PP, uma maioria à direita capaz de derrubar a esquerda em eleições.

Este projeto - assumido como a única forma de regresso ao poder e que constitui, nessa medida, uma espécie de atalho político - prenuncia uma «avantesma» bem mais esquisita que a PAF e assenta no pressuposto de que os novos partidos à direita apenas servem para somar percentagens. Ou seja, que numa eventual aliança pós-eleitoral o peso político da IL e Chega não condiciona, em termos de exigências mais radicais (e para lá das zonas de convergência), a linha convencional de governação à direita.

Contudo, o que PSD e CDS-PP parecem não estar a perceber é que a «nova direita» está numa clara tendência de crescimento desde as legislativas de 2019, e em particular desde dezembro de 2020 (ver gráfico). De facto, se em outubro de 2019 a IL e o Chega representavam cerca de 3% das intenções de votos (e cerca de 10% do total de votos à direita), em maio de 2021, de acordo com a Intercampus, estes partidos representam já 14% das intenções de voto (e cerca de 34% do universo das intenções de voto nos partidos à direita).

Tudo isto enquanto, à esquerda, PS, BE e PCP praticamente mantém o peso eleitoral conjunto obtido em outubro de 2019 (passando dos 53% obtidos nessa data para intenções de voto a rondar os 52% em maio de 2021), sem que as novas formações políticas neste campo do espetro partidário - PAN e Livre - registem uma dinâmica de crescimento idêntica à do Chega e IL, bem pelo contrário.

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