A necessidade de convergência à direita dividiu hoje representantes de PSD, CDS-PP e Chega, num debate em que se falou da “orfandade” em relação a Passos Coelho e ao “sapo” que representa o partido liderado por André Ventura.
No painel da convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL) sobre “A necessidade de convergência à direita e ao centro”, e com o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na primeira fila, foi o antigo candidato à liderança do PSD Miguel Pinto Luz que o trouxe para o palco da discussão.
“Hoje estamos a falar de convergência simplesmente porque Pedro Passos Coelho deixou de ser líder do PSD”, afirmou o vice-presidente da Câmara de Cascais, considerando que novos partidos como Chega e Iniciativa Liberal nasceram da “orfandade” deixada pelo antigo primeiro-ministro.
Pinto Luz considerou que a discussão sobre a necessidade de convergência à direita é “extemporânea”, defendendo que o importante é a “reorganização” interna dos partidos de centro-direita, a que aponta “falta de liderança”.
“Não tenho dúvidas que Rui Rio seria muito melhor primeiro-ministro do que António Costa, a verdade é que não tem adesão popular, não é entendido como uma verdadeira alternativa. E em democracia sem ganhar eleições não se consegue mudar o rumo de país”, afirmou, prevendo que esta é uma questão que “a democracia interna” do PSD - que tem eleições internas em janeiro de 2022 - “resolverá em breve”.
Antes, o antigo deputado social-democrata Miguel Morgado disse não querer discutir lideranças partidárias e voltou a defender a necessidade de uma “federação das direitas”, que unisse os vários partidos deste espaço político numa alternativa à governação socialista em torno de dois eixos: reformismo e europeísmo.
“Toda a gente sabe que este projeto é indispensável, mais cedo ou mais tarde, com estes protagonistas ou com outros”, defendeu Morgado, reconhecendo que “os últimos tempos não têm sido famosos” para a aceitação da sua proposta de federar as direitas.
A deputada do CDS-PP Cecília Meireles, outra das participantes no painel, defendeu que “a direita tem de sair do divã” e “parar de se discutir a ela própria” e começar a discutir “o que quer para o país, de forma direta e clara”.
“Senão é um enorme frete que estamos a fazer ao PS”, alertou, defendendo que esse trabalho tem de ser feito, primeiro, dentro de cada partido.
A deputada lançou alguns pontos que podem ser de convergência neste espaço político, como a valorização do mérito e a igualdade de oportunidades, e criticou que nem sempre a direita seja clara na defesa das reformas que fez no passado.
“Há uma ou duas semanas, foi aprovada a reversão de uma reforma feita em 2013, a reforma das freguesias. Daqui a meio ano vamos assistir à criação de centenas de freguesias com beneplácito de várias forças à direita, só o CDS-PP votou contra”, lamentou.
O vice-presidente do Chega Nuno Afonso alinhou com a tese de Miguel Morgado, de que a convergência entre os partidos da direita vai ter de ser feita “mais cedo ou mais tarde”.
“Ouço o presidente da Iniciativa Liberal e o presidente do PSD dizer que não faz governo com o Chega. É estar a alimentar o sapo que mais cedo ou mais tarde vão ter de engolir”, vaticinou.
Pinto Luz, que se tinha referido ao Chega como o “elefante na sala” e um “partido de protesto”, reconheceu que André Ventura é “um líder carismático”, mas que “não tem apresentado muitas ideias para o país”.
O quinto participante deste painel, Joaquim Aguiar, antigo assessor político da Casa Civil dos Presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares, defendeu a necessidade de os partidos criarem “plataformas interpartidárias, alianças” para que os eleitores possam escolher, mas apelou a que não se esqueçam do papel do chefe do Estado.
“O Presidente da República não está lá para condecorar atletas e heróis, está lá para que o país seja governável”, defendeu.
SMA // SF
Lusa/fim
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