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Numa manifestação com cerca de centena e meia de apoiantes do Chega, junto à residência oficial do primeiro-ministro, criticando as restrições decretadas pelo Governo para controlar a pandemia por estarem "a matar o país", um segurança do partido impediu um repórter fotográfico do Expresso de prosseguir o seu trabalho. Isso aconteceu à frente de André Ventura, que ignorou o ato. E aconteceu por duas vezes: a primeira perto do púlpito onde o líder do Chega discursava, a segunda quando Ventura se aproximava dos manifestantes - quando o jornalista foi agarrado por outro segurança que o retirou do local à força, onde estava a tirar fotografias.
Este não é um ato isolado: há pouco mais de um mês, no congresso do Chega, um jornalista também do Expresso foi ameaçado diretamente por um militante e delegado do partido. Essas ameaças - físicas e por palavras - foram não só presenciadas por outros delegados, como comunicadas à direção do partido.
Antes disso, na campanha das presidenciais, indivíduos afetos à candidatura de Ventura hostilizaram jornalistas e repórteres de imagem, num jantar comício em Braga, após ser noticiado que estavam ali reunidas cerca de 160 pessoas durante o confinamento geral. As tentativas de agressão foram, então, condenadas pela Comissão da Carteira de Jornalistas, uma vez mais sem reação da direção do partido.
Na concentração desta sexta-feira, promovida pelo partido, alguns dos participantes estavam sem máscara e muitos não cumpriam o distanciamento físico recomendado, tendo havido também cumprimentos com abraços e beijos na face, apesar das recomendações em contrário das entidades de saúde devido à disseminação do novo coronavírus.
Os manifestantes tinham cartazes que foram sendo distribuídos com palavras de ordem como "liberdade", "Governo para a rua", "restrição não" ou "Costavírus, a doença que está a matar Portugal".
A manifestação foi tensa: enquanto esperavam pela chegada do presidente do partido, uma das manifestantes (que não usava máscara) subiu ao estrado onde estavam o microfone colocado para os discursos e tentou queimar uma máscara cirúrgica com um isqueiro, alegando ser "plástico, só faz mal", mas foi interrompida por um homem, que lhe retirou a proteção da mão.
Nota da direção do Expresso: No último congresso do Chega, quando um jornalista do Expresso foi direta e pessoalmente ameaçado por um militante do partido perante a passividade de outros delegados e a indiferença da direção do partido, o Expresso decidiu não reagir, admitindo que tal fosse um ato isolado e irrepetível. Infelizmente, isso aconteceu uma vez mais, agora com um repórter fotográfico deste jornal. Assim, a direção do Expresso não só lamenta expressamente a interferência direta do partido face à liberdade de expressão consagrada na Constituição, como se reserva ao direito de acionar os mecanismos previstos na lei caso perante estes ou futuros casos.
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