Política económica e antifascismo
A antipatia pelos gastos do governo, seja com investimento ou consumo público, é superada pela concentração de gastos públicos em armamentos. Finalmente, “disciplina nas fábricas” e “estabilidade política” em regime de pleno emprego são mantidas pela “nova ordem”, que vai desde a supressão dos sindicatos até aos campos de concentração.
A pressão política substitui a pressão económica do desemprego (...) O fascismo surgiu na Alemanha contra um fundo de enorme desemprego, manteve-se no poder pela garantia de pleno emprego, enquanto a democracia capitalista não conseguiu fazê-lo.
A luta das forças progressistas pelo emprego é, ao mesmo tempo, um meio de impedir o retorno do fascismo.
No seguimento da ideia, defendida por Zachery Carter, de que a economia keynesiana deve ser historicamente concebida como uma defesa contra o fascismo, lembrei-me destas passagens do meu artigo favorito de história da economia política, aspectos políticos do pleno emprego, escrito por Michal Kalecki em 1943; um economista polaco que fez a ponte entre Marx e Keynes em Cambridge.
A história económica quantitativa mais recente de resto sublinha a relação entre austeridade, necessariamente recessiva e destruidora de emprego, e ascensão do nazismo, por exemplo.
Nesse mesmo ano de 1943, não há coincidências, Abba Lerner, um economista de origem russa radicado nos EUA, apresentou a ideia das finanças funcionais, articulando a necessidade de ganhar a guerra com o objectivo de combater a insegurança económica por via do pleno emprego: os défices orçamentais são aí o que devem ser, uma variável puramente endógena.
A Economia, uma área propositadamente desmemoriada, ganharia em recuperar estas tradições, de resto com os seus cultores resistentes ainda nas margens. O centro não se sustenta...
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