No dia 5 de maio, a advogada Suzana Garcia, candidata do PSD (com o apoio do CDS-PP) à presidência da Câmara Municipal da Amadora nas próximas eleições autárquicas, publicou um artigo de opinião no jornal "Observador", com o seguinte título: "Um extermínio mais do que desejável".

Em grande parte do texto refere-se a problemas locais do concelho da Amadora, nomeadamente ao nível da estruturas de saúde e transportes públicos. Nesse âmbito destaca mais especificamente o bairro Cova da Moura, escrevendo: "Na estação ferroviária de Santa Cruz-Damaia, a entrada superior, que dá acesso ao bairro da Cova da Mouraestá encerrada por questões de segurança há 10 anos. Permanece abandonada e vandalizada. Uma população de cerca de 5.000 pessoas sem acesso próximo ao comboio. Muitos trabalhadores e residentes do bairro ignorados há 10 anos. Pessoas trabalhadoras, que se levantam de madrugada cedo, e estudantes que chegam de Lisboa já tarde, pessoas com mobilidade condicionada, obrigadas a percorrerpor uma encosta íngremeuma distância física de cerca de dois quilómetros. Tudo isto enquanto têm uma entrada cancelada junto ao seu bairro".

O Polígrafo deslocou-se até ao local e identificou três acessos a partir da estação ferroviária de Santa Cruz-Damaia. O primeiro, na rua Fontes Pereira de Melo, estava aberto. O acesso secundário, para a rua António Aleixo, também estava aberto. Quanto ao último, mais próximo do bairro Cova da Moura, estava mesmo encerrado.

Contudo, entre o acesso secundário (aberto) e o acesso para o bairro Cova da Moura (fechado) distam cerca de 300 metros (pode conferir na aplicação Google Maps).

Nadir, residente no bairro Cova da Moura, com 28 anos de idade, diz ao Polígrafo que há mais de um ano que aquele acesso à estação ferroviária está encerrado. "Há mais de um ano que está assim. Tenho um filho na escola e antigamente ia sempre por ali. A distância entre as duas entradas não é muitamas facilitava bastante o caminho", sublinha.

Por sua vez, Ana, outra residente, com 56 anos, aponta no mesmo sentido: "Costumo apanhar o comboio e essa entrada já está fechada há mais de um ano. É muita diferença. Para quem tem dificuldades e mobilidade reduzida, tem de se dar uma volta bastante grande. Às vezes, esquecemo-nos de que está fechada e temos de voltar para trás".

Segundo nos conta Ana, desde o acesso encerrado até à sua casa, no alto da Cova da Moura, são cerca de 20 minutos a pé. Se a entrada estivesse aberta e em funcionamento, eram menos 300 metros que os moradores tinham de percorrer.

É verdade que o acesso está fechado, mas não há 10 anos, como escreveu Suzana Garcia. Por outro lado, embora facilitasse o acesso ao bairro, não obriga "a percorrer, por uma encosta ígreme, uma distância física de cerca de dois quilómetros". Desde logo porque são apenas 300 metros desde o acesso secundário que permanece aberto.

De resto, a partir do acesso secundário, mesmo para quem more no extremo oposto do bairro Cova da Moura, a distância total não chega sequer a um quilómetro (pode conferir na aplicação Google Maps).

Questionada pelo Polígrafo, a Infraestruturas de Portugal esclarece que "a Passagem Superior para Peões (PSP) em causa, um dos acessos à estação ferroviária da Amadora pelo bairro Cova da Moura, está encerrada por razões de higiene e segurança desde o final de maio de 2020". Ou seja, há menos de um ano.

A decisão de encerrar o acesso foi tomada "em articulação com a Câmara Municipal da Amadora, no seguimento das inúmeras queixas e reclamações" que reportaram "incidentes associados aos problemas de consumo de estupefacientes entre outros, causando graves problemas de segurança para os utentes da estação e de limpeza e manutenção da infraestrutura", o que levou à "intervenção da Polícia de Segurança Pública em várias destas ocorrências".

Na resposta ao Polígrafo, a Infraestruturas de Portugal informa ainda que está a "desenvolver um projeto para alteração/beneficiaçãodo acesso, "com vista a reformular a referida infraestrutura, no sentido evitar a ocorrência destas situações". O início da obra está previsto para o ano de 2022.

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Avaliação do Polígrafo:

FALSO
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