"Depois? /Depois eu ligo /Depois eu faço /Depois eu falo / Depois eu mudo / Depois eu passeio / Depois eu viajo / Deixamos tudo para depois, como se depois fosse o melhor / O que não entendemos é que / Depois o café esfria / Depois a prioridade muda / Depois o encanto se perde / Depois o cedo fica tarde / Depois a saudade passa / Depois tanta coisa muda / Depois os filhos crescem / Depois a gente envelhece / Depois o dia anoitece / Depois a vida acaba", pode ler-se no poema, atribuído a António Lobo Antunes. 

Na publicação original não é referida a data do poema nem a que obra pertence.

Será verdade?

Contactada pelo Polígrafo, a D. Quixote, editora de António Lobo Antunes, assegura que "o poema em causa não é da autoria do escritor". De facto, o poema parece estar escrito em português do Brasil, como se pode verificar pelo vocábulo "esfria" em vez do comummente utilizado "arrefece".

O texto atribuído ao escritor português está também associado a outros autores, com mais ou menos variações. Por exemplo, numa página de letras de música, é atribuído a Mário Quintana, poeta brasileiro do séc. XX, e a um autor desconhecido, David Alves. 

Na obra de Quintana, contudo, não há qualquer menção a esse texto. Existe um de temática semelhante, intitulado "Seiscentos e Sessenta e Seis", embora substancialmente diferente.

Também Pitty, uma artista brasileira de rock, utilizou versos do poema para o tema "Semana Que Vem". No Youtube, vários internautas gravaram vídeos a declamar o poema e em nenhum momento António Lobo Antunes é referido.

É comum surgirem nas redes sociais citações erradamente atribuídas a diversos autores. A frase "os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente pela mesma razão” tem sido recorrentemente atribuída a Eça de Queiroz, algo que o Polígrafo desmentiu num fact-check.

Em suma, embora não seja possível identificar a origem do texto, é seguro concluir que não é da autoria do escritor e médico português.

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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

Na escala de avaliação do Facebookeste conteúdo é:

Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações "Falso" ou "Maioritariamente Falso" nos sites de verificadores de factos.

Na escala de avaliação do Polígrafoeste conteúdo é:

FALSO
International Fact-Checking Network