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sábado, 27 de novembro de 2021

José Borralho - O CANTE


 José Borralho in facebook


O CANTE

TESE
“Donde veio o cante alentejano – A hipótese mais significativa é a que nos aponta a vila de Serpa como terra onde se organizou o cante Alentejano, pelo seguinte. As escolas de polifonia clássica do século XV, em Évora foram frequentadas por alguns frades da Serra de Ossa. Alguns destes mesmos frades foram mandados para Serpa onde fundaram o convento dos paulistas e Escolas de Cante Popular. Deve ter sido dessas escolas que saiu o cante alentejano.”
Padre António Marvão.

ANTÍTESE
Se partimos de uma hipótese de trabalho para dela retirar conclusões, o mínimo que se exige de quem formula a hipótese é que, apresente provas que a credibilizem, para que ela venha a tornar-se em tese. Ora, sem negarmos a possível existência das escolas populares de cante em Serpa, estamos perante meras especulações. Nada faz prova da existência das escolas de cante popular como propulsoras de um novo modo de cantar no Baixo Alentejo, reduzindo esse fenómeno cultural que é o cante de um povo, à boa vontade e ao trabalho de uns quantos frades vindos de fora, cuja acção se pretende decisiva.

SÍNTESE
A cultura popular exprime o somatório das vivências e das experiências de um Povo como sujeito daquilo que lhe é intrínseco, e das multi-influências culturais que envolveram a sua vida como povo. O cante alentejano é, inapelavelmente, o produto de um caldo das culturas ancestrais que foram transversais a todo o território e aos seus habitantes, e, mesmo a aculturação e a predominância de um tipo cultural, não invalida todas as outras experiências culturais.
Por outro lado, não podendo separar o homem como produto do meio sócio cultural e ambiental em que, historicamente está inserido, conclui-se que, o Cante alentejano, eminentemente de carácter colectivo e de expressão calma e solene, tem a sua raiz na vastidão da paisagem plana e de longos horizontes; na predominância de um tipo de propriedade –o latifúndio- que fez do homem alentejano “um sem terra”; no sofrimento que lhe foi infligido, quer pela dureza das condições de vida, quer pelo tórrido clima, cantado no trabalho, nas tabernas, nas feiras, às portas dos grandes proprietários, e em recintos religiosos de celebração do Natal.
A forma modal dá expressão à força colectiva e à dignidade do Cante, que, deve ser ouvido em silêncio para dar realce à sua grandeza.


José Borralho

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