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sábado, 1 de maio de 2021

VENTURA E A SONDAGEM DESAPARECIDA



«Não encontrei a sondagem que André Ventura, presidente do Chega, citou no discurso do 25 de Abril na Assembleia da República.
De cravo preto na lapela, o deputado abriu a intervenção com uma ideia original — “os cravos vermelhos deviam ser substituídos por cravos pretos” — e a seguir explicou:
“É o luto da nossa democracia que hoje devíamos estar a celebrar.”
Não estou a brincar. O deputado Ventura, que se licenciou em Direito na Universidade Nova de Lisboa com média de 19, diz que Portugal é uma ditadura.
Ventura incomoda porque diz mentiras e, como Portugal é uma democracia, intoxica o espaço político na própria “casa” da democracia. Ventura pode dizer mil mentiras por dia e o Estado continuará a pagar o seu salário de deputado e o dos seus seis assessores parlamentares.
Não falo do estilo (incendiário), do tom (gritos), da atitude (alarmista), do objectivo (espalhar ódio). Falo de mentiras simples como as falsas facturas dos coletes antibala da PSP, a falsa dívida da GNR à EDP ou o falso cigano. Falo do “autocolante” que publicou sobre Miguel Carvalho, conceituado jornalista da Visão. “Durante meses, houve dias em que me surpreendi com esta perseguição do jornalista Miguel Carvalho [...]. Agora sabemos do que se trata!”. Ventura diz isto no Facebook com um miniposter: “Jornalista da Visão que fez reportagem sobre o Chega é comunista e escreveu a biografia de Cunhal. O que poderíamos esperar?” É falso. O autor da biografia de Cunhal é o historiador José Pacheco Pereira, militante do PSD — o quinto volume vem a caminho. Carvalho só escreveu Álvaro Cunhal – Íntimo e Pessoal. Um dicionário afectivo, um livro que, como o título indica, é um dicionário com citações de Cunhal sobre temas não-políticos como amor, cinema e futebol. Não sei se Carvalho é comunista. Sei que não é militante e que há quem se lembre das cobras e lagartos que o Avante! escreveu sobre as suas reportagens sobre o PCP.
No discurso do 25 de Abril, Ventura gritou: “Nos 47 anos de Abril, não podemos esquecer uma democracia que se deteriora... De tal maneira que um jornal desta semana dizia que só 10% acreditam em plena democracia.” Ventura citava a sondagem que o ISCTE-ICS fez para o Expresso e a SIC que mostra o nosso cepticismo face à qualidade da democracia. Isso é uma coisa.
Outra é o que Ventura disse a seguir: “Grande Abril que nos deram, grande revolução de um país que já não acredita e que já quer muito mais do que aquela manhã de Abril! Metade do país acha hoje que está pior do que antes do 25 de Abril.”
Em que sondagem Ventura leu isto?
Não sei. Perguntei à assessora de imprensa do Chega no Parlamento, paga pelos nossos impostos, mas não tive resposta. Enviei três emails, na quarta-feira, na quinta e na sexta. A seguir, perguntei a peritos em sondagens. Nunca viram o que Ventura anunciou no Parlamento. Muitos portugueses gostam do Estado Novo. Não é novidade para ninguém. Isso explica em parte termos tido 48 anos de ditadura. Se houvesse dúvidas, sondagens ao longo dos anos lembram-nos de que há muitos portugueses que acham que o salazarismo teve tantas coisas positivas como negativas. Mas a “metade” que diz que “está hoje pior” não está nas sondagens.
Caro leitor: é assim que se fazem fake news.»

Público.pt

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