Acesa há 120 anos, esta lâmpada nos EUA é um mistério que se popularizou e que tem levado a várias teorias
No quartel dos bombeiros de Livermore, na Califórnia, EUA, uma lâmpada está acesa… desde 1901. Parece impossível? A lâmpada é motivo de culto, sendo já um ponto de atração turístico na cidade de Livermore e tendo mesmo uma transmissão em direto para se poder confirmar se ainda está acesa, uma página do Facebook, e ainda diversas teorias que tentam explicar a insólita duração.
Carros de bombeiros e outros equipamentos dominam o espaço, onde, pendurada no teto, a seis metros do chão, se encontra uma lâmpada que, há primeira vista, parece ser completamente normal. Esta tem, no entanto, a particularidade de estar a funcionar há exatamente 120 anos, só tendo sido desligada quatro vezes, em toda a sua “vida”.
Uma câmara faz uma transmissão em direto, 24 horas, mostrando uma fotografia da luz a cada 30 segundos, para que seja possível provar que nunca é mudada e nunca se desliga.
Os bombeiros já estão habituados a dividir o seu tempo entre apagar fogos e acompanhar vários curiosos que desejam ver a lâmpada ao vivo e conhecer a sua história. No departamento, como em qualquer ponto turístico, são ainda vendidas recordações como t-shirts da lâmpada ou livros. O dinheiro vai para a fundação sem fins lucrativos que ajuda bombeiros feridos e outras instituições de caridade.
A lâmpada centenária, título que lhe foi atribuído em 2001, quando ultrapassou esse marco, já se encontra no Guinness, tendo o recorde para a lâmpada que mais tempo esteve acesa. Foi fabricada à mão em 1898, pela empresa Shelby Electric Company, a cerca de 36 horas de carro do seu local atual.
A empresa que já não existe, foi fechada em 1914, tinha sido fundada por Adolphe Chaillet, que é apontado como rival de Thomas Edison. Chaillet era um inventor francês no campo da engenharia elétrica, e acredita-se que os seus conhecimentos em química e mineralogia lhe tenham dado uma vantagem na invenção das lâmpadas que incluíram o seu nome na história.
Várias são as teorias que tentam provar o porquê desta lâmpada não se fundir.
A sua composição está na base de uma dessas teorias. As lâmpadas de Chaillet distinguem-se das que usamos na atualidade em diversos aspetos. O primeiro é a própria forma: mediam oito centímetros, eram mais arredondadas e o filamento (fio dentro da lâmpada que conduz a eletricidade) oito vezes mais espesso que as lâmpadas que hoje vemos à venda.
Na potência esta acredita-se que tivesse 60 watts, tendo enfraquecido com o tempo, sendo que agora apenas tem 4 watts. Este tipo de lâmpadas foi, ainda, analisado, em 2007, por Debora Katz, física da Academia Naval dos Estados Unidos, que descobriu que existiam diferenças significativas no seu interior quando comparadas às que hoje temos no mercado. Pensa-se que o filamento desta lâmpada recordista além de mais grosso, seja feito de carbono, que é semicondutor.
Ao aquecer, os filamentos desta lâmpada incandescente tornam-se num condutor de eletricidade mais potente, ao contrário dos atuais que perdem potência ao aquecer.
Outra hipótese, que pode parecer contraditória, defende que é o seu uso excessivo que contribuiu para a sua longevidade. Isto é, o facto de ter estado acesa todos estes anos sempre no mesmo sítio (salvo pequenas exceções em que foi mudada) fez com que durasse todos estes anos. Esta teoria defende que ao apagarmos e acendermos as lâmpadas incandescentes estamos a desgastá-las, uma vez que os filamentos estão sempre a aquecer e arrefecer, fazendo com que dilatem e se contraiam, o que leva a que apareçam microfissuras que fazem com que deixem de funcionar. Apesar destas possíveis explicações, Katz e outros especialistas admitem que há um certo mistério no porquê de ainda não se ter fundido.
A mais polémica de todas as teorias veio de um documentário espanhol, de 2010, com o nome “Comprar, tirar, comprar”. Este defende que existe uma “obsolescência programada”, isto é, que as coisas que compramos são programadas para durar apenas um certo tempo, levando-nos a ter de comprar mais e, assim, fomentar o consumo e mantendo a economia moderna a funcionar. A lâmpada centenária seria, então, a prova que as coisas podem durar mais tempo e que inventores como Chaillet tinham esse objetivo quando as criavam.
A documentarista, Cosima Dannoritzer, afirma ainda que em 1924 teria sido feito um acordo secreto entre fabricantes com o objetivo de limitar a vida útil dos produtos. Atualmente, podemos ver que as lâmpadas não chegam nem perto dos 120 anos, durando apenas, se forem LED, cerca de 25 mil a 50 mil horas; já se forem fluorescentes, o tempo de vida baixa para entre mil a 6 mil horas.
Foi um empresário, Dennis F. Bernal, que ofereceu a lâmpada ao departamento dos bombeiros, em 1901. Desde então, esta faz parte do legado destes, havendo apenas quatro ocasiões em que a sua luz se apagou.
A primeira foi em 1906, quando mal se podia pensar que a lâmpada fosse ter todo este significado. O quartel mudou de rua e a lâmpada mudou com ele. Em 1937, esteve apagada durante uma semana, devido às renovações que estavam a ser realizadas no edifício, e este foi o período mais longo.
Já em 1976, quando o quartel voltou a mudar de localização, deu-se o primeiro susto com a lâmpada. Na altura, já era surpreendente uma lâmpada estar a funcionar durante 75 anos, havendo uma certa preocupação com esta mudança. Assim, quando passados 22 minutos da transferência para a nova localização, esta não se acendeu, a preocupação foi geral.
O problema foi resolvido por um eletricista que girou levemente o bocal da lâmpada. O último susto foi em 2013 quando se apagou durante a madrugada, devido a uma falha na corrente.
O alerta foi dado por um homem na Austrália, que estava a ver a transmissão em direto da lâmpada e reparou que estava apagada.
Do outro lado do Oceano Pacífico, este tentou freneticamente contactar a central dos bombeiros. Esteve apagada cerca de 9 horas até os bombeiros conseguirem resolver o problema.
Não se sabe quantos mais anos irá durar a lâmpada. Depois de todos estes sustos, os bombeiros já começaram a pensar no que irão fazer quando a luz se apagar. Apesar de não ser oficial, estes querem poder dar-lhe uma despedida digna, esperando que seja possível realizar uma cerimónia fúnebre para a lâmpada, com uma procissão que atravesse toda a cidade e acabando na sociedade histórica onde ficará em exposição. Outra hipótese que tem sido posta em consideração é substituí-la por outra lâmpada da mesma fábrica, havendo já quem tenha uma lâmpada com o mesmo modelo e esteja interessado em fazer acordo com os bombeiros.
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