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segunda-feira, 21 de junho de 2021

Pífios solstícios


Carlos Coutinho in facebook



VENDO um crocodilo morto, ainda com as mandíbulas escancaradas, como se estivesse a arquejar ao sol num cenário de seca severa, como as que já flagelam todos os continentes, ou pior, como aquela que nos preparam os construtores do aquecimento global, o meu pobre pensamento aterrou na simplicidade. Impotente, indefeso, ingénuo, como se a minha infância estivesse de volta. Vejamos:
Apenas daqui a um ano, o Polo Norte da Terra vai ficar tão próximo do Sol como hoje. Será o Solstício de Verão de 2022.
Dizer isto assim talvez seja não perceber que a mais comezinha das verdades pode até soar como uma risível banalidade ou, pior ainda, como uma ofensa velada, se proferida fora de uma sala de aulas.
Para mim, sabendo das bombas que voltaram a cair sobre a Faixa de Gaza e dos mortos sem sepultura no Brasil, por exemplo, este solstício é circunstancialmente uma fonte de angústia, porque sei que serão muitos os milhões de seres humanos que não vão poder viver o dia 21 de Junho de 2022.
Morreram, entretanto.
E morreram simplesmente porque há afloramentos de guerra viva e larvar em vários pontos do globo e porque, além da covid19, ainda persistem outras doenças e fomes e misérias conjunturais que só não são evitadas porque a maior parte da riqueza produzida no mundo é desviada para o armamento, as conspirações, a compra de almas e toda a compressão da dignidade humana que julgamos conhecer.
Na minha rua há pessoas que fingem ir às compras e voltam com o saco cheio de nada.
No meu bairro há adultos que vão pela surra catar alimentos largados nos caixotes do lixo.
Na minha cidade há idosos e jovens que poupam nos medicamentos para poderem gastar em comida.
No meu país há cidadãos que nunca viram o mar e vão morrer em casa porque a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde não têm capacidade para os acolher e tratar.
Na minha Europa há irmãos nossos de todas a raças esmagados por situações ainda mais cruéis. No meu planeta há crianças que dão à praia com os pulmões cheios de água e os olhos vidrados pela inclemência salgada do Mediterrâneo e pelas ordens que os polícias vão cumprindo.
Não sinto um especial apetite por viver o próximo solstício. Talvez as minhas ocupações me salvem.
Como de costume.

1 comentário:

  1. '...irmãos nossos de todas as raças...', todas as raças?
    Carlos Coutinho o que é isso de nossos irmãos de todas a raças? O conceito de raça entre os seres humanos, os nossos irmãos, já não existe há muitos anos, agora somos todos seres humanos ponto. Só os palermas racistas, xenófobos e nazis é que continuam a comparar um ser humano com um boi charolês ou com um perdigueiro.

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