TEXTO EM PORTUGUÊS DO BRASIL
Por Leandro Stein
Ausente das últimas cinco Copas do Mundo, a Escócia ocupa um lugar de pouco destaque no futebol internacional atualmente. A seleção não tem um craque sequer e os grandes clubes locais estão cada vez mais escondidos. Uma situação que não tem muitas perspectivas de melhora para a região de 5,3 milhões de habitantes. O que não deixa de ser um contrassenso.
Afinal, se o futebol evoluiu tanto nos últimos 150 anos, deve muito aos escoceses que, revertendo as dificuldades, se tornaram os verdadeiros professores do esporte na virada do século XIX para o XX. A inferioridade física em relação aos ingleses fez os escoceses desenvolverem um estilo de jogo de toque de bola e dribles. Os pioneiros do “futebol bonito”, que acabaram revolucionando o esporte na própria Inglaterra, além de deixarem um legado de espetáculo para diversos países, entre eles Brasil, Argentina e Uruguai. Nas próximas linhas, a história de como a Escócia fez com que o “jogo violento” passasse a ser exaltado pela beleza de seus movimentos.
O que a história medieval ensina sobre o futebol
O futebol como é conhecido hoje foi regulamentado há 150 anos, em uma taberna de Londres. No entanto, chutar uma bola (ou algo parecido, que seja) é esporte bem mais antigo. Os ancestrais ludopédicos vêm de séculos antes e diversas partes do mundo. China Imperial, América Pré-colombiana, Grécia e Roma estão entre as origens de jogos com fundamentos similares aos do futebol. Mesmo na Inglaterra, a história do esporte pode ser contada de muito antes. E, não tão longe daqueles feudos, a Escócia também tinha o seu próprio jeito de jogar.
Há mais de 700 anos, o Rei Eduardo II proibiu e criminalizou a prática do jogo de “bolas enormes, das quais muitos males podem surgir e dos quais Deus nos livre”. Era um dos ancestrais do futebol. E a decisão do rei inglês, derrotado na Primeira Guerra de Independência da Escócia (quem viu o clássico ‘Coração Valente’ conhece a história), foi repetida pelos vizinhos do norte 120 anos depois. Em 1424, durante o reinado de Jaime I, o Parlamento da Escócia aprovou o Football Act. A lei proibia os locais de praticarem os jogos locais, sob risco de multa. O veto foi endossado outras três vezes no século XV, para que os escoceses não deixassem de lado os treinos com arco e enfraquecessem o poderio militar do país.
Entre os principais esportes ancestrais da Escócia estava o ba, praticado no extremo norte do país e que se jogava mais com as mãos do que com os pés. Porém, não foram as proibições que extinguiram o futebol primitivo do país, e os registros das partidas foram aumentando a partir do século XVII. O caráter violento do jogo naquela época, com partidas durando dias e acabando em mortes, passou a resultar em diversos distúrbios nas cidades escocesas. Em 1607, os puritanos de Aberdeen chegaram a acusar a juventude da cidade de se profanar através do futebol, com a prática aos domingos sendo considerada uma ofensa.
Ao mesmo tempo, o futebol começava a mudar os seus conceitos na Escócia. As primeiras evidências de que o esporte era praticado por estudantes em Aberdeen vêm de 1633. E o jogo se caracterizava especialmente pela quantidade de passes, em que dar a bola ao companheiro de equipe era o caminho natural até o gol. Ainda que os episódios violentos continuassem, foi apenas no século XIX que o futebol começou a ser visto mesmo como uma prática saudável. O primeiro clube do país surgiu em 1824, em Edimburgo. Já em 1851, a Academia de Edimburgo foi a primeira instituição escocesa a codificar o jogo, com regras próximas às da Escola de Rúgbi.
A regra que revolucionou o futebol
O jogo de passes antepassado foi uma das referências nos primórdios do “futebol associado” na Escócia. Outra influência é o Sheffield Football Club, clube mais antigo do mundo, fundado no norte da Inglaterra em 1857. Uma das premissas do jogo codificado em Sheffield era a condução da bola com os pés, em um estilo mais cadenciado que o das escolas de Londres, adeptas de mais força física. Quatro membros de Sheffield, que já tinha suas próprias regras, estiveram presentes na reunião que fundou a Football Association em 1863, mas apenas como observadores. Quem ditou o jogo naquele início foram os londrinos.
A maior transformação realizada nas regras do futebol aconteceu em 1866: o jogo passou a permitir passes para frente, o que era proibido até então. Uma mudança influenciada pelos jogadores de Sheffield, que já praticavam o esporte dessa maneira. Na nova determinação, também nasceu o impedimento, que determinava que três adversários estivessem entre o destinatário do passe e a linha do gol. Foi a chave para que o estilo individualista se tornasse cada vez mais coletivo para que o passe começasse a ser usado como tática em campo.
A partir de então, algumas equipes começaram a se sobressair por um estilo mais estratégico. O “futebol científico”, como era chamado na época, comparado à vertente mais sistemática do rúgbi. O primeiro representante desse jeito de jogar foi mesmo o Sheffield, acostumado às suas próprias regras, que já previam o passe para frente antes de 1866. Assim, o clube era exaltado pela maneira como passava a bola com rapidez para abrir as defesas adversárias. Em janeiro de 1872, após partida contra o Derby, o jornal Derby Mercury descreve o encanto com o estilo do Sheffield: “Esse gol foi complementado por uma das mais bem sucedidas mostras de arte do jogo fluido e das táticas ilusórias, que provou o riso nos espectadores”.
Ausente das competições da Football Association, o Sheffield acabou influenciando outras equipes notáveis. Fundado por engenheiros do exército britânico, o Royal Engineers foi o primeiro clube inglês a fazer fama com o estilo de troca de passes, vice-campeão da edição inaugural da Copa da Inglaterra em 1871-1872. Porém, os elogios às novas táticas da equipe não foram suficientes para que batessem o Wanderers na decisão. O problema é que o futebol bonito do Engineers não era necessariamente o mais eficiente. Vice-campeão novamente em 1874, o clube só ficou com o título da FA Cup no ano seguinte.
Queen’s Park, a primeira potência escocesa
Ao mesmo tempo em que o Royal Engineers fazia fama na Inglaterra, o futebol associado começava a se firmar na Escócia. E também tendo o Sheffield Football Club como uma de suas referências. O primeiro clube do país foi o Queen’s Park, de Glasgow, fundado em 1867. Três anos depois, os escoceses se filiaram à Football Association. Entretanto, os alvinegros também tinham suas regras próprias.
Nas partidas do Queen’s Park naqueles primórdios, o impedimento só valia a 15 metros do gol. Além disso, eram necessários apenas dois adversários à frente da linha da bola para o jogador estar em posição legal, e não três, como previa a FA. A influência das Regras de Sheffield era clara nesse aspecto. Tanto que, a partir delas, os escoceses adotaram o uso do travessão e ajudaram a implementá-lo também na Inglaterra, a partir de 1875. Isso, no entanto, não queria dizer que o clube de Glasgow ignorava as jogadas individuais. Pelo contrário, os dribles eram vistos como um recurso a mais para facilitar a progressão.
As particularidades acabaram moldando o estilo de jogo do Queen’s Park, que ficou com a fama de pai do “futebol científico”. Graças à técnica apurada e à precisão na troca de passes, os Spiders dominavam o futebol escocês e ganhavam o respeito dos ingleses. A partir de 1870, com a filiação à Football Association, os alvinegros passaram a disputar mais amistosos contra os clubes mais ao sul da Grã-Bretanha. O clube chegou mesmo a participar da primeira edição da Copa da Inglaterra, em 1871-1872. Depois do empate por 0 a 0 com o Wanderers na semifinal, os escoceses abandonaram o torneio. Não tinham condições de fazer a viagem de Glasgow a Londres para o jogo-extra, em uma época de acesso bem mais difícil.
Meses depois da eliminação, o Queen’s Park disputou aquele que é considerado o primeiro amistoso de seleções da história. A partir de 1870, haviam acontecido alguns confrontos de ingleses contra escoceses que viviam no país. A primeira seleção da Escócia foi formada em novembro de 1872, apenas por jogadores do Queen’s Park – embora houvesse a intenção de levar os craques de outros clubes ingleses, como Renny-Tailyour e Arthur Kinnaird, grande destaque dos Wanderers. Os escoceses enfrentaram um combinado de jogadores de clubes ingleses, que viajaram até Glasgow. O empate por 0 a 0 prevaleceu no duelo.
Obviamente, o entrosamento dos jogadores do Queen’s Park era uma vantagem para a Escócia, mas os três dias seguidos de chuva deixaram o gramado pesado demais. Menores e apresentando um jogo mais leve, os escoceses tiveram dificuldades para se impor. Ainda assim, a diferença de estilos ficou evidente. Enquanto os ingleses jogavam em um esquema 1-1-8, todo no ataque, os escoceses se distribuíam no 2-2-6, um esboço das táticas atuais, explorando mais a progressão através dos passes. Já nos confrontos seguintes, a superioridade sobre a Inglaterra deslanchou. Foram dez vitórias escocesas e duas inglesas nos 14 amistosos seguintes, disputados anualmente até 1887.
Como a Escócia impulsionou o profissionalismo
O sucesso do Queen’s Park o tornou o grande esquadrão dos anos 1870. Mesmo filiado à Football Association, os alvinegros não voltaram a disputar a Copa da Inglaterra naquela década, por causa dos altos custos das viagens ao sul da Grã-Bretanha. Ainda assim, provavam a sua força nos amistosos contra os ingleses. Em outubro de 1875, os Spiders golearam por 5 a 0 o Wanderers, bicampeão da FA Cup entre 1872 e 1873. A partida foi emblemática para ressaltar o estilo escocês de passe e dribles, diante dos chutões e da força física dos ingleses.
Ao mesmo tempo, o Queen’s Park tomava para si o papel de grande referência do futebol escocês. Além de organizar a seleção, o clube também liderou a fundação da Federação Escocesa em 1873. No mesmo ano, surgiu a Copa da Escócia, vencida pelos alvinegros em suas primeiras três edições. O Queen’s Park se tornava o principal espelho para os clubes que surgiam no país, fazendo exibições em diferentes cidades para consolidar o “estilo de jogo escocês” – um futebol exuberante, de muitos passes e dribles para clarear espaços.
A Escócia tornou-se uma grande escola de futebol. E os clubes do país começaram a formar os professores para que a Inglaterra também se aperfeiçoasse. Com o talento sobrando entre os jogadores escoceses, donos de grande capacidade técnica, muitos acabaram migrando para os clubes ingleses. Principalmente a partir da década de 1880, a chegada de craques do norte da Grã-Bretanha passou a ser massiva. O que causou problemas, em tempos nos quais o ganhar dinheiro para jogar futebol ainda era proibido.
Para atrair os craques da Escócia, alguns clubes começaram a praticar o profissionalismo marrom, pagando salários de maneira ilegal. Boa parte dessas equipes era do norte da Inglaterra, com fortes ligações com a indústria. Os jogadores tinham empregos de fachada apenas para ganhar dinheiro com seus serviços prestados em campo, em times ligados às fábricas. Em 1882, o Blackburn Rovers foi o quarto clube de fora de Londres a disputar uma final da Copa da Inglaterra. Não à toa, entre seus destaques estavam Hugh McIntyre, Fergus Suter e Jimmy Douglas, todos escoceses.
O fim da hegemonia não foi bem aceito pelos clubes de Londres, formados por alunos das aristocráticas universidades e defensores ferrenhos do amadorismo. Para barrar o profissionalismo marrom, a Football Association proibiu a importação de jogadores escoceses naquele mesmo ano. Meses depois, a derrota da seleção inglesa por 5 a 1 no amistoso de 1882 provocou até mesmo a criação de um bastião do amadorismo em Londres: o Corinthian, que surgiu como uma seleção dos melhores jogadores vindos das escolas de Londres para desafiar os escoceses.
A proibição, porém, não atrapalhou a ascensão dos clubes do norte ou o profissionalismo marrom. O campeão da Copa da Inglaterra de 1883 foi o Blackburn Olympic, formado por trabalhadores e com um estilo de jogo inspirado nos escoceses. E o próprio Queen’s Park resolveu entrar na FA Cup a partir de 1883-1884. Depois de somarem 43 gols marcados e apenas três sofridos nas cinco fases anteriores (goleando o Blackburn Olympic por 4 a 0 na semifinal), os alvinegros foram derrotados na final pelo Blackburn Rovers – que ainda tinha três escoceses em seu elenco e seguia praticando o profissionalismo marrom. O vice-campeonato do Queen’s Park se repetiu na temporada seguinte, também contra os Rovers.
Os professores escoceses
A situação em torno do profissionalismo acabou se tornando insustentável. No ano anterior, 30 clubes do norte da Inglaterra anunciaram que iriam abandonar a Football Association caso os pagamentos aos atletas não fossem permitidos. Em julho de 1885, a FA finalmente cedeu, legalizando a remuneração. Algo que desagradou os aristocratas londrinos e abriu as portas em definitivo para os talentos escoceses, já que a Federação Escocesa só foi adotar o profissionalismo em 1893.
Os jogadores vindos da Escócia passaram a ser chamados de “professores”, pela qualidade técnica que garantiam aos clubes. Alguns deles já tinham carreira na Inglaterra, como Archie Hunter, capitão do Aston Villa na conquista da FA Cup de 1887. Mesmo assim, as vindas de escoceses dominou a política de contratações dos clubes ingleses. Algo que ficou mais escancarado com o início do Campeonato Inglês em 1888-1889 – curiosamente, criado por um escocês, Sir William McGregor, que também era presidente do clube de Birmingham.
O primeiro campeão inglês foi o Preston North End, uma equipe famosa pela qualidade técnica e que ficou com a taça de maneira invicta – esquadrão marcado também pelos fortes laços com a Escócia. Dos 12 atletas que jogaram pelo menos metade das partidas dos primeiros Invincibles – os segundos foram o Arsenal de Bergkamp e Henry -, oito eram escoceses e dois eram galeses. Entre os destaques, o atacante Jimmy Ross, que passou dos 100 gols pela Football League naqueles primeiros anos e foi artilheiro do torneio no segundo título dos Lilywhites.
Além do Preston North End, os outros campeões das primeiras edições do Campeonato Inglês também tinham grande número de escoceses. O caso mais notável é o do Sunderland, dono de três títulos entre 1891 e 1895, que disputou parte de seus jogos com todos os titulares vindos da Escócia – entre eles, John Campbell, três vezes artilheiro da liga. A equipe principal do Everton campeão em 1891 tinha seis escoceses, enquanto o Aston Villa que levantou cinco taças entre 1894 e 1900 era estrelado por J. J. Campbell e James Cowan. Em 1893, os Villans pagaram 100 libras ao West Brom pelo escocês Willie Groves, na primeira transferência da história a passar da marca centenária e que foi a mais cara do futebol por 11 anos.
O futebol sul-americano deve muito à Escócia
A influência do estilo de jogo escocês sobre a Inglaterra se seguiu nas primeiras décadas do século XX. As principais equipes do Campeonato Inglês continuavam importando jogadores escoceses, quando não eram treinadas por discípulos do Queen’s Park. Assim, foram se moldando clubes como o Liverpool, que teve 15 escoceses em sua temporada inicial, e o Arsenal, cujo primeiro capitão também nasceu nas terras do norte.
Ao mesmo tempo, o futebol começava a expandir suas fronteiras. O Reino Unido era a grande potência econômica do mundo. Através de marinheiros, engenheiros e operários, as principais cidades portuárias e os países que importavam o conhecimento britânico (para construir estradas de ferro, linhas de transmissão elétrica e outras obras de grande porte) começaram a abrigar praticantes do esporte. Além disso, muitos dos filhos da aristocracia local iam para o Reino Unido estudar e voltavam com a bola de futebol sob os braços. Assim, a América do Sul conheceu uma das suas maiores paixões e acabou bastante influenciada pelos escoceses.
Alexander Hutton é considerado o pai do futebol argentino. O professor escocês mudou-se a Buenos Aires para lecionar em escolas britânicas, mas também ensinou os portenhos a jogar futebol. Entusiasta da modalidade, ele criou a primeira edição do Campeonato Argentino, em 1891, o terceiro campeonato mais antigo do mundo. E a edição inicial da liga foi vencida justamente pela Saint Andrew’s Scots School, de estudantes influenciados pelo estilo de jogo escocês. Se os dribles e os passes são tão arraigados no futebol sul-americano, não é à toa. Hutton ainda fundaria a AFA em 1893 e o Alumni Athletic Club – potência que faturou dez títulos argentinos entre 1900 e 1911.
No Uruguai, a proximidade com a escola escocesa de futebol é parecida. O “pai do futebol uruguaio” é William Leslie Poole, professor na The English High School de Montevidéu que, segundo algumas fontes, nasceu na Escócia. O imigrante fundou em 1891 o Albion Football Club, primeiro time do país – e homônimo do escocês Albion Rovers, surgido nove anos antes. Além de educador e dirigente, Poole também foi jogador, marcando um gol no primeiro duelo entre as seleções de Uruguai e Argentina.
Já as ligações da Escócia com a fundação do futebol brasileiro são mais sutis. Charles Miller nasceu em São Paulo, mas era filho de um engenheiro ferroviário escocês. Ainda assim, foi na Inglaterra que o “pai do futebol brasileiro” conheceu o esporte. No Rio de Janeiro, outro personagem marcante é Thomas Donohoe. O escocês, que chegou à cidade em 1894 para trabalhar em uma fábrica de tecidos, é considerado por alguns historiadores como o verdadeiro introdutor do futebol no Brasil. Dez anos depois, Donohoe também foi um dos fundadores do Bangu Atlético Clube. O fato é que os traços do estilo escocês de jogar ficariam mais evidentes a partir da década de 1910, por mais que a habilidade dos sul-americanos também tenha sido determinante.
Os craques que foram importados da Escócia
Um dos principais jogadores dos primórdios do futebol brasileiro foi Archie McLean. O engenheiro escocês defendia o São Paulo Athletic Club e até fez parte de combinados brasileiros que disputaram amistosos internacionais em uma época em que a seleção brasileira em si ainda não existia. Quando o Spac decidiu abandonar o Campeonato Paulista, discordando do profissionalismo marrom que vigorava na competição. Então, McLean reuniu a comunidade escocesa e criou o Scottish Wanderers, clube que disputou as edições de 1914 e 1915 do Paulistão. O próprio estilo do clube remetia às raízes dos atletas, inspirado pelo Queen’s Park e chamado pelos brasileiros de “sistema inglês”. No entanto, a revelação que os jogadores dividiam o dinheiro das bilheterias desfez os Wanderers.
Ainda assim, o escândalo não atrapalhou a fama de McLean. Ex-jogador de St. Johnstone e Ayr United, o ponta esquerda era conhecido por sua agilidade e técnica. Depois dos Wanderers, ele passou a defender clubes de brasileiros, como o Paulistano. O escocês era entusiasta do que era conhecido como “tabelinhas” – o futebol de toques de bola em progressão, que o Queen’s Park havia desenvolvido. Uma influência que se somava a Jock Hamilton, o escocês que chegou ao Paulistano em 1907 e se tornou o primeiro técnico profissional do Brasil, defendendo o estilo escocês de se jogar.
Ainda mais badalado que McLean no Brasil era John Harley no Uruguai. O meio-campista nascido em Glasgow defendeu o Ferro Carril Oeste antes de se transferir ao Peñarol. E, introduzindo o futebol científico nos carboneros, o escocês é apontado como um dos principais revolucionários do futebol charrua. Já na Argentina, o protagonismo é da família Brown, base do Alumni da década de 1910. Netos de um fazendeiro escocês, Jorge, Ernesto, Alfredo, Eliseo e Juan Domingo estiveram entre os principais craques da época, todos chegando à seleção argentina.
As mentes que moldaram o futebol na Europa Central
Além da América do Sul, os escoceses também foram introdutores do futebol na Suécia. E, se quiserem, também podem reclamar a paternidade nos países da Europa Central, como Áustria, Hungria e República Checa. Afinal, foi a partir do futebol científico que a mentalidade dos grandes esquadrões locais se desenvolveu.
Uma das forças do futebol no antigo Império Austro-Húngaro era o Slavia Praga. Clube que foi treinado durante 25 anos por Jake Madden, ex-jogador do Celtic. No período, de 1905 e 1930, o rival Sparta Praga começou a se revolucionar quando o escocês John Dick, um dos primeiros ídolos do Woolwich Arsenal, formou o “Sparta de Ferro” a partir de 1919. Na vizinha Áustria, a referência escocesa foi Billy Hunter, técnico do Hakoah Viena, clube formado por judeus que chegou a ser reconhecido como um dos melhores do mundo.
Na época de jogador, Hunter defendeu o Bolton e teve como companheiro Jimmy Hogan, que também se tornou técnico e treinou Áustria Viena, MTK Budapeste, Young Boys, RC Paris, entre outros clubes do continente. Hogan era inglês, mas teve forte influência escocesa, adotando o estilo de troca de passes e aperfeiçoando as opções táticas. É considerado mestre de diversos grandes treinadores da Europa Central, entre eles Béla Guttmann, Gustav Sebes, Dori Kürschner e Hugo Meisl. A partir deles, a região originou esquadrões históricos, como a Áustria de 1934 e a Hungria de 1954.
Não pararia por aí. Na própria Inglaterra, outro técnico lendário a reforçar os preceitos do futebol científico foi Herbert Chapman, comandante do Arsenal entre 1925 e 1934. Nessa altura, entretanto, o estilo escocês já era um legado mundial. Enquanto a Inglaterra aperfeiçoava as táticas, a América do Sul contava com jogadores cada vez mais habilidosos e a Europa Central montava esquadrões inesquecíveis.
A partir de então, a grande contribuição da Escócia, mais do que em ideias, seria com material humano. Os grandes jogadores escoceses continuaram marcando época, sobretudo no futebol inglês, onde Denis Law, Kenny Dalglish e Billy Bremner lideraram times fortes. Já entre os técnicos, as histórias de Matt Busby, Bill Shankly e Alex Ferguson falam por si. Ainda que não fossem todos tão apegados ao “futebol-arte” daqueles primórdios, mantinham a bandeira do país no topo do futebol. Uma grandiosidade que faz parte do passado, mas da qual os escoceses têm muito a se orgulhar.
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