"O sistema de saúde é atroz neste país", afirmou Nunes, que tem uma empresa agrícola com o marido. "Não devia ser assim. Trumpcare é como era o Obamacare e não presta", considerou.
A luso-americana referia-se ao Affordable Care Act (ACA, vulgo Obamacare), que está em vigor desde 2010 e que deu acesso a seguros de saúde comparticipados a 20 milhões de norte-americanos.
Embora Rosie Nunes tenha um seguro de saúde privado através da sua empresa, considera que os preços são muito elevados e não há flexibilidade suficiente.
"A minha família paga 2.600 dólares [cerca de 2.200 euros] por mês pelo seguro privado, o que é escandaloso", afirmou. "Pagamos tantos impostos. Toda a gente deve poder escolher, este não é um país comunista", afirmou.
"Somos um país livre e nos últimos oito anos isto ficou pior, com as pessoas a serem doutrinadas por este mandado", acrescentou.
Uma das componentes mais contestadas do ACA era a obrigatoriedade de ter um seguro de saúde, sem o qual havia uma penalização fiscal. A reforma fiscal do Presidente Donald Trump eliminou a penalização, o que levou a uma subida dos prémios de seguro.
"Toda a gente deve poder escolher que cobertura quer e a que médico ir. Um país tão desenvolvido como os Estados Unidos, é de loucos que não haja a flexibilidade de ter mais opções e escolher qual o seguro que pode ter", considerou Rosie Nunes.
Esta posição é partilhada por Rosemary Serpa-Caso, uma assistente social que também faz parte da comunidade portuguesa de Tulare.
"Uma questão importante é o acesso a cuidados de saúde", disse à Lusa, sobre as eleições. "Já tive de pagar couro e cabelo pelo seguro de saúde, que era fornecido pelo meu trabalho. Agora, pelo emprego do meu marido, pagamos 20 dólares por mês, quando antes pagávamos 1500", exemplificou.
"Tem de haver um meio termo entre estes extremos", frisou.
A lusodescendente referiu que esta situação está ligada aos problemas de saúde mental que se têm agravado na região, onde o número de sem-abrigo subiu muito.
"O problema dos sem-abrigo já existia, mas agora eles são mais visíveis", notou. "Dizem que é São Francisco e Los Angeles a mandarem-nos para cá, mas com a maioria, 76%, a sua última residência conhecida foi no condado de Tulare", referiu.
"O que vejo muitas vezes é que há um evento catastrófico que os leva a esse cenário", explicou.
O mesmo problema é referenciado por Margaret DoCanto: "O que é super importante para mim, em especial no vale central em Tulare, é o problema dos sem abrigo, que está fora de controlo e a afetar o quotidiano de muita gente e muitos negócios".
Sendo uma comunidade maioritariamente agrícola e com menor densidade populacional que o litoral, ver pessoas a viver nas ruas era uma raridade em Tulare.
"Houve um aumento significativo da população sem-abrigo na nossa área nos últimos três a quatro anos e é muito visível. Não se consegue andar na rua sem ver qualquer coisa relacionada com sem-abrigo e isso não acontecia há cinco anos, havia um ou outro. Não havia acampamentos", destacou.
Para Margaret DoCanto, o problema tem de ser abordado em conjunção com o consumo de drogas e a saúde mental.
"Tem de se dar maior prioridade à saúde mental para que o problema seja resolvido, porque apenas arranjar um sítio para eles não vai resolver a questão no longo prazo", considerou.
"É preciso focar na saúde mental e na reabilitação destas pessoas", defendeu.
A reforma do sistema de saúde é um dos temas centrais da campanha presidencial que opõe o candidato democrata Joe Biden ao Presidente incumbente, o republicano Donald Trump.
No segundo e último debate entre os candidatos, que aconteceu a 22 de outubro em Nashville, Joe Biden prometeu adicionar uma opção pública e expandir o Affordable Care Act.
O Presidente Trump, cuja administração está a tentar repelir o ACA por completo nos tribunais, indicou que o sistema seria substituído por outro melhor, sem dar pormenores sobre o seu funcionamento.
A maioria dos norte-americanos tem seguros de saúde através do emprego, uma situação que se tornou muito problemática durante os últimos meses por causa da pandemia de covid-19 e os seus efeitos económicos.
De acordo com um estudo do Commonwealth Fund, até junho perto de oito milhões de pessoas tinham perdido acesso a cuidados de saúde quando ficaram desempregadas, o que cancelou também os seguros de cerca de 7 milhões de dependentes.
ARYG // EL
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