AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "COMO UM CLARIM DO CÉU"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

sábado, 14 de março de 2020

O PÂNICO É PIOR QUE O VÍRUS








Tenho consciência de que talvez esteja na contracorrente da opinião mediática tornada dominante nos últimos dias, processo iniciado quando o novo corona vírus tomou conta da velha Europa, deixando de ser chamado por alguns de "vírus chinês", e que culminou com a declaração da Organização Mundial do Saúde (OMS) do dia 11 de Março, classificando-o como uma pandemia, embora sem alterar (agravar) as suas recomendações sobre a forma como devemos lidar com o mesmo. 

Contenção - disse a OMS - deve continuar a ser a principal direção do combate ao covid-19.
Na realidade, o pânico está instalado. Lamento acrescentar que a imprensa (em todo o mundo) é a principal responsável pela criação desse estado de espírito, atraída, inadvertidamente ou não, pelo lado-espetáculo do jornalismo, facto mal "justificado", no caso dos meios de referência, pelo imperativo da verdade factual.

Assim, nas primeiras semanas, a grande preocupação da imprensa era contar os números de infeções e de mortes, sem quaisquer explicações, sem mostrar a relação entre eles em termos de percentagem, sem comparar com surtos anteriores, sem valorizar os desenvolvimentos positivos (por exemplo, a desaceleração do vírus na Ásia) e, principalmente, sem qualquer noção de serviço público, tendo levado demasiado tempo a fornecer informação sistematizada e massificada sobre os cuidados a ter para prevenir o contágio.

A própria maneira como foi noticiada a declaração da OMS sobre o caráter pandémico foi incompleta. Com efeito, não li até hoje, em nenhum jornal do mundo, uma explicação sobre o que significa "pandemia", o que, devido ao clima gerado previamente, pode levar a pensar que o vírus se tornou mais perigoso a partir do dia 11 de Março. Não. "Pandemia" pode ser definida como uma enfermidade epidémica amplamente disseminada, ou seja, que atinge vários locais do planeta. 
Não significa doença mais grave ou mais mortal. 
O público médio não tem obrigação de saber isso, logo, era necessário descodifica-lo (uma das funções do jornalismo).
Naturalmente, não pretendo dar lições a ninguém, mas parece ter faltado um elemento fundamental (infelizmente esquecido com demasiada frequência) à narrativa jornalística: enquadramento. Factualismo é muito mais do que mera referência a acontecimentos ou um simples alinhamento de números.

Entretanto, pior - muito pior - do que eventuais equívocos, por parte da generalidade da imprensa mundial, no tratamento desta pandemia é a atitude deliberada daqueles que, em todos os países, estão interessados, por razões "políticas" ou mesmo pura maldade, em criar o pânico social. 

Mais uma vez, lamentavelmente, as redes sociais têm sido a principal ferramenta desses autênticos criminosos.
Além, pois, de estar consciente de que a minha posição, em geral, se situa na contramão do "discurso do pânico" (consciente ou inadvertido; voluntário ou não), sei igualmente que "remar contra a maré", neste caso, é inútil, pois, como disse atrás, o pânico já está instalado.
E, contudo, é imperioso insistir num meio termo, assim caracterizado por uma amiga: nem cair em pânico nem encarar esta situação como se fosse absolutamente vulgar, idêntica a uma gripe comum. Ou seja, é preciso manter a "higiene pessoal e social", mas sem pensar que estamos no fim do mundo.

Para não entrar em pânico, é preciso começar por compreender que todo o vírus novo começa por ter uma expansão crescente e, portanto, não ficar impressionado (diferente de despreocupado) com o mórbido espetáculo dos números de novos casos de infetados, bem como de mortes, anunciados todos os dias.
Dito isto, cada um de nós tem de fazer a sua parte. 
A primeira atitude será seguir os conselhos dos médicos e cientistas (não dos profetas de mau agoiro das redes sociais). A segunda, reforçar os hábitos de higiene básicos. A terceira e última, evitar comportamentos de risco (comprovados).

A imprensa, em todo o mundo, também pode e deve dar uma ajudinha. Sem deixar de noticiar os novos números (não esquecer as "boas notícias", isto é, as reduções de infeções e de mortes), a prioridade deveria ser, na minha opinião absolutamente leiga, a identificação dos comportamentos de risco e a divulgação das medidas e das cautelas a observar para conter o covid-19.

O pânico é pior do que o vírus. Este último - disse-o a própria OMS - pode ser controlada. Se-lo-á.



Escritor e jornalista angolano e Diretor da revista ÁFRICA 21

Sem comentários:

Enviar um comentário