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quinta-feira, 19 de março de 2020

Cientistas confirmam que o novo coronavírus é de origem natural. A grande pergunta segue sendo outra


Desde que o vírus SARS-CoV-2 apareceu na China, sobraram teorias conspiranoicas que asseguram que o patogênico é uma criação de laboratório. Com efeito não é de estranhar que algumas pessoas pensem que o coronavírus é algum tipo de patogênico criado em laboratório. Afinal de contas Wuhan é precisamente o lugar onde construíram um dos laboratórios de pesquisa biológica que lida com alguns dos microrganismos mais perigosos do planeta. Uma nova análise do novo coronavírus revela que não é bem assim, mas a grande pergunta segue sem resposta: Como se originou?

Cientistas confirmam que o novo coronavírus é de origem natural. A grande pergunta segue sendo outra
O problema da conspiranoia de que o SARS-CoV-2 é artificial é que um vírus não é uma rosa que possa ser cultivada e refinada até que dê flores da cor que gostemos, não sem que o processo deixe impressões em seu genoma.

Os responsáveis por este novo estudo publicado na Nature analisaram o genoma sequenciado do SARS-CoV-2 com especial atenção a seus receptores proteínicos. São as "espinhas" de sua coberturas que o organismo usa para se ligar à proteína da membrana celular ACE2, que principalmente é encontrada nos pulmões. Os coronavírus são uma grande família de vírus que conhecemos faz tempo. Alguns afetam os seres humanos, outros não. A questão é que essas espinhas que o SARS-CoV-2 usa para se aderir à ACE2 são tão sofisticadas que seria impossível desenvolvê-las em laboratório. Só há um engenheiro genético no mundo com suficiente habilidade para criar essa desafortunada obra de arte: a mãe natureza.

O segundo "porém" a ideia de um vírus desenvolvido pelo homem é a própria estrutura do SARS-CoV-2 e sua procedência. Se alguém quisesse desenvolver um vírus perigoso para o ser humano nunca partiria de algo como um coronavírus não infeccioso. Simplesmente é muito trabalho. Seria bem mais simples desde o ponto de vista científico partir de um organismo que já é um patogênico infeccioso reconhecido para o ser humano. A estrutura do novo vírus vem de outras variantes que já conhecemos de animais como os pangolins ou morcegos que não eram infecciosas na origem.

Eliminada a ideia da conspiração, o problema segue sendo o mesmo. Como o coronavírus se converteu em um patogênico tão infeccioso para o ser humano? A resposta a esta pergunta é crucial para lutar contra a pandemia e a única coisa que conseguimos até agora é reduzir a resposta a dois possíveis cenários em função de quando e como o vírus adquiriu a habilidade de infectar seres humanos.

No primeiro cenário, o vírus desenvolveu seus receptores para as células humanas antes de entrar em contato com algum ser humano. Não é algo tão raro. Tanto o coronavírus responsável pelo SARS como o do MERS se desenvolveram desta forma e saltaram aos seres humanos a partir das civetas e camelos. Os animais apontados como o vetor no caso do SARS-CoV-2 são o morcego e os pangolins, mas ainda não existem provas da transmissão direta destes animais a seres humanos.

No segundo cenário, o vírus entrou no ser humano ainda inofensivo, e depois de um tempo neste novo hóspede desenvolveu os receptores que o converteram em um patogênico perigoso. Neste caso, a origem do SARS-CoV-2 seria similar ao da gripe das aves e sua procedência poderia estar diretamente relacionada com os pangolins, sobretudo porque a sequência do genoma da nova cepa de coronavírus isolada em pangolins resultou em 99% idêntica à das pessoas infectadas.

Por que este detalhe é importante? Pois porque supõe a diferença entre sofrer novos surtos de covid-19 no futuro ou não. Se o patogênico evoluiu dentro do ser humano como sugere o segundo cenário significa que se for controlado agora as possibilidades de que volte a aparecer são muito limitadas. No entanto, se o cenário verdadeiro for o primeiro, o patogênico segue aí fora, em algum animal, e é só questão de tempo que possa voltar a aparecer, talvez inclusive em uma versão mais virulenta e sobretudo enquanto não acabarem com os mercados molhados.

Por enquanto é impossível saber qual dos dois cenários é o real com a informação de que dispomos. De fato, e pese a todos os esforços, ainda não encontraram o paciente zero da pandemia. Se este chinês, contagiado diretamente por um animal, fosse localizado, teremos a chave para pôr fim á covid-19 de uma vez por todas.

Estranhamente o governo chinês encontrou o homem de 55 anos da província de Hubei, que foi a primeira pessoa em contrair covid-19 de outro humano e portanto o paciente um, em 17 de novembro, mas não foi capaz de identificar o paciente zero. Pelo menos é isso o que eles alegam.

É bom lembrar que nas declarações oficiais do governo chinês à OMS informaram que o primeiro caso confirmado tinha sido diagnosticado em 8 de dezembro, quando já existiam dezenas de casos. Os médicos que tentaram dar o alarme a seus colegas sobre uma nova doença no final de dezembro foram repreendidos, um foi preso, contraiu covid-19 e faleceu. De fato, as autoridades não admitiram publicamente que havia transmissão de pessoa a pessoa até 21 de janeiro.


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