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Dirigentes clínicos denunciam dificuldades para conseguir fazer despistagem do coronavírus nos laboratórios do SNS.
Há médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se têm sentido obrigados a recorrer a laboratórios privados para se submeterem a testes, pagos do seu bolso, de despistagem do coronavírus.
E, em alguns desses casos, os testes deram resultado positivo, confirmam o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, e o presidente da Secção do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.
Roque da Cunha declara, ao JN, que "são imensos os médicos que fizeram várias tentativas [no âmbito do SNS] e que, no final do dia, decidiram ir para o privado". "Há situações nas regiões de Fátima e de Oeiras, na Região do Alentejo, em Resende", enumera o dirigente do SIM, garantindo que, "infelizmente, não é uma situação pontual, mas muitíssimo frequente". Dos casos que chegaram ao seu conhecimento, contabiliza dois testes positivos para Covid-19.
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos também está a par da situação. "Tenho colegas em casa, em isolamento, que sabem que são positivos porque foram ao privado", conta, observando que "pagaram o teste do seu bolso". Os laboratórios privados têm cobrado entre 100 e 150 euros pelos testes.
Até agora, os médicos do SNS que receiem estar infetados e queiram ser testados devem ligar para a linha SNS 24 ou apresentar o seu caso a um superior hierárquico. Mas Carlos Cortes garante que tem recebido queixas de médicos que tiveram contacto de risco e não estão a ser testados. Falam com as respetivas hierarquias e estas dizem-lhes que serão chamados para fazer a colheita, mas isso chega a demorar vários dias, explica. Nessa espera, uns ficam em isolamento, mas outros mantêm-se ao serviço, podendo pôr profissionais e os doentes em risco.
"Infelizmente, o Estado não protege os seus profissionais. Porque a norma disto é: só faz teste quem tem sintomas. Só que, às vezes, as pessoas [infetadas] são assintomáticas", lembra Roque da Cunha. Comenta que "o argumento para não fazer testes a toda a gente é que há muitos falsos negativos", mas defende que, "em dez médicos, ou dez enfermeiros, basta haver um positivo para já ter valido a pena". O dirigente sindical manifesta, ainda assim, a expectativa de melhoras, "com os 240 mil kits de testes que aí vêm".
Questionado pelo JN sobre o recurso dos médicos do SNS aos laboratórios privados, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Noel Carrilho, diz ter um "conhecimento vago" da situação. "Mas não é nada que me surpreenda", acrescenta. Já a bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, não conhece enfermeiros do SNS a fazer testes no setor privado.
Centros de saúde atendem casos a partir de quinta-feira
Todos os agrupamentos de centros de saúde devem dispor, a partir de amanhã, de uma área dedicada à Covid-19 (ADC). A medida coincide com a extinção da Linha de Apoio ao Médico e a entrada do país em "fase de mitigação" da pandemia. Face à incapacidade de conter o aumento de infeções, a assistência deixa de estar concentrada nos hospitais e alarga-se aos cuidados de saúde primários. Mas as autoridades pedem à população que contacte a linha SNS 24 antes de recorrer às ADC. A bastonária Ana Rita Cavaco diz que aquela linha está melhor, desde que foi reforçada com enfermeiros.
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