O pior avaro é o melhor pedinte
A última vez que o sócio-gerente da Padaria Portuguesa apareceu com estrondo foi quando foi anunciado um aumento decente do salário mínimo.
Descobrimos que um quarto dos seus trabalhadores recebia menos de 557 euros. E que o aumento do salário mínimo era coisa que só interessava aos políticos. Como disse depois, “o espírito de equipa vale muito mais do que o salário base”.
Ao país interessava liberalizar os despedimentos, acabar com os limites legais ao horário de trabalho, a redução do pagamento de horas extra e baixar o IRC.
Nuno Carvalho voltou para nos informar que, com faturação de 40 milhões e o lucro de dois milhões, não tem liquidez para pagar salários por mais um mês nem, imagino, credibilidade junto da banca para crédito.
Compreendo que queira que o Estado lhe pague já, a pronto e sem perguntas, 70% dos salários.
Também os trabalhadores independentes, que só recebem um terço, gostariam. Só que o dinheiro do Estado papá, a quem Nuno Carvalho não queria pagar tantos impostos, não é infinito.
E como a Segurança Social tem de sobreviver, isto vai mesmo acabar por sair do Orçamento de Estado. Seremos nós a pagar. Se há sector que já está a viver momentos dramáticos é o da restauração.
Mas a última das preocupações é a Padaria Portuguesa. Nunca lhe faltou músculo para abrir, a uma velocidade estonteante, um estabelecimento em cada esquina, destruindo a concorrência.
Também o terá para cumprir os seus deveres.
Até porque, ao contrário de muitos, consegue ter as portas parcialmente abertas e teve, como todos, uma moratória fiscal. Só quer aproveitar esta situação para, em contradição com tudo o que anda a papaguear há anos, sugar uns cobres ao Estado. Estamos habituados a reconhecer nos piores avaros os mais lestos dos pedintes. Não estivessem em causa 1200 postos de trabalho e aconselharia Nuno Carvalho a pagar as despesas com o tal “espírito de equipa”.
Desejo que o Estado encontre solução para aquelas pessoas. Em contrapartida, queria que José Diogo Quintela, humorista e ex-sócio de Dias Loureiro, republicasse no “Observador” – jornal que, oh suprema das ironias, também quer financiamento público – os artigos piadéticos que escreveu sobre os apoios do Estado a taxistas e artistas.
Agora que está de mão estendida talvez conseguisse ter finalmente alguma graça.
Daniel OLiveira
Sem comentários:
Enviar um comentário