Operações policiais em dez estados miram braço do movimento Reichsbürger, que rejeita a legitimidade da atual República e de suas leis. "Racismo e antissemitismo não terão espaço na sociedade alemã", diz ministro.
Pela primeira vez, o ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, baniu grupos ligados ao movimento de extrema direita Reichsbürger (cidadãos do Reich), que rejeita a existência e legitimidade da atual República Federal da Alemanha e de suas leis.
O porta-voz da pasta, Steve Alter, informou nesta quinta-feira (19/03) que operações policiais foram realizadas contra o grupo Geeinte deutsche Völker und Stämme (Povos e tribos alemães unidos) e sua sub-organização Osnabrück Landmark, braços dos Reichsbürger.
As operações contaram com 400 agentes e ocorreram em dez estados alemães, com buscas nas residências de 21 membros dessas associações. Segundo o Ministério do Interior, os policiais apreenderam armas de fogo, tacos de beisebol, materiais de propaganda e pequenas quantidades de drogas. Os dois grupos foram dissolvidos e estão banidos, informou o porta-voz Alter.
"Continuamos a luta contra o extremismo de direita implacavelmente, mesmo em tempos de crise", afirmou Seehofer após as operações. Segundo o ministro, racismo e antissemitismo não terão "um único milímetro" de espaço na sociedade alemã.
"Estamos diante de um grupo que espalha mensagens racistas e antissemitas, envenenando sistematicamente nossa sociedade liberal. Também a agressão verbal e as inúmeras ameaças contra autoridades do governo e suas famílias são prova da atitude inconstitucional desse grupo."
Agora dissolvido, o grupo "Povos e tribos alemães unidos" contava com cerca de 120 apoiadores e era comandado a partir de Berlim. Além da capital alemã, as operações policiais desta quinta-feira ocorreram nos estados de Baden-Württemberg, Baviera, Brandemburgo, Baixa Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália, Renânia-Palatinado, Schleswig-Holstein, Saxônia e Turíngia.
"Cidadãos do Reich"
Os Reichsbürger não são claramente definidos, já que não existe um movimento propriamente dito nem uma ideologia unificada. Há diversos pequenos grupos e indivíduos isolados, em parte conflitantes, sobretudo nos estados de Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Baviera.
O ponto em comum é não reconhecerem a existência da República Federal da Alemanha como Estado, afirmando que o Império Alemão ainda existe (para alguns, dentro das fronteiras de 1937) e é um território ocupado pelos Aliados. Assim, rejeitam a legitimidade da Constituição, das autoridades e dos tribunais alemães, e não aceitam notificações oficiais.
Como não aceitam a existência da RFA, os Reichsbürger rejeitam também o pagamento de impostos e taxas, e criam seus próprios pequenos "territórios", com denominações como "Segundo Império Alemão", "Estado Livre da Prússia" ou "Principado Germânia".
Eles imprimem documentos fictícios, como passaportes e carteiras de motorista, além de produzir camisetas e bandeiras. Alguns imprimem até seu próprio dinheiro. As autoridades alemãs têm monitorado o movimento por atividades inconstitucionais desde 2016.
EK/afp/lusa/ots
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