O Calimero neto da AOC e do MRPP
O camarada Ventura e o renegado Marcelo – versão 2020
A personagem do Calimero, o pinto chorão, foi criado pelos animadores americanos da Disney. Foi criado como chamariz para ganhar audiência a fazer-se de infeliz com o mundo, de vítima que concita piedade. Ganha adeptos entre ingénuos, afirmando que a culpa das falhas é sempre dos outros. De umas vezes pede esmola, de outras clama aos deuses. A responsabilidade é um conceito estranho aos Calimeros. O truque da vítima rendeu multidões de santos na Idade Média. É com uma mamão medieval que estamos a tratar quando ouvimos o mais recente dos farsantes. Tem púlpito, altar e caixa de esmolas aos pés.
Os populistas do momento adotaram a pose dos Calimeros e foram criados pelo fascista Steve Bannon, o diretor espiritual de Trump. O guião que este lhes atribuiu para representarem é o de fazerem de vítimas e querem levar os públicos a acreditar que todos somos vítimas até eles nos salvarem. Um desses Calimeros ofereceu-se há dias para Presidente da República Portuguesa, numa rave revivalista dos anos 70, em Portalegre.
Um bandalho à presidência de Portugal? Por mim, não. Porra, temos uma história!
Hegel escreveu que a história se repete pelo menos duas vezes, e Marx acrescentou: a primeira como tragédia e a segunda como farsa.
Para os mais jovens:
Nos anos do PREC, 1974/1975, surgiram vários Calimeros na política portuguesa, alguns com alguma graça e até com alguma cultura. A seguir à tragédia da ditadura e da guerra colonial do Estado Novo, a fase mais folclórica da farsa foi representada por duas organizações de espetáculos de bonifrates, com razoável audiência, e que serviram, na realidade, de agentes infiltrados de quem trata dos assuntos do país a sério. Só há palhaços quando há dinheiro, como o Guiadó relembrou recentemente aos Estados Unidos. O Guaidó de serviço em Portugal anda por aí, por onde lhe pagam e o mandam. Parece que há dinheiro!
Dos palhaços da época de 70, os de maior sucesso saíram das academias da AOC, (Aliança Operário Camponesa) e do MRPP.
A AOC resultou de uma dissidência do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), liderada por Heduíno Gomes, também conhecido por Eduíno Vilar, mais tarde apodado de renegado Vilar, e uma ala no interior de Portugal, liderada por Carlos Janeiro, conhecido pelo pseudónimo de Mendes. Não se sabe o que propunham, a não ser a criação de um “outro regime” uma outra República, uma quarta, ou quinta República, pensões e salários de mãos largas para todos, o habitual bacalhau a pataco, fim da corrupção, claro, capar violadores, regresso da prisão perpétua, lei da selva. A farsa da AOC desfez-se com o 25 de Novembro, que os seus dirigentes apoiaram, como era seu dever.
O MRPP constituiu o outro movimento salvífico e de inspiração mais templária e de cruzada do que política. Oriundo de movimentos de estudantes de liceus, o MRPP também propunha uma outra república – e o seu chefe, o camarada Arnaldo de Matos, resumiu o seu pensamento quanto a Portugal com uma frase célebre e lapidar que os novos Calimeros salvadores repetem por outras palavras: “Isto é tudo um putedo!” O mesmo disse o Calimero do momento em Portalegre, para gáudio dos adeptos. A farsa do MRPP também acabou com o apoio ao 25 de Novembro de 1975.
O Calimero que há dias em Portalegre se apresentou ao altar de salvador como presidente não explicou aos apoiantes (esses não necessitam de explicações, mas de um cão guia ou pastor), nem aos futuros aderentes do rebanho se irá acabar com o putedo (e lá se ia o negócio!), ou se vai ser o seu proxeneta exclusivo, o patrão do bordel. Tradicionalmente estes salvadores passam a patrões do bordel. Veja-se o Bolsonaro.
O Calimero que se foi lamentar para Portalegre é neto do renegado Vilar e do educador do proletariado dos anos 70. Assim se repete a farsa da história. O 25 de Novembro, de uma democracia liberal, já não lhes serve. Querem um Estado sujeito, um povo submetido, uma ditadura a sério. É o programa do Steve Bannon, o fascista americano!
Esperemos para ver em breve este Calimero de pacotilha, de bigode e de calças de boca-de-sino a apelar às massas contra o que estiver a jeito no momento, da percentagem de prata nas trinta moedas da traição à santidade dos árbitros de futebol, a sua especialidade!
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