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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

RECORDANDO ISAURA ASSUNÇÃO SILVA BORGES


Foi uma das grandes figuras da resistência ao fascismo e da luta das mulheres pela democracia, liberdade e igualdade de direitos, em Portugal.

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Nascida em Portimão, em 1926, cedo revelaria a sua coragem e amor pelo próximo.
Tinha 11 anos quando, na Praia do Vau, salvou de afogamento uma menina um ano mais velha.
Aos 16 anos, na passagem de nível da estrada de Monchique, saltou para a linha de comboio, despindo a blusa vermelha para dar o alerta, conseguindo evitar o embate da automotora contra uma mula e a carroça, o que lhe valeu um processo judicial.
Entre 1949 e 1952, frequentou a Escola de Enfermagem Artur Ravara.
Começou a exercer a profissão no Hospital dos Capuchos. As condições de trabalho eram árduas, as enfermeiras obrigadas a turnos de 12 horas, que iam muitas vezes até às 24 horas, e a trinta velas de 12 horas, com apenas uma folga semanal. Cedo Isaura se colocou à frente da sua luta pela melhoria das condições de trabalho e dos cuidados de saúde nos hospitais.
Quando doze das suas colegas enfermeiras do Hospital Júlio de Matos, foram despedidas, por terem casado sem autorização, encabeçou um abaixo-assinado a Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais.
Recolheu centenas de assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras.
Recorde-se que o decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938, estabelecia no artigo 60 que «nos lugares dos serviços de enfermagem e domésticos (serviço interno) a preencher por pessoal feminino, só poderão de futuro ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem filhos, as quais serão substituídas logo que deixem de verificar-se estas condições».
A proibição do casamento das enfermeiras só terminaria, depois de longa luta, com a publicação do decreto nº 44923, de Março de 1963.)
Adere ao Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Em 1953, durante a campanha para as eleições para a Assembleia Nacional, quando se dirigia para a sede do MUD Juvenil (aos Anjos, Lisboa) é presa juntamente com outros jovens, posteriormente libertados. Ficou em prisão preventiva por dinamizar do «movimento das enfermeiras».
A «casamenteira», como jocosamente a PIDE a apelidava, foi sujeita ao regime de isolamento, brutalmente espancada e arrastada pelos cabelos, na presença do seu advogado, Dr. Lopes Correia, também violentamente agredido pela PIDE.
A marcação do julgamento desencadeou um amplo movimento de protesto. Foram distribuídos panfletos e tarjetas contra a prisão arbitrária e a violência, sendo exigindo “Liberdade para Isaura” nas paredes de Lisboa.
Em Junho de 1954, o MUD Juvenil, num dos seus comunicados, denunciava a situação: «Com Isaura Silva, no banco dos réus, estão as enfermeiras e a juventude de Portugal».
No Tribunal Plenário, durante o julgamento, a PIDE ocupou a quase totalidade dos lugares do público, não conseguindo impedir que fosse saudada por muitos populares e recebido um cravo branco de uma enfermeira.
Entre as testemunhas de defesa, estava o poeta Alexandre O’Neil, a escritora Maria Lamas, o engenheiro Veiga de Oliveira e Maria Isabel Aboim Inglês.
Passou quatro anos na prisão.
Tinha sido condenada «apenas» a dois anos de prisão maior, à perda de direitos políticos por 15 anos e a «medidas de segurança» prorrogáveis, por «pertencer ao MUD Juvenil e fazer a sua apologia, por ter acusado a PIDE de infligir torturas morais e físicas aos presos, por ter exigido condições mínimas para o trabalho nos hospitais, por ter protestado contra o facto de as enfermeiras não poderem casar».
Chegou a pesar trinta quilos, esteve às portas da morte, sendo internada no Hospital de Santa Marta e no Hospital de Santa Maria, onde colheu a solidariedade de médicos e enfermeiros.
Ligada a este movimento das enfermeiras, foi também presa a sua irmã Hortênsia da Silva Campos Lima, casada com o advogado que viria a estabelecer-se em Portimão, Manuel Campos Lima.
Libertada em 1956, a sua ação na resistência contra a ditadura fascista não abrandou.
Foi-lhe fixada residência em Portimão, na casa dos pais.
Era permanentemente vigiada pela PIDE, tal como os seus familiares e amigos.
Após um ano de residência fixa, foi autorizada a regressar a Lisboa.
Esteve em formação no Instituto Português de Oncologia, com o Professor Gentil Martins.
Admitida na Liga dos Hospitais onde desenvolveu um trabalho muito elogiado, dela acabou por ser expulsa pelo almirante Henrique Tenreiro, que dominava a Liga, quando soube, pela PIDE, do passado de resistência antifascista de Isaura.
Impedida de trabalhar nos hospitais públicos, com a ajuda do Professor Pulido Valente e do Dr. Pedro Monjardino, conseguiu trabalho numa clínica particular.
Só depois de muito protestar e lutar, entrou no Curso de Puericultura e Partos da Maternidade Alfredo da Costa, sendo admitida como enfermeira eventual.
Após o 25 de Abril, recusou o cargo de enfermeira-chefe dos Hospitais Civis de Lisboa, mantendo-se como enfermeira de 2ª classe, na Maternidade Alfredo da Costa.
Subiu a enfermeira de 1ª e a enfermeira-chefe.
Tirou o Curso de Enfermagem Pediátrica e Saúde Infantil.
Exerceu, até à reforma, o cargo de enfermeira-chefe do Serviço de Prematuros da Maternidade Alfredo da Costa, onde foi igualmente delegada sindical dos enfermeiros.
Viria a casar no Forte de Peniche com António Borges Coelho, que estava a cumprir pena de prisão onde esteve seis anos, seis meses dos quais em total isolamento.
Deste casamento nasceria a única filha de ambos.
António Borges Coelho é uma das grandes personalidades da democracia e da cultura em Portugal, catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, historiador, poeta, romancista, com uma obra monumental na área da investigação histórica, continua a publicar a sua História de Portugal, da qual já saíram vários volumes.
Em 2002, o Presidente da República, Jorge Sampaio, atribui-lhe a condecoração da Ordem da Liberdade.

www.barlavento.pt

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