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Foto Expresso |
Distribui alimentos aos sem-abrigo ou serve refeições aos pobres que vêm procurá-las em diversos locais especializados para esse fim, alguns através daquele esquema re-food que pode ser traduzido por "organização de actuação micro-local, criada para re-aproveitar excedentes alimentares"...
E de cada vez que isso se passa, penso que é a versão actualizada daquele comportamento altaneiro e consistente com a hipocrisia de um regime - como o regime fascista - que criava e reproduzia pobres em sistema, ao mesmo tempo organizava quermesses para afirmar a sua preocupação com a essa condição marginal. Na verdade, essas pessoas promoviam-se mais do que resolviam ou chamavam a atenção para o problema dos pobres, ao mesmo tempo que os enganavam, sorrindo-lhes.
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Ministra do Trabalho e PR. Disse bem? do Trabalho? |
E digo versão actualizada porque, se consultarem as estatísticas, verão que há várias décadas que Portugal democrático mantém - em reprodução sistémica - cerca de 2 milhões de pobres, muitos deles até tendo trabalho. Não se deixa que morram à fome, mas pouco se faz para combater as causas dessa pobreza. Prefere-se distribuir alimentos numa noite. Abraçá-los diante das câmaras. E ir-se embora, para voltar tempos mais tarde e repetir a mensagem. E assim tudo vai se reproduzindo.
Já passaram umas décadas, e tudo continua a ser revoltante. Observe-se os vídeos de arquivo da RTP.
Veja-se em 1968, a chegada e a recepção a Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, bem como Gertrudes Rodrigues Tomás e Maria Natália Tomás, esposa e filha de Américo Tomás, presidente da República, para a inauguração da "venda de caridade".

Ou aquele que verdadeiramente se chama "o bodo aos pobres", desta vez concedido no Porto, pelo Grupo Onomástico "Os Carlos" que o distribui "à população mais carenciada". Não parece ser o Banco Alimentar da senhora Jonet, embora há mais de 50 anos? E claro que Isabel Jonet se afirma mais adepta da caridade do que da solidariedade, que lhe roubaria a actividade.
Gostava de terminar com uma citação de Eduardo Galeano:
"Eu não acredito na caridade. Acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical. Vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro".
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