Nesta época de sininhos a tocar, músicas natalícias, apelos aos bons sentimentos, e estímulos brutais ao consumismo, o Instituto Nacional de Estatística (INE) entrou em contramão para nos desassossegar com as estatísticas da pobreza.
E diz-nos que, em 2018, existiam em Portugal 2,2 milhões de pessoas em situação de pobreza e risco de exclusão social, mais de um quinto da população. Inquieta-se quem lê estes números, quem imagina em cada número uma pessoa. Ainda assim, esta é uma estatística positiva, o número de pobres tem vindo a baixar e o rendimento das famílias a aumentar, desde que a troika saiu do país.
E diz-nos que, em 2018, existiam em Portugal 2,2 milhões de pessoas em situação de pobreza e risco de exclusão social, mais de um quinto da população. Inquieta-se quem lê estes números, quem imagina em cada número uma pessoa. Ainda assim, esta é uma estatística positiva, o número de pobres tem vindo a baixar e o rendimento das famílias a aumentar, desde que a troika saiu do país.
A questão que nos pode iludir nesta trajetória positiva é uma simples: qual a definição de pobreza? De acordo com os escalões nacionais, são oficialmente pobres as pessoas com rendimentos mensais inferiores a 468 euros, ou um casal com filhos dependentes com rendimentos até 982 euros por mês. Ora o INE diz-nos que, no ano passado, havia 11% de trabalhadores a ganhar menos de 501€. Conhecendo a realidade dos salários no país e do custo de vida, percebemos facilmente que existe, e está a aumentar, uma nova categoria de pobres, composta por pessoas que têm emprego mas que não conseguem fazer face às despesas do dia a dia.
Toda a vida ouvi dizer que os baixos salários em Portugal se devem a uma espécie de fatalidade, que aparentemente não se consegue alterar: a baixa produtividade. Mas um estudo do Instituto Sindical Europeu, citado há dias no jornal Expresso, afirma que “os aumentos salariais na União Europeia (de 2000 a 2016) teriam sido 4 vezes maiores se tivessem refletido os aumentos da produtividade”!… E em Portugal, a situação ainda é mais escandalosa: “ Houve em Portugal, neste mesmo período, uma redução média dos salários na ordem dos 3%, face a um aumento de produtividade de 10%” !….
Poderia ser irónico se não fosse um assunto tão sério, com tão graves repercussões na vida de tantas pessoas.
Poderia ser irónico se não fosse um assunto tão sério, com tão graves repercussões na vida de tantas pessoas.
Acredito que a pobreza nos nossos dias é não só conveniente, como também alimentada por vários grupos da nossa sociedade, que vão desde a uma determinada faixa do patronato, a instituições de solidariedade com práticas duvidosas. E por pessoas quiçá bem intencionadas. Ou que pensam que o são. Recordo uma crónica de uma escritora de renome em que esta falava sobre os natais de infância, quando a mãe e as tias, oriundas de boas famílias, se deslocavam a casas de pobres para fazerem a sua caridade. E de como retiravam uma sensação prazeirosa da existência daqueles “seus” pobres, que lhes permitiam ser “boas” e “caridosas”.
Uma sensação semelhante a que muitas pessoas experimentam quando entregam o seu saco de supermercado com os alimentos para famílias (mais) carenciadas?
Uma sensação semelhante a que muitas pessoas experimentam quando entregam o seu saco de supermercado com os alimentos para famílias (mais) carenciadas?
Ajudar quem tem menos é um princípio que não renego mas quanto melhor seria questionarmo-nos sobre as razões da existência da pobreza. E agirmos contra elas.
É necessário mudar de paradigma. A riqueza de um país e da sua população não se atinge com subsídios, apoios sociais, solidariedade. Ajuda – as transferências sociais permitiram uma redução da pobreza em 5,4 pontos percentuais, diz o INE – mas não resolve. O que resolve são salários dignos, adequados às necessidades e que respondam às exigências de uma vida decente.
No Portugal que quer a modernidade, 34,7% das pessoas vivem em agregados familiares que não têm capacidade financeira para suportar uma despesa inesperada; 6,6% não consegue pagar rendas; 19,4% não tem capacidade para manter a casa aquecida; muitos não têm rendimentos para pagar uma semana de férias fora de casa.
A resposta a esta exigência/necessidade de combater a pobreza e elevar os rendimentos do trabalho a um patamar digno e recompensador é das mais importantes na sociedade atual. A crescente pobreza e dificuldades entre os trabalhadores tem sido o rastilho de muitos dos protestos que temos visto, por aqui e além fronteiras. Minorar e resolver as desigualdades sociais é uma condição essencial para a sobrevivência da democracia.
No Portugal que quer a modernidade, 34,7% das pessoas vivem em agregados familiares que não têm capacidade financeira para suportar uma despesa inesperada; 6,6% não consegue pagar rendas; 19,4% não tem capacidade para manter a casa aquecida; muitos não têm rendimentos para pagar uma semana de férias fora de casa.
A resposta a esta exigência/necessidade de combater a pobreza e elevar os rendimentos do trabalho a um patamar digno e recompensador é das mais importantes na sociedade atual. A crescente pobreza e dificuldades entre os trabalhadores tem sido o rastilho de muitos dos protestos que temos visto, por aqui e além fronteiras. Minorar e resolver as desigualdades sociais é uma condição essencial para a sobrevivência da democracia.
É Natal, é Natal…guardemos um espaço para a família, os amigos, a partilha, a bondade. Mas sem esquecer que só a justiça social pode salvar a humanidade.
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Aos nossos colaboradores, leitores, anunciantes e amigos desejo um Bom Natal.
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