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domingo, 7 de fevereiro de 2021

Portugal vive a quinta maior crise dos últimos 150 anos

 

A economia não registava uma queda perto de 8% desde 

a crise de 1928, quando Salazar se sentou na cadeira das Finanças. 

Portugal escapou à Grande Depressão mundial e faturou volfrâmio 

durante a II Guerra Mundial, mas a pobreza e o 

analfabetismo dominavamWhatsappTwitterLinkedinMail

Aeconomia acabou por se afundar menos do que se esperava no ano passado, mas não deixa de ficar na história da democracia como a maior de sempre nestes últimos 46 anos. A quebra de 7,6% em 2020 é mais grave do que a crise de 1975, em plena ebulição política pós-revolução e com aumentos de 20% no preço do petróleo. E, em apenas 12 meses, é mais profunda do que a crise vivida entre 2011 e 2013, durante o programa da troika na sequência da crise da dívida.

2020 fica também na história como o ano em que Portugal sofreu a segunda grande pandemia dos últimos 120 anos. Mas esta crise foi mais dura, apesar de registar até agora muito menos mortes. Em 1918, com a vaga da gripe espanhola, que dizimou um mínimo de 59 mil portugueses (números oficiais), e com as sequelas do último ano da I Guerra Mun­dial a economia contraiu-se 6,5%. Agora foi pior e apenas com uma frente de ‘guerra’.

É preciso recuarmos 92 anos para registarmos uma tragédia económica da envergadura da que se passou no ano passado. A última vez que o produto interno bruto (PIB) caiu na ordem dos 8% foi em 1928. O traço mais dramático foi uma quebra no consumo privado de quase 12%. Foi o ano em que Oliveira Salazar se entronou, definitivamente, como ministro das Finanças, obtendo logo nesse ano um excedente orçamental com um conjunto de políticas de austeridade.

A MÃE DE TODAS AS CRISES

Mas nem 1928 nem 2020 estão no topo dos desastres económicos nos últimos 150 anos, para os quais dispomos de dados anuais. A ‘mãe’ de todas as crises foi a recessão de 1873, enquadrada numa crise financeira mundial que começou com o colapso da Bolsa de Vie­na e terminou em Wall Street. O trambolhão da economia portuguesa foi então de 19%, o maior de sempre. A dívida pública subiu num só ano 11%.

No filme das crises em século e meio contam-se 41 anos com contrações do PIB. Mais ou menos, uma crise de quatro em quatro anos. Este balanço baseia-se nas séries publicadas, para períodos diferentes, pelos economistas Nuno Valério, Maria Eugénia Mata e Abel Mateus. Para o período de 1961 em diante, os dados são os publicados pelo Instituto Nacio­nal de Estatística.

Em número absoluto de crises, os últimos 50 anos da monarquia bateram todos os recordes. Registaram-se 16 anos de quedas do PIB, destacando-se cinco grandes recessões, abarcando sobretudo os reinados de D. Luís e D. Carlos. Houve cinco depressões, a ­maior de sempre iniciada em 1876 com uma corrida aos bancos, sobretudo em Lisboa, que se viram obrigados a suspender pagamentos no meio de um clima de pânico.

Mas as crises não pararam com o fim dos reis. Durante a república parlamentar, a economia caiu seis vezes. Há um período de depressão de 1915 a 1918, durante a I Guerra Mundial, que é o terceiro maior do último século e meio.

A democracia cairia com o golpe militar de 1926. A partir daí, o país viveu em ditadura, primeiro militar e depois chefia­da por Oliveira Salazar. Registaram-se 10 recessões e houve duas grandes depressões. Mas Portugal escapou à Grande Depressão mundial entre 1929 e 1932 — a economia portuguesa, bem pelo contrário, cresceu 18%.

A primeira grande depressão viria depois, em 1935 e 1936. A ‘culpa’ foi do início da crise geopolítica na Europa, que três anos depois levaria à II Guerra Mundial. Tudo começou com a invasão da Etiópia pela Itália, liderada por Mussolini, e depois com a guerra civil espanhola. Depois da II Guerra Mundial, há uma crise acentuada na balança externa, com um pico de um défice de quase 9% do PIB em 1948 e uma redução drástica das reservas na ordem de quase 4,5 mil milhões de contos entre 1947 e 1949.

Depois, de 1953 a 1973 não se registou nenhum ano de recessão. São duas décadas de crescimento contínuo. O PIB multiplicou-se três vezes e meia nas contas feitas pelo economista Abel Mateus.

APÓS ABRIL, UMA DEPRESSÃO

No período pós-25 de Abril já ocorreram nove recessões, a começar logo pela de 1975. Em média, de cinco em cinco anos entramos em contração.

Mas entre as mais graves apenas há a registar as de 1975, 2012, no pior ano do impacto da troika, e agora de 2020, provocada por uma pandemia, interrompendo um crescimento médio anual superior a 2% desde 2014. Só se registou uma depressão, com uma quebra acumulada de quase 7%, entre 2011 e 2013, na regência da troika.


Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso

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