A economia não registava uma queda perto de 8% desde
a crise de 1928, quando Salazar se sentou na cadeira das Finanças.
Portugal escapou à Grande Depressão mundial e faturou volfrâmio
durante a II Guerra Mundial, mas a pobreza e o
analfabetismo dominavamWhatsappTwitterLinkedinMail
Aeconomia acabou por se afundar menos do que se esperava no ano passado, mas não deixa de ficar na história da democracia como a maior de sempre nestes últimos 46 anos. A quebra de 7,6% em 2020 é mais grave do que a crise de 1975, em plena ebulição política pós-revolução e com aumentos de 20% no preço do petróleo. E, em apenas 12 meses, é mais profunda do que a crise vivida entre 2011 e 2013, durante o programa da troika na sequência da crise da dívida.
2020 fica também na história como o ano em que Portugal sofreu a segunda grande pandemia dos últimos 120 anos. Mas esta crise foi mais dura, apesar de registar até agora muito menos mortes. Em 1918, com a vaga da gripe espanhola, que dizimou um mínimo de 59 mil portugueses (números oficiais), e com as sequelas do último ano da I Guerra Mundial a economia contraiu-se 6,5%. Agora foi pior e apenas com uma frente de ‘guerra’.
É preciso recuarmos 92 anos para registarmos uma tragédia económica da envergadura da que se passou no ano passado. A última vez que o produto interno bruto (PIB) caiu na ordem dos 8% foi em 1928. O traço mais dramático foi uma quebra no consumo privado de quase 12%. Foi o ano em que Oliveira Salazar se entronou, definitivamente, como ministro das Finanças, obtendo logo nesse ano um excedente orçamental com um conjunto de políticas de austeridade.
A MÃE DE TODAS AS CRISES
Mas nem 1928 nem 2020 estão no topo dos desastres económicos nos últimos 150 anos, para os quais dispomos de dados anuais. A ‘mãe’ de todas as crises foi a recessão de 1873, enquadrada numa crise financeira mundial que começou com o colapso da Bolsa de Viena e terminou em Wall Street. O trambolhão da economia portuguesa foi então de 19%, o maior de sempre. A dívida pública subiu num só ano 11%.
No filme das crises em século e meio contam-se 41 anos com contrações do PIB. Mais ou menos, uma crise de quatro em quatro anos. Este balanço baseia-se nas séries publicadas, para períodos diferentes, pelos economistas Nuno Valério, Maria Eugénia Mata e Abel Mateus. Para o período de 1961 em diante, os dados são os publicados pelo Instituto Nacional de Estatística.
Em número absoluto de crises, os últimos 50 anos da monarquia bateram todos os recordes. Registaram-se 16 anos de quedas do PIB, destacando-se cinco grandes recessões, abarcando sobretudo os reinados de D. Luís e D. Carlos. Houve cinco depressões, a maior de sempre iniciada em 1876 com uma corrida aos bancos, sobretudo em Lisboa, que se viram obrigados a suspender pagamentos no meio de um clima de pânico.
Mas as crises não pararam com o fim dos reis. Durante a república parlamentar, a economia caiu seis vezes. Há um período de depressão de 1915 a 1918, durante a I Guerra Mundial, que é o terceiro maior do último século e meio.
A democracia cairia com o golpe militar de 1926. A partir daí, o país viveu em ditadura, primeiro militar e depois chefiada por Oliveira Salazar. Registaram-se 10 recessões e houve duas grandes depressões. Mas Portugal escapou à Grande Depressão mundial entre 1929 e 1932 — a economia portuguesa, bem pelo contrário, cresceu 18%.
A primeira grande depressão viria depois, em 1935 e 1936. A ‘culpa’ foi do início da crise geopolítica na Europa, que três anos depois levaria à II Guerra Mundial. Tudo começou com a invasão da Etiópia pela Itália, liderada por Mussolini, e depois com a guerra civil espanhola. Depois da II Guerra Mundial, há uma crise acentuada na balança externa, com um pico de um défice de quase 9% do PIB em 1948 e uma redução drástica das reservas na ordem de quase 4,5 mil milhões de contos entre 1947 e 1949.
Depois, de 1953 a 1973 não se registou nenhum ano de recessão. São duas décadas de crescimento contínuo. O PIB multiplicou-se três vezes e meia nas contas feitas pelo economista Abel Mateus.
APÓS ABRIL, UMA DEPRESSÃO
No período pós-25 de Abril já ocorreram nove recessões, a começar logo pela de 1975. Em média, de cinco em cinco anos entramos em contração.
Mas entre as mais graves apenas há a registar as de 1975, 2012, no pior ano do impacto da troika, e agora de 2020, provocada por uma pandemia, interrompendo um crescimento médio anual superior a 2% desde 2014. Só se registou uma depressão, com uma quebra acumulada de quase 7%, entre 2011 e 2013, na regência da troika.
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