Guerra dos Balcãs |
Balcãs antes da guerra |
O problema dos Balcãs é antigo e tem componentes muito diversas, envolvendo fatores geográficos, étnicos, políticos, religiosos, etc.
No século XIX, uma atrás da outra, as nações da península balcânica desenvolveram fortes movimentos nacionalistas, forçando o Império Otomano, até aí a potência dominante na zona, a conceder-lhes autonomia. Depois da guerra russo-otomano (1877-1878), o Tratado de Berlim contemplava a existência de um principado autónomo da Bulgária.
Na segunda metade do século, emerge um novo poder que vem perturbar o equilíbrio de forças na região: a Sérvia. As suas pretensões expansionistas provocarão a intervenção de diversas potências. A interferência da Áustria foi notória nos problemas balcânicos.
Os ministros austríacos fomentaram a discórdia interna entre os países eslavos (Bulgária e Sérvia) bem como entre a Grécia e a Roménia. Uma outra guerra quase eclodiu em 1908 quando os austríacos anexaram a Bósnia-Herzegovina, provocando o ressentimento sérvio.
A chamada "Revolução dos Jovens Turcos" (1908-1909) e a guerra turco-italiana (1911-1912) deram uma oportunidade aos estados balcânicos de se vingarem do Império Otomano, seu antigo suserano.
Em março de 1912, a Sérvia concluiu um tratado com a Bulgária. Em maio, foi a vez da Grécia estabelecer uma convenção militar com este mesmo país.
A tensão aumentou na Península durante o verão e a Sérvia enviou uma nota ao Império Otomano exigindo a autonomia da Macedónia. Em setembro inicia-se a mobilização geral praticamente em todos os estados.
No dia 8 de outubro, o Montenegro declara guerra ao Império Otomano, e os aliados balcânicos, ao seu lado, fazem o mesmo no dia 18. A Primeira Guerra Balcânica teve duas fases. No dia 3 de dezembro foi assinado um primeiro armistício; as negociações de paz prosseguiram em Londres, sem sucesso, e um golpe militar nacionalista na Turquia fez reatar as hostilidades, que prosseguiram até abril de 1913. Pelos termos do Tratado de Londres (30 de maio de 1913), os turcos cederam a ilha de Creta à Grécia e desistem dos territórios localizados entre o porto de Midye (Turquia) no mar Negro e Enez, uma cidade turca na costa do mar Egeu. A questão da Albânia e das ilhas do mar Egeu seria resolvida por uma comissão internacional.
O Tratado de Londres, contudo, criou fricções entre os antigos aliados da Aliança Balcânica, especialmente entre a Bulgária e a Sérvia. Por exemplo, porque não atendia as pretensões dos sérvios quanto à integração no seu Estado de terras da Macedónia que estavam em poder da Bulgária.
O ressentimento sérvio devia-se ao facto de, assim, perder uma faixa de território ao longo do mar Adriático. Uma aliança, concluída entre a Sérvia e a Grécia contra a Bulgária, a 1 de junho de 1913, levou à chamada Segunda Guerra Balcânica, que começou a 29 desse mês (com um ataque desautorizado feito por um general búlgaro contra posições da Sérvia e sempre negado pelo Governo da Bulgária, que fez com que as hostilidades fossem formalmente declaradas a 8 de julho).
De seguida, todos os estados balcânicos entram em campo, numa coligação contra a Bulgária. Esta, impossibilitada de resistir, pediu o armistício, que foi assinado em Bucareste, a 10 de agosto. Segundo este, a Bulgária perdia uma parte considerável do seu território, incluindo cerca de 8 mil quilómetros quadrados arrendados à Roménia; grande parte da Macedónia passou para a Sérvia e Grécia; acordos de última hora fizeram-na perder parte do território para a Turquia.
A Albânia transformou-se num principado muçulmano independente.
As guerras balcânicas influenciaram profundamente o curso da História da Europa. O desmantelamento do Império Otomano e da Bulgária criou tensões perigosas no Sudeste Europeu.
O surgimento de uma forte e ambiciosa Sérvia preocupou a região e preocupou estados com pretensões políticas nessa zona, como a Rússia e outras potências europeias que, de maneira mais ou menos direta, mais ou menos voluntária, acabaram por se ver largamente envolvidas no desenrolar da situação; acima de tudo, estes tratados de paz provocaram um sentimento anti-sérvio e de receio no vizinho território austro-húngaro; a diplomacia internacional entrou em campo e engendrou um complicado sistema de alianças internacionais que, a médio prazo, viriam a colocar em risco quer a segurança local quer a segurança internacional.
O assassinato do arquiduque da Áustria, Francisco Fernando, em Sarajevo (1914) foi o pretexto para o Império Austro-Húngaro invadir a Sérvia e precipitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
mapa da guerra |
A Sérvia, pretexto para a deflagração da Primeira Guerra Mundial, foi invadida pelos exércitos austro-húngaros do marechal Poitiorek a 12 de agosto de 1914.
Contudo, na região de Shabac-Valievo, o príncipe Putnik inflingiu-lhes uma pesada derrota (16-24 de setembro) e obrigou-os a retirar da Sérvia. Nesse mesmo mês registou-se nova invasão, que teve o mesmo resultado; desta vez Putnik destroçou as forças imperiais entre Lazarevac e Rudnik (3-8 de dezembro) e libertou Belgrado (15 de dezembro).
A situação não sofreu grandes alterações até outubro de 1915. Nesse entretanto, os Aliados preocupavam-se por manter uma ligação direta com a Rússia e, nesse sentido, procuravam descartar a ameaça turca, forçando a passagem nos Dardanelos.
Ficou célebre a campanha de Galípoli onde se perderam muitas vidas, sem grandes resultados práticos. Estas operações acabaram por deixar os sérvios relativamente desprotegidos. A 6 de outubro de 1915, iniciava-se uma nova ofensiva dos impérios centrais. No dia 14, a Bulgária declarava guerra à Sérvia e avançava com dois exércitos sobre Nisch e Uskub, com o objetivo de envolver as suas forças. Contudo, os sérvios, habilmente conduzidos por Putnik e o rei Pedro I, evitaram aquela manobra, penetrando nas montanhas da Albânia, que atravessaram em pleno inverno, e foram recolhidos na costa adriática pelos navios da Entente.
Ao mesmo tempo, as forças sérvias do general Serrail, em retirada da campanha turca, conseguiram chegar a Salónica onde instalaram um governo provisório grego, que se uniu à Entente, protestando contra a neutralidade do rei da Grécia, Constantino I. Nesta altura, também os austríacos ocuparam o Montenegro e os portos da Albânia até ao Vojusa.
Os ataques sucessivos lançados por Serrail obtiveram resultados: Constantino I abdicou e o seu sucessor, Alexandre, aderiu à Entente a 12 de junho de 1917.
Já no último ano da Guerra, os Aliados deslocaram para os Balcãs o grande exército do Oriente, comandado por Franchet d' Esperey, que conseguiu a rendição da Bulgária (29 de setembro de 1918), a capitulação da Turquia (30 de outubro) e, juntamente com o exército sérvio, invadiu a Hungria e libertou a Roménia.
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