Em carta enviada aos trabalhadores da Groundforce e assinada pelo presidente do Conselho de Administração, é comunicado que "não estamos em condições de garantir neste momento o pagamento dos salários de fevereiro sem que esteja concluído o processo do empréstimo bancário" com o aval do Estado. A administração prevê que situação só seja resolvida e desbloqueada nos próximos 15 dias e que só depois poderão pagar os vencimentos.
“Com os elementos que dispomos neste momento, só nessa altura [daqui a 15 dias] teremos condições de efetuar o pagamento dos vencimentos do mês de fevereiro”, refere a empresa. “Desde já lamento o conteúdo deste email e o impacto que o mesmo tem na vida pessoal e familiar de cada um dos 2398 trabalhadores da empresa”, pode ler-se na nota assinada por Alfredo Casimiro.
A Groundforce revela que tem sobrevivido à crise de tesouraria com o apoio da TAP, cumprindo assim “as obrigações mínimas através de adiantamentos sobre os serviços prestados e a prestar no futuro”.
“Para podermos proceder ao pagamento dos salários deste mês, e apesar dos esforços desenvolvidos até à última hora, o Conselho de Administração da TAP informou hoje não lhes ser possível conceder este auxílio que, acreditamos, seria o último antes da contratualização do empréstimo bancário com garantia de Estado”, refere a administração.Aguarda-se o aval do Estado para um empréstimo bancário. Este processo está neste momento em apreciação no Ministério das Finanças.
O processo de procura de soluções foi iniciado em março do ano passado, e culminou “com uma reunião com o Senhor Ministro das Infraestruturas e Habitação, no dia 22 de julho de 2020, de forma a conseguir um aval de Estado como garantia a um empréstimo bancário que dote a nossa tesouraria dos recursos básicos para ultrapassar estes tempos de dificuldade”.
“Devo reconhecer que desde o primeiro momento obtivemos por parte do Senhor Ministro Pedro Nuno Santos o compromisso e apoio no sentido de viabilizar a referida garantia ao empréstimo”, garante Alfredo Casimiro.
A empresa recorda o impacto da pandemia no setor da aviação e da Groundforce, em concreto.
“Estamos a viver tempos de enorme dificuldade, que se refletem fortemente no número de movimentos, no número de passageiros assistidos, na receita da empresa e também nos recebimentos. A Administração da Groundforce tem trabalhado sem cessar para que os efeitos desta crise sejam os mais diminutos possíveis, e em especial para evitar que em algum momento estivesse em risco o pagamento dos salários de todos os que trabalham na empresa”, assegura o presidente do Conselho de Administração.
Sindicatos reúnem-se de urgência
Perante o não pagamento de salários no mês de fevereiro, os sindicatos representantes dos trabalhadores da empresa vão reunir-se de urgência no sábado para desenvolverem em conjunto de ações necessárias de forma a exigir respostas e soluções imediatas quer por parte da administração da empresa, quer por parte dos acionistas.
Em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal (STTAMP) recordou que a Groundforce "é uma empresa do grupo TAP participada pela companhia aérea em 49,9%, pelo que, causa espanto, que estando a companhia aérea em programa de ajuda financeira do Estado, faça repercutir as suas dificuldades financeiras diretamente numa empresa do grupo, sob forma de não pagamento das remunerações de cerca de 2.400 trabalhadores".
Sublinha igualmente que ao contrário da TAP, a Groundforce registava lucros operacionais em 31 de dezembro de 2019, tendo sido, no âmbito da sua atividade fortemente afetada pela pandemia de Covid-19.
De acordo com o STTAMP, os trabalhadores "não se conformam, nem aceitam que o pagamento dos salários dos trabalhadores possa estar refém de estratégias empresariais dos acionistas, agravados pelo facto de nem o acionista TAP nem o privado terem, durante todos estes meses, procurado soluções com vista a garantir a sustentabilidade financeira da Groundforce".
A empresa, lembra o sindicato, viu-se obrigada no início do surto pandémico a suprimir centenas de empregos de trabalhadores que tinham sido recentemente contratados.
O sindicato recorda que durante cerca de um ano os trabalhadores da Groundforce enfrentaram duras reduções salariais, entre outras medidas que foram sendo implementadas para garantir o equilíbrio financeiro e sustentabilidade futura da empresa.
"A situação de não pagamento das remunerações do mês de fevereiro terá um efeito social de enorme impacto, com consequências ainda por quantificar, agravando exponencialmente as dificuldades que já há meses se fazem sentir nos milhares de agregados familiares destes trabalhadores", é referido na nota.
"Também o Estado Português será confrontado com esta situação, ao qual caberá também diligenciar no sentido de promover uma resolução que permita encontrar uma solução para o problema", indica ainda o sindicato.
c/ Lusa
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