O Gabinete Nacional de Segurança já concluiu a avaliação de risco de cibersegurança ao 5G em Portugal. Mas o relatório é secreto, aumentando a expectativa sobre o que está no seu interior.
O Governo tem fechado a sete chaves o relatório que avalia os riscos de cibersegurança para o 5G em Portugal. Há vários meses que o trabalho do Gabinete Nacional de Segurança (GNS) está concluído, mas o documento é sensível do ponto de vista geopolítico. Sendo classificado como secreto, não deverá ser oficialmente divulgado.
Oficialmente, ninguém faz comentários sobre o que está no relatório. Solicitado o mesmo junto do GNS, é fonte oficial do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) que responde. Mas com uma nega.
O documento reveste-se de relevância, podendo conter a resposta nacional à questão de permitir ou não permitir equipamentos da marca Huawei no desenvolvimento das redes de quinta geração em Portugal. Fontes disseram ao ECO que o documento já foi entregue à ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva. Não foi possível obter respostas do gabinete do Ministério a tempo de publicação deste artigo.
Deputados têm tentado, sem sucesso, conhecer o conteúdo do documento. De resto, no setor das telecomunicações, também é grande a expectativa. Ao que o ECO apurou, mesmo a própria subsidiária da Huawei em Portugal está às escuras sobre o que está no interior do documento.
A empresa é acusada pelos EUA de ser um veículo de espionagem ao serviço do Partido Comunista Chinês, acusações que a companhia rejeita com veemência.
EUA aumentam pressão sobre Portugal
Não é difícil de perceber a base de todo este secretismo. O assunto é sobejamente sensível, na medida em que envolve as relações bilaterais com as duas maiores economias do mundo: EUA e China.
Portugal, até certa medida, tem tentado manter-se neutro, seguindo apenas as orientações de Bruxelas. Contudo, numa altura em que aumentam o investimento chinês no país e a pressão dos EUA sobre os parceiros, o país poderá ser forçado a escolher um dos lados da barricada.
Soma-se a isso mais uma visita oficial norte-americana a Portugal com o 5G bem no centro da agenda. O subsecretário de Estado dos EUA, Keith Krach, visita Lisboa esta semana e vai encontrar-se com membros do Governo e presidentes executivos de empresas chave do setor, para falar, entre outras coisas, da “segurança do 5G”.Por um lado, no final de agosto, a gigante CCCC, empresa estatal chinesa, comprou 30% da construtora portuguesa Mota-Engil. Este fim de semana, numa entrevista ao Expresso, o embaixador dos EUA em Lisboa, George Glass, avisou ao Governo português de que tem de tomar uma decisão sobre quem é, efetivamente, o seu aliado.
Contudo, é de esperar que, salvo mudanças estratégicas das operadoras, a Huawei já não vá fazer parte do núcleo do 5G em Portugal, como avançou o ECO em março. Apesar de fazer testes com core da Huawei em Lisboa, a Altice Portugal deverá apostar num core da Cisco. A Nos também não deverá ter a marca chinesa no núcleo da sua rede (poderá recorrer à Nokia), assim como a Vodafone (é parceira da Ericsson).
Mas tal não significa que a Huawei esteja totalmente excluída do 5G português. A empresa quase certamente fará parte da componente “rádio” da rede, composta pelas antenas e outras infraestruturas menos críticas, além dos terminais que é expectável virem a ser adquiridos e usados pelos consumidores finais.
Os próximos meses serão fulcrais, na medida em que se espera o arranque do leilão de frequências do 5G já em outubro. Quanto ao regulamento do leilão, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, disse na semana passada que o fecho do documento está por “dias” ou “semanas”. Os olhos estão agora postos na Anacom.
eco.sapo.pt
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