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sábado, 9 de maio de 2020

O 1.º de Maio deu cabo da Festa do Avante? PCP estuda o assunto e remete posição para mais tarde







O 'sim' de António Costa à Festa do Avante é um 'nim'. Não lhe passa pela cabeça proibir atividades políticas mas... “desde que de acordo com as regras da DGS”. Comes e bebes e milhares de pessoas a acampar cabem nas regras? 


Os comunistas estão a estudar o assunto e a Festa pode não ser iguais 


Muito criticados pela forma como conseguiram comemorar o 1.º de Maio e por terem feito circular pessoas entre concelhos contra o que vigorava naquele dia, os comunistas estão a ponderar ao milímetro como gerir a Festa do Avante.

António Costa passou-lhes a bola, ao dizer que a Festa poderá realizar-se "desde que de acordo com as regras da Direção-Geral da Saúde" para a pandemia. E o PCP remeteu uma posição "mais detalhada" para mais tarde.
"A Festa do Avante" não é um simples festival de música, é uma grande realização político-cultural", afirmou o partido em comunicado. Onde se acrescentava: "Uma posição mais detalhada será tomada no conhecimento concreto da disposição legal que venha a ser adoptada". Suspense, portanto, até que o Parlamento aprove o diploma com os pormenores sobre como poderão realizar-se até 30 de setembro "festivais, e espectáculos de natureza análoga (eis a expressão corrigida pelo Governo, já a pensar na rentré do PCP)".
A "natureza análoga" é o que está a dar dores de cabeça aos comunistas, que não quererão ser acusados de estar, pela segunda vez, a ter um tratamento de exceção. É verdade que a Festa do Avante é uma iniciativa de caráter político, nada mais nada menos do que a histórica rentré política do Partido Comunista onde o seu líder faz o discurso de arranque do ano político seguinte. Mas também é verdade que a Festa, como acontece com os festivais que o Governo proibiu até finais de setembro, aglomera milhares de pessoas e inclui multi-espaços de comes e bebes, além de um populoso acampamento. Nada facilmente compatível com o distanciamento social.
"Cada partido é responsável, obviamente, pela forma como organiza" a sua agenda, avisou António Costa, quando anunciou o que parecia um "sim" em toda a escala à Festa do Avante. Mas o 'sim' era, afinal, um 'nim'. "A atividade política do PCP ou de qualquer outro partido não está proibida, nem nos passa pela cabeça, creio eu que a ninguém, proibir a atividade política. Agora, essas atividades vão ter de ser realizadas de acordo com as regras da DGS", sublinhou o chefe do Governo.
Esta exigência consta, aliás, da decisão anunciada na sexta-feira pela ministra da Cultura a abrir espaço à realização de todas as festas promovidas no verão pelas autarquias e que permitirá que artistas e técnicos não tenham o verão integralmente perdido. O PCP também anunciou a intenção de limitar o cartaz da Festa a artistas portugueses, precisamente a pensar na crise que vai atingir este setor. Mas o busilis da questão são as restrições impostas pelas autoridades de saúde e que num evento com a dimensão da Festa do Avante se tornam mais difíceis de gerir.
António Costa, aliás, disse mais, ao lembrar como o PS geriu a sua agenda política no contexto da pandemia. "No meu partido tínhamos o congresso marcado para maio, está adiado 'sine die'" devido à pandemia de covid-19", afirmou. Ou seja, cada um sabe as linhas com que se coze mas todos terão que cumprir as regras ditadas pelas autoridades de saúde. Um puzzle nada fácil, que o PCP está a mastigar ao pormenor, ciente de que o primeiro-ministro lhes abriu espaço mas, simultaneamente, lhes colocou balizas.
Por um lado, o próprio Governo não quererá ficar debaixo de fogo ao excecionar a Festa; por outro, os comunistas sabem que depois da polémica do 1.º de maio as pessoas não íam aceitar que o lado festival da Festa do Avante se cumprisse sem restrições. A dúvida é se conseguem encontrar um modelo alternativo ao clássico, cumprindo a Festa ainda que em moldes diferentes dos habituais. Ou se a adiam ou cancelam, coisa que só aconteceu uma vez, em 1987, por alegadas dificuldades em encontrar um espaço. Na altura, o PCP ainda não tinha comprado a Quinta da Atalaia, no Seixal.
A imprensa deste sábado continua a fazer eco da polémica em torno das iniciativas dos comunistas. Num artigo de opinião no Público, o socialista Francisco Assis compara o último 1.º de Maio às coreografias norte-coreanas e acusa o Governo de "ter estado mal na forma como tratou as comemorações do 1.º de Maio". Assis também não poupa o Presidente da República que, acusa, "compactuou com a grotesca encenação e procurou distanciar-se da mesma quando percebeu o seu carácter controverso".
No mesmo jornal, João Miguel Tavares escreve num artigo de opinião com o título "O 1.º de maio deu cabo da Festa do Avante!", que o PCP "só pode cancelar a Festa, arriscar outubro, ou, para não perder a face, reduzi-la a um formato tão simbólico que talvez a DGS possa encolher os ombros". Mas o PCP, para já, não comenta.
Eventualmente, os comunistas não estariam à espera que as restrições aos espectáculos se prolongassem para lá de agosto. Agora, com a certeza das intenções do Governo e com o argumento de que aguardam para ver a lei, mastigam o assunto e preparam uma tomada de posição. A Festa poderá não ser a mesma.

expresso.pt

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