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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

São Tomé | TUDO SOBRE O MASSACRE DE BATEPÁ, O COLONIALISMO PORTUGUÊS





São Tomé | MASSACRE DE BATEPÁ, O COLONIALISMO PORTUGUÊS


O Massacre de Batepá (do português coloquial "Bate-Pá!") teve lugar em São Tomé e Príncipe a 3 de fevereiro de 1953, quando, a mando do ex-Governador-geral português, coronel Carlos de Sousa Gorgulho (1945-1948), proprietários portugueses de terras desencadearam uma onda de violência contra os africanos nativos.[1]

Entre outros, estiveram envolvidos no episódio os nomes de:

Afonso Manuel Machado de Sousa, Tenente da Armada e capitão dos Portos, Governador representante (maio a julho de 1953);
Alfredo Correia Nobre, coronel, lugar-tenente do Governador representante;
Firmino Abrantes, inspector do Ensino, curador dos Indígenas;
Abrantes Pinto, chefe de Gabinete do Governador representante;
Armando Lopes da Cruz, notário e ex-Delegado do Procurador da República, magistrado judicial do Ministério Público;
Raúl Simões Dias, tenente, Presidente da Câmara;
Trigo Delgado, engenheiro-chefe das Obras Públicas e delegado da União Nacional em São Tomé;
Manuel da Costa Morão, delegado de Saúde;
- Padre Monteiro, Vigário-Geral;
Martinho Pinto da Rocha, pároco, membro do Conselho do Governo.

No cerne da questão é apontada a desmedida ambição do Governador-geral Carlos Gorgulho, que se lançou num vasto programa de construções e melhoramentos públicos, recorrendo a rusgas constantes nas povoações nativas por forma a angariar mão-de-obra barata ou gratuita. Terão sido o governador e o seu grupo a forjar a história de uma conspiração de africanos contra os portugueses, que desencadeou a violenta repressão de fevereiro de 1953, em que pereceram mais de um milhar de pessoas.

Nos autos de "confissão" dos presos, obtidos pelas forças de segurança coloniais, figurava o nome do engenheiro agrónomo Salustino da Graça do Espírito Santo como "(…) chefe da revolução, seu instigador, seu preparador e futuro Rei da Ilha".

Destacou-se ainda a atuação do advogado português, Dr. Manuel João de Palma Carlos, defensor dos nativos em São Tomé, que foi crucial para pôr fim à matança.

Wikipédia

www.odisseiasnosmares.com /2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.html

Massacres dos Batepá (3) Hoje S. Tomé recorda os seus mortos caídos no 3 de Fev.1953 – Manuel dos Ramos - “Mata ali e vai pôr junto desses tamarinos e tapa com chapa”. Manuel Carmona “Vi muitos corpos, que foram pegados vivos , num bote grande que os lançava ao mar” – Bartolomeu Cravid “Governador Gorgulho tinha na ideia escravizar todos os naturais de S. Tomé.” - Entrevistas feitas em 1974, aqui reeditadas.



Jorge Trabulo Marques - Jornalista 



Foi precisamente há 62 anos mas a lembrança  desses ignóbeis acontecimentos permanece ainda bem viva na memória dos escassos sobreviventes, mas não esquecida na memória coletiva de um Povo, que hoje recorda as largas centenas de mortos que barbaramente foram espancados no Campo de Concentração de Fernão Dias, 

VÍDEO 
 "esse senhor autorizava  a colocação de marcas nos que  iam .ser mortos em Fernando Dias, com tinta vermelha na camisa. E de madrugada, quando vinha a camioneta eram esses que a família perdia. Não duravam  nem meia hora"




Para este ano 2015, ao contrário dos anos anteriores, o acto central terá lugar nas imediações defronte a Museu Nacional e não na histórica Praia de Fernando Dias, entretanto para este ano, não será realizado a habitual e tradicional marcha 3 de Fevereiro com destino a Praia Fernando Dias. – Excerto do  Jornal Transparência - Diário de São Tomé e Príncipe
ASSIM DESTE MODO QUALQUER DIA JÁ NINGUÉM SE LEMBRA – TAL COMO EM PORTUGAL, ONDE O 1º DEZEMBRO FOI ESQUECIDO - Ao menos que se promovessem as duas alternativas - Seria mais sensato
 “Enfurecidos com a decisão do Governo de transferir o acto central da celebração do dia dos mártires da liberdade para a capital do país, dezenas de habitantes da Praia de Fernão Dias, pernoitaram na estrada que dá acesso ao pontão onde decorreu o massacre.
Enfurecidos, os populares recordaram que desde a independência nacional, Fernão Dias, local do massacre, foi sempre palco do velório a 2 de Fevereiro e da missa3 de Fevereiro : Tumultos na Praia de Fernão Dias
A MEMÓRIA DESTES HOMENS E DE OUTRAS CENTENAS DE VÍTIMAS NÃO PODE SER APAGADA
Manuel dos Ramos – guardador de porcos em Fernão Dias “. O meu pai era o Manuel João da Graça das Neves. Tinha o número 430. Vi chegar aqui um senhor que trabalhava na Câmara. Veio ao meio dia e meio e à uma hora morreu. Era o Sr. Tini da Câmara   - Pormenores mais à frente
Manuel Carmona, trabalhador na Ribeira Peixe - Todo o individuo que trabalhava  na brigada, nesse tempo vivia porque era Deus que queria. Comia feijão feito com milho sem pisar. E desde manhã até há uma hora, com esta comida, corno podia um homem aguentar? – Pormenores mais à frente
Bartolomeu Cravid  - – Bartolomeu Cravid “Bateram-me. Puseram-me numa cela, incomunicável, durante 45 dias  -Pormenores mais à frente



Um local pantanoso, infestado de mosquitos, embora a escassos metros da praia, onde muitos presos, ou  eram imediatamente acorrentados e lançados ao mar ou, ainda sob o peso de fortes grilhetas,  obrigados a carregar pesadas tinas de água ou grandes blocos de pedra, por forma a que o seu extermínio ainda fosse mais doloroso, porque física e psicologicamente mais sórdido e lento, quando não sufocados pelo terreno movediço da lama para onde também eram atirados ou mortos vivos em valas abertas pelos próprios prisioneiros, que eram obrigados a cavar a sepultura, sob as prepotências e as arbitrariedades de um contratado angolano, um tal Zé Mulato, um inqualificável verdugo que  que as autoridades foram buscar à cadeia,  onde  cumpria pena de assassínio, para chefiar o dito campo de morte. 
Em 1974, entrevistei algumas das vítimas para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, uma das quais ainda  com feridas por sarar numa das pernas, com que foi acorrentada - . Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves dissabores, violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa e me agrediram selvaticamente-  Mas os pormenores ficam para outro dia, hoje do que venho falar especialmente é apenas de alguns comoventes  testemunhos, que então pude recolher, dois dos quais em Fernão Dias, no local do famigerado campo de Concentração

Escasseava a  mão de obra barata..E o governador planeava construir grandes edifícios à custa do trabalho forçado nas ilhas e  mandou o ajudante de campo armado em soldado nazi a comandar um grupo de milícias para  ordenar o trabalho obrigatório.. Num verdadeiro retorno aos primórdios do ignóbil e duro esclavagismo, até que,  numa remota aldeia perdida no mato,  algures pela Vila da Trindade, alguém se encheu de coragem e reagiu sobre o fogoso e arrogante alferes, que teve a reação popular que merecia  e à altura da leviandade e do desprezo como olhava a  população  e impunha  a sua vontade .
A partir daí o Governador  Gorgulho -  para salvar  a face dos seus desmandos e  prepotências, e, como os grandes erros, nunca vêm sós, para justificar uns cometia outros, cada vez mais graves.  passou acusar os "rebeldes" de comunistas, através da imprensa e da rádio.   E não tardou que os colonos - incentivados  ao ódio à  dita   "hidra comunista", respondessem ao apelo dos muitos boatos propalados
"Há notícias de que foram avistados submarinos soviéticos ao largo e descarregadas armas para apoiar a revolta  dos negros insurretos contra a integridade desta província ultramarina!"  - Foram detidos e presos vários suspeitos. O governo promete firmeza  e mão pesada aos criminosos! . Por toda a ilha mobilizam-se milhares de voluntários."
- E, quilo que  poderia ter sido um caso isolado, depressa é rotulado de rebeldia comunista.
Face a tais atoardas e  falsos alarmes, as roças  passam ao ataque: empregados de mato e dos escritórios, feitores e administradores - e até capatazes negros -partindo em jipes de todas os cantos da colónia, concentraram-se na Trindade, e, fortemente armados,  dirigem-se através dos caminhos do mato ao Batepá, descarregando  tiroteio forte e feio, (naquela e noutras aldeias) sobre as populações indefesas e pacíficas - mães com os filhos às costas,  homens,  mulheres e inocentes criancinhas, e até porcos, cabras e galinhas -, tudo é imediatamente alvejado e varrido!


Tudo quanto é vivo e apanhado pela frente,  é vítima das maiores  atrocidades e dos disparos mortíferos das velhas máuseres alemãs hitlerianas - herança do nazismo.  A  fúria assassina só terminou, quando, em escassos cinco dias, rapidamente todas as munições se esgotaram na ilha- Para trás, ficava um autêntico banho de sangue, aldeias totalmente queimadas e destruídas e inúmeros cadáveres estendidos sobre o chão fértil e verde  da luxuriante floresta. E a paz , que ali reinava dantes, dava lugar a um autêntico cenário de horrores: 
VISITA AO LOCAL DOS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS – EM 1974 – 20  ANOS DEPOIS  - TENDO COMO GUIA DOIS SOBREVIVENTES: Manuel dos Ramos e Manuel Carmona
Este o relato – “O local fica perto da. sede da de pendência Fernão Dias, à Roça Rio do Ouro, à frente de um' mar azul  imenso, bordado de viçosos coqueiros e de um capim que cresce exuberantemente  e, por entre vestígios e recortes de antigas construções, em tempos utilizados para servir a ponte de cais acostável para  os- barcos de longo curso que ali atracam 


A ponte destinada então, aquele porto, encontra-se em ruínas, e o sítio onde se localizavam as tais construções, são boje, praticamente, lugares de abandono, preenchidos, apenas, na pequena planura que ali se ergue, por uns tantos pés de coqueiros, que após terem servido de palco  aos tristes como lamentáveis acontecimentos no ano de  1953, ali foram plantados, talvez para quebrar a aridez e tristeza ambiente
Há dias deslocámo-nos ali. Íamos com o propósito de fazermos' algumas fotografias do local. Quando chegámos, pedimos a um natural de S. Tomé, que guardava uma vara de porcos, para nos indicar onde tinha sido, precisamente, o sitio, em que haviam decorrido os massacres de 1953. Tratava-se do Sr. Manuel dos Ramos, de 62 anos, por sinal, também, uma das vítimas. Não pudiamos ter tido melhor interlocutor e pessoa mais bem informada para nos acompanhar e nos apontar os sítios onde  foram concentradas largas dezenas de santomenses e, sem dó nem piedade, torturados e mortos. 
Lá se encontravam ainda, junto à praia conforme nos disse, os dois ta marinheiros onde diariamente eram estendidos os cadáveres e dali transportados, por uma camioneta, para uma vala comum, no cemitério da cidade. 
Mostrou-nos, igualmente, o sítio onde ele também esteve estendido no chão duro, cercado então por arame farpado, e onde ficavam a aguardar o momento do interrogatório ou da pena capital.

Acompanhou-nos ao lugar, onde ficava a casa que o chefe da brigada do campo de concentração e de trabalhos Forçados utilizava para pro ceder às torturas, aos interrogatóri0.e: e julgamento das inúmeras pessoas que para ali iam presas. 
Por último, trouxe-nos ao lugar onde os presos partiam brita para construção de uma pista para o aeroporto que a partir de ali se pretendia iniciar e apontou-nos o pântano onde eram também forçados a trabalhar. Na berma do mesmo, encontramos ainda uma argola de uma corrente de ferro, com que eram amarrados.
“Mata ali e vai pôr junto desses tamarinos e tapa com  chapa”.
Tudo isto lhe ouvimos contar com palavras de emoção e tristeza , ao  recordar aqueles horrendos episódios  de que foi vitima e assistiu
No final, registamos o seguinte depoimento: 
- J. M. O sr. também foi, portanto, das pessoas que aqui esteve no campo de concentração, não é verdade?
- M.R. Sim senhor. Estive aqui a trabalhar.
- J. M. Foi muito mal tratado:
- M. R. Bateram-me com um  pau na cabeça e outro na nádega. Mas o ruim da minha vida era  a carga muito pesada que tinha de transportar.
- JM. O sr. viu bater em  alguém?
- M. R. Sim senhor! Vi chegar aqui um senhor que trabalhava na Câmara. Veio ao meio dia e meio e à uma hora morreu. Era o Sr. Tini da Câmara   
- J.M. Disse-me que o seu pai também aqui esteve.  Ele morreu cá?
- M.R. Morreu em casa.
- J.M. Mas também foi morto durante os massacres do Batepá?
- M. R. Não senhor. O meu pai veio  de castigo. Tiraram depois o meu pai e mandaram-no para casa, ·mas depois morreu devido à doença que  aqui apanhou. . 
- J. M. Com é que se chamava o seu pai?
- M. R. O meu pai era o Manuel João da Graça das Neves. Tinha o número 430.
 - J.M. Já havia aqui muita gente condenada?. 
 - M. R. Sim. Muita pessoa a trabalhar.  Mas para eu dizer a quantidade de pessoas  que aqui estavam a trabalhar  é que eu não posso dizer.
- J. M. Aquele lugar ali era para o julgamento: o que é que o Sr. .José fazia lá?
- M. R. Tudo. Com cacete e outras pancadas. Quem não morreu, ficou. Quem morreu, morreu! Qualquer pessoa que vinha, ia  para o Sr. José, fazer perguntas. Depois de perguntar ele fazia conforme entendia. 
- J. M. E ali, junto daqueles tamarinos, que se fazia?
- M. R. Lá! Mata ali e vai pôr junto desses tamarinos e tapa com  chapa.
- J. M. E depois os cadáveres  eram enterradas ou lançados ao mar?
- M. R. Os que estavam em baixo de chapa, o carro, por volta das três ou  cinco horas da  tarde, carregava-os para cidade. Lá é que se iam sepultar.
- J. M, Mas outros eram atirados ao mar, não eram?
- M. R. Dizem que atiravam ao mar, mas nunca vi porque de noite ia dormir outra pessoa ficava a trabalhar.  Mas dizem que morreu muita gente no mar e outra foi enterrada.
DEPOIMENTO DE MANUEL CARMONA

Chama-se Manuel Carmona. Tem 42 anos de idade. É natural de S. Tomé e, actualmente, é trabalhador rural na Roça Ribeira Peixe. Disse-nos que também tinha sido uma das vitimas sobreviventes aos massacres do Batepá - Respondeu-nos  do seguinte modo: 
- M. C. Estava na minha casa deitado. Eram sete horas da noite, e apareceu o carro, cheio de polícias, e com o Sr. José Mulato. Fui pegado na minha casa, às sete horas de noite. Levei muita pancada por ordem do Sr. José. Entre os que matavam destacava-se o cabo Rodrigues e outro homem que parece que ainda se encontra em S. Tomé. E os capatazes, que mandavam nesse tempo, e mataram bastante por ordem do Sr. José. Era o Gonçalves, Cidade, Massêca, Jamba. 
J. M. Que lhe fizeram, quando chegou à tal brigada de trabalhos, em Fernão Dias'?
- M. C. Padeci bastante Levei pancada demais.
- J. M. Quanto tempo esteve nessa· tal brigada ?
- M. C. Cinco meses. Vi muitos mortos, que foram pegados vivos , num bote grande que os lançava ao mar.  Eu próprio é que vi, com a minha vista, em Fernão Dias, matar por ordens do Sr. José. 


- J. M. O Sr. acha que se deve fazer justiça a esses indivíduos que o trataram mal e mataram outras pessoas, que ainda não foram julgados?
- M.C. Acho . Ficaria muito satisfeito até …
- J. M. Conhece  muitas pessoas que o tararam mal e que ainda cá estão?
- M.C. Bem, outros morreram, os capatazes ainda cá estão. Até o que foi o chefe, o autor da justiça , ainda está a viver  e outros ainda estão em  S. Tomé.  Eu conheço-os…
- J.M. Que lhes davam de comida , nessa briga ? 
- M.C.Todo o individuo  que trabalhava  na brigada, nesse tempo vivia porque era Deus que queria. Comia feijão feito com milho sem pisar. E desde manhã até há uma hora, com esta comida, como podia um homem aguentar? ·
- J. M. Você  dormiam normalmente, ou dormiam muito mal?
- M. C. Dormíamos  uns em cima,  outros em baixo, como arrumação de saco.
- J. M. Acha que os tais senhores deviam ser julgados e estar presos?. 
- M. C. Não deviam estar, sequer, livres por um dia. Porque, nessa altura,  em 53, esse senhor autorizava  a colocação de marcas nos que  iam .ser mortos em Fernando Dias, com tinta vermelha na camisa. E de madrugada, quando vinha a camioneta eram esses que a família perdia. Não duravam  nem meia hora
- J. M. Então ele não obedecia a ordens? Fazia aquilo, sua 'por vontade própria? ·
- M. C. Recebia ordens de Sua Excelência que governava. ·
- J. M. Mas ele é que mandava lá?
M. C. Ele é que mandava. Na secção da brigada.
BARTOLOMEU CRAVID  

- J.M._ Diz-se que o Sr. Cravid também foi uma das pessoas afectadas pelos acontecimentos do Batepá. Que se passou então em relação à sua pessoa?
- B. C. - Lembro-me que fui preso e que estive na cadeia 45 dias. ·
-
 J.M. -Por que é que o prenderam?
- B. C. - Não sei explicar; o certo é que houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí' surgiram as prisões, mais prisões mas sem quaisquer razoes para isso. 
 Procurava-se emprego e não sé encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam, eram presas. É, claro, ao fim ao cabo houve um ou outro que reagiu sobre esses atitudes. Mas a  verdade é que nem chegou a existir reaccão nenhuma.
- J.M – Na altura, trabalhava em quê?
- B.C – No Tribunal.
- J.M. - Portanto na altura em que foi preso. Mas em que suspeitas se basearam para o prenderem?
- B.C. - Naquela altura só se 'tratava de boatos, mais boatos. O individuo era apontado de estar metido em reuniões. Mas a verdade é que nem sequer havia reuniões.
- J.M. - Durante o tempo em que esteve preso foi muito mal tratado?  
- B.C - Fui. Bateram-me. Puseram-me numa cela, incomunicável, durante 45 dias.
- J.M. - E a alimentação? De que constava?
- B. C - De fuba com feijões, sem um mínimo de higiene. Enfim, tratavam-nos piores que escravos. 
- J.M. --'Tinha lá muitos companheiros? .
- B. C.. -· Sim. Tinha lá muitos companheiros. Muitos funcionários públicos. ·
 -  J. M. - Eram todos submetidos a igual tratamento?
 - B. C. - Sujeitavam-nos aos mesmos tratos. Puseram-nos descalços. Bastiam-nos ...
- J. M. - Com que é que os castigavam?
- B.C. – Com pauladas. Chicoteadas. Palmatoadas. Enfim…
- JM -  Depois acabaram por o soltar, porque? · Como é que chegaram à conclusão que não havia motivo para o terem preso? · 
- B. C. - Não sei se foi o Juiz que trabalhou Comigo. Não sei explicar como é que isso se passou. O certo é que um dia qualquer chamaram-me e soltaram-me.
- J.M. - E aos outros seus companheiros?
- B.C. - Um outro colega meu foi solto um dia  antes: o Sr. Martins Fernandes de Castro.
- J.M.  - Como é que o Sr. Cravid interpreta a origem desses acontecimentos ? ·
- B. C. – Dá-me a entender que o Governador Gorgulho tinha na ideia escravizar todos os naturais de S. Tomé. Não os queria, até, como funcionários públicos. 'Deu-me· a entender que só os queria na situação de contratados. De verdadeiros escravos.
- J.M. - Mas falou-se numa sublevação comunista ? Que diz a este respeito? ·
- B.C.  -- Que eu saiba, não houve nada.
- J. M. - Não seria talvez uma forma de ocultar ou tentar justificar os actos cometidos nesses acontecimentos ? ·
- B. C. - Penso que o que ele queria era ter qualquer justificação. Qualquer coisa para poder defender-se; justificar, talvez, ao Governo Central, de que tinha havido qualquer coisa que lhe desse razão para proceder assim.
- J. M. - Qual é a opinião que tem acerca desse Governador? Há quem diga que ele fez muitas obras. Para além de todos esses actos que permitiu, que fez realmente vastas obras em S. Tomé.' Qual o pensamento com que ficou acerca dele?
- B.C.  - Inicialmente começou por trazer obras à terra; tanto mais que até  chegou a ser conduzido a nosso pedido. Chegámos  até a oferecer-lhe uma espada. Mas de um momento para outro virou-se totalmente. Porque é que mudou? Não sei. O certo é que também estava muito mal orientado. Tinha maus colaboradores.
- J.M. -  Acha, portanto, que essa tal mudança de atitude se deveu a uma actuação  dos seus  colaboradores?..Elementos da cúpula governativa ? 
- 8. C. - Não. Foi mais dele. Se fosse bom, isso nunca teria acontecido. Se fosse individuo sensato, e que também  se interessasse pela vida dos outros, que eram tão humanos como ele, não' se davam essas coisas; nada disso teria acontecido.
- J.M. - Esses acontecimentos tiveram inicio a 3 de Fevereiro de 1953. Prolongaram-se até quando? 

- B. C. - Sim. Tiveram início nessa altura. Depois fui preso, mais ou menos no dia 7 de Fevereiro. Fui solto 45 dias depois. 'Mas antes de ser solto, chegou, o inspector   Falcão da ex-PIDE. 'Esse senhor é que fez com que a situação se suavizasse bastante. E mais tarde com· a vinda do Dr. Palma Carlos.
- J.M. -Acha então ser verdade que um dos trabalhos mais válidos que a ex-PIDE fez em S. Tomé, foi precisamente esse?
- B.C.  Pois, se não fosse a sensatez no lnspector Falcão, isso seria um caso muito sério. Se tivesse cá vindo outra pessoa a investigar o assunto, nós estaríamos muito mal. Correria tudo à vontade do Sr. Governador e a coisa piorava. 
- J.M. -  Quantas pessoas calcula terem morrido, nessa altura? · · ·
- B.C- Ao certo não sei .Mas umas centenas de pessoas morreram lá.
- J.M . Em que condições essas pessoas pereceram?
- B. C. - Uns asfixiados, outros com pauladas em Fernão Dias. No mato, a tiro de espingardas. Enfim houve pessoas mortas e torturadas nas mais bárbaras condições.
- J.M. - Além desses mortos que provocaram, que outros danos mais  terão causado  à população? 
- 8. C. - Muitas casas incendiadas. Muitas pessoas roubadas e saqueadas. Muitas mulheres violentadas. Muitas crianças desonradas. Enfim, desumanidades.
- J.M. – Um natural, na altura, era todo olhado da mesma maneira, ou havia, digamos, certo sector que era respeitado?
- B. C. - Chegou-se a uma altura que não se respeitava ninguém: só se respeitavam os criminosos: 0 José Mulato, o Chico … e os capatazes das brigadas e mais nada. Com os naturais não havia um tratamento de gente. Faziam-lhe pior que a um bicho.
- J.M. - Como é que interpreta o comportamento desses indivíduos, de resto   também naturais de S. Tomé? Eram simples peças da máquina ? · Ou actuavam conscienciosamente ?
- B. C. - Bom, naquela altura, só cumpriam as ordens e mais nada:
- J.M.-Mas eles não terão também culpas? 
 - B. C. - Nenhumas. Não houve culpas nenhumas por parte desses indivíduos.
- J.M. - E os que colaboravam mais activamente?
- B. C. - A alguns, pelo menos, não se pode atribuir-lhes propriamente culpas ... mas também foram maus. Deviam ter sido  mais benevolentes.
- J.M. - Antes de 3 de Fevereiro de 1953, o povo já era  mal tratado? Ou só foi a partir dessa data 7
- B. C. - Era. Então havia só rusgas, sem necessidade nenhuma. E muitas prisões. Quer dizer, queriam mão-de-obra gratuita.
- J.M. - Quanto pagavam em 1953 ao trabalhador?
- B. C. - Não me lembro ao certo. Talvez cinco ou dez escudos. Na altura era funcionário do ·Tribunal e não 'estava a par disso.
- J.M. -Actualmente está a colaborar no processo de inquérito. Em que consiste o seu trabalho?
- B. C. - Ouvir as pessoas lesadas, que ficaram  sem as suas casas, para se saber depois o que se vai fazer. - Ao certo não sei.
- J.M. - Há muitos processos?
-B. C. - Talvez muito mais do que uma centena.
- J.A. -  Acha que isso foi uma coisa que marcou o povo de Tomé ? .
- B . C. - Bastante. Foi uma tortura! Uma  coisa inútil!
- J.M. -  Diz-se que, de uma maneira geral, todos os brancos que havia na altura em S. 'Tomé foram forçados a tomar parte nos acontecimentos de 1953. Foram realmente todos ou houve alguns que não quiserem ? 
 B.C. - Houve alguns que não colaboraram. Lembro-me de um Carlos Soares, da Roça Montalegre. Esse,  então, padeceu bastante .'Esse branco da Roça Santy também esteve preso.
- J.M. - Portento, os brancos que não colaboravam eram mal vistos ?
- B. C. - Sim: Houve alguns que foram perseguidos e mal vistos.
- J-M  Houve brancos que compreenderem o problema e recusaram-se a colaborar nesses acontecimentos?
- B. C. - ·Sim, realmente, houve muitos que não tomaram parte. · · · ·
- J.M. - Houve naturais que tiveram de fugir de S. Tome, ou conseguiram escapar? .
B.C - Aqui não tinham possibilidades de sair. Como sabe, S. Tomé é uma Ilha.


Memórias do Bate-Pá (1) - Auschwitz, em S. Tomé também existiu?.. Sim, sem câmaras de gás mas existiu no campo do extermínio de Fernão Dias e nas cadeias da morte lenta das duas Ilhas. Governadas por "um ditador à maneira da gestapo no tempo de Hitler " - Acusações do seu ajudante de campo e comandante da Policia .



Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista  -1º de uma série de artigos


Tudo começara na vila da Trindade, com a população nativa a ser perseguida há meses com rusgas permanentes e arrebanho de pessoas para as obras do Estado. Ao anoitecer do dia 3 de Fevereiro de 1953, o tenente Ferreira e o Zé Mulato, acompanhados de soldados armados de espingarda e baioneta, apareceram num jipe em atitude provocatória. Um homem que passava, descuidadamente, na rua principal abatido pelas costas. A população, aterrada com o tiroteio, corre a refugiar-se no mato. E, no dia seguinte, principiaram as prisões em massa, as rajadas de metralhadora, morte de gente indefesa. Com a desculpa, disparatada, de que os nativos, armados machins, se preparavam para marchar sobre a cidade para matar o Governador. E, por fim, nomeariam como  governantes  personalidades desafetas  ao Governo, como o Engº Graça , os professores Januário e Maria de Jesus, os chefes e mentores da revolta. E também alguns brancos-forros, Vergílio Lima, Carlos Soares, Américo Morais  - In Crónica de uma Guerra Inventada – por Sum Marki

O mesmo se pode dizer em relação aos demais santomenses, vitimas de igual infâmia, no dominado Massacre do Batepá  (não em câmaras de gás ) mas igualmente sujeitos a idênticos horrores e barbaridades, espancamentos e atrocidades, que, não obstante toda a hedionda ignominia, heroicamente lograram resistir e sobreviver, acarretando, ainda na memória dos dias de hoje, a dor sofrida (no corpo e no espírito) as lembranças de tão inarrável como assombroso pesadelo   - Trágico saldo  de centenas de mulheres e homens, e até adolescentes e crianças, gente pacifica e indefesa, sob a alegada tentativa de conspiração comunista.

.(...) "Desconhecem o lealismo dos filhos de um Império, desconhecem os aviões e os navios, e todo um arsenal de história, de espírito humano e real metralha, que Deus pôs à disposição dos portugueses"  - In FORROS, PRETOS E BRANCOS,  do jornal A VOZ DE SÃO TOMÉ -  12 de Fev. 1953 - Um dos artigos sobre o MASSACRE DO BETEPÁ


Recentemente, completaram-se os 70 anos sobre a data da  libertação do campo dos horrores de Auschwitz, pelo exército soviético, em 27 de janeiro de 1945 -  Lugar da morte de cerca 1,1 milhão de pessoas, entre elas 1 milhão de judeus de vários países europeus.  - Através de entrevistas a alguns dos 300 sobreviventes, constatou-se que ainda perdura, no coração e no seus olhos, um imenso rosário de sofrimentos e de lágrimas, que não estão saradas

O mesmo se pode dizer em relação aos santomenses, vitimas de igual infâmia, no dominado Massacre do Batepá  (não em câmaras de gás ) mas igualmente sujeitos a idênticos horrores e barbaridades, espancamentos e atrocidades, que, não obstante toda a hedionda ignominia, heroicamente lograram resistir e sobreviver, acarretando, ainda na memória dos dias de hoje, a dor sofrida (no corpo e no espírito) as lembranças de tão inarrável como assombroso pesadelo   - Trágico saldo  de centenas de mulheres e homens, e até adolescentes e crianças, gente pacifica e indefesa, sob a alegada tentativa de conspiração comunista.

O QUE DIZEM AS "MEMÓRIAS  DE UM AJUDANTE-DE-CAMPO E COMANDANTE DA POLICIA" . Capitão Salgueiro Rêgo - No tempo de um dos Governadores mais odiados em S. Tomé e Príncipe 


"A forma como o Governador durante o tempo do meu Comando tratava e dirigia a sua obra, "com dinamismo - que o tinha -sob os aspectos de desenvolvimento material e económico era, sendo bem observado, em vários detalhes, como um ditador à maneira da gestapo no tempo de Hitler na Alemanha. Era ele e só ele quem tudo mandava. sentindo que a minha outra função de Administrador do Concelho inerente ao meu comando da Polícia iria ser toda subordinada às suas firmes e despóticas vontades em acionar as suas obras que dia a dia se faziam por toda a parte. Assim, o Governador determinava ao Administrador do Conselho que mandasse apresentar na Repartição das Obras Públicas a quantidade de trabalhadores que desejava para qualquer obra. Mas, como se me tornava impossível por falta de ficheiros e registos de elementos a convocar e a chamar pelos diversos Regedores das Freguesias da Ilha, comunicava isso mesmo - em geral pessoalmente ao Governador - que se admirava da minha ingenuidade nestas coisas já tão sabidas em S. Tomé! ...


Como ir arranjar- trabalhadores?!...Muito  facilmente pá: como já do antecedente: forma que era já do tempo em que ele tinha tomado posse daquela Grande Propriedade que era do Estado mas que .ele governava à sua maneira de conseguir homens para  trabalho, E como era ? Por meio de RUSGAS! Tratando-me por TU, como aliás a toda a gente daquela terra, dizia-me abrindo o mapa, a planta, da Ilha. Tratas de cercar com os teus soldados a zona' tal e tal ... e de manhã vais apertando o cerco e trazes-me para a Cidade essa gente que for saindo de suas casas. Assim se fazia e se entre as mulheres vinha alguma cachopinha bonitinha em isca para o homem grande ... E o resto da caçada era entregue pelos meus soldados sob prisão ao comandante das prisões -miseráveis barracões imundos onde os pobres dormiam pelo chão-um tenente Santos Ferreira que se dizia parente do Ministro do Exército, natural de Viseu" - Excerto - Em próximo post conto retomar as suas memórias.
 A  MÁRTIR POVOAÇÃO DE BATEPÁ

Batepá, hoje uma pequena vila, porém, há 62 nos, era apenas um conjunto de algumas modestas casas de madeira –  Mas foi justamente aí, pelo facto dos santomenses se haverem recusado  a trabalharem à força, como escravos,  nas obras públicas e nas plantações do Cacau e do Café das grandes roças, que começaria uma das páginas mais negras da história da colonização portuguesa neste arquipélago – Mas também, por outro lado, a lembrança de um período que haveria de ser marcado pelas mais nobres e corajosas provas de resistência ao repressivo domínio esclavagista. 
 O DIA QUE S. TOMÉ E PRÍNCIPE NÃO ESQUECE

Daí que, todos anos, o 3 de Fevereiro, seja declarado feriado nacional e, um dos locais onde ocorreram os extermínios em massa, que mataram centenas de santomenses, seja palco de sentida peregrinação e evocação, com missa solene, deposição de ramos de flores,  e a  presença das vitimas sobreviventes, povo anónimo e  as principais entidades das Ilhas, que é que se espera venha a decorrer, nas cerimónias, previstas para  a próxima terça-feira, dia 3. 
 20 anos depois, ainda havia quem tivesse feridas nas pernas por cicatrizar das pesadas grilhetas - Fora as que sangravam no coração!....que dificilmente se apagam...
 SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE  ÁGUA 

- Era menina e estava grávida.
Ainda  jovem, e  mesmo grávida, não foi poupada à brutalidade facínora das ordens do então Governador Carlos Gorgulho: arrastada à força de sua casa, levada para um calabouço na então Vila de Trindade, espancada barbaramente, Primeiro deu-se o saque às casas: carregaram o que puderam dos modestos teres e haveres, após o que as incendiaram.





Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos,  é um  dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas,  até à morte, infligidos  a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé,  quer  no afrontoso cárcere da prisão local,  onde os presos, coabitavam  exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório   ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do  famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias   
NÃO LANÇARAM 12O HOMENS AO MAR PORQUE A TRIPULAÇÃO SE OPÕS

VÍDEO
Memórias do hediondo Massacre do Batepá 

Imagens e palavras de um abominável massacre. O pai de Teresa, esposo de Maria dos Santos, , também vitima da mesma barbárie, depois de lhe terrem queimado a casa e o carro (que saquearam antes de a incendiarem) ainda procurou refúgio no mato mas foi apanhado, preso e enviado para o Campo de Concentração de Fernão, onde acabaria por embarcar, com mais 120 homens para serem lançados ao mar, no barco António Carlos. Tal porém não sucederia por  a tripulação do navio se ter oposto, tal como vim  a saber através de outro depoimento, que obrigaram o comandante a deixar os prisioneiros na Ilha do Príncipe, onde acabariam por ficar presos   – Um desses  homens era o cabo-verdiano, Bernardino Lopes Monteiro, pai  do Coronel Victor Monteiro Dias,  chefe do Gabinete do Presidente Manuel Pinto da Costa, de cujo episódio  conto vir a referir-me neste site.


Agora,  ao voltar a S. Tomé, 39 anos depois de ter partido numa canoa solitária, não podia deixar de passar pela martirizada  vila do Batepá, que, embora não tendo crescido muito, no entanto, já tem mais algumas casas de que no meu  tempo. E foi ali que tive oportunidade de falar com uma antiga sobrevivente, que, juntamente com a filha e netos, ainda teve a amabilidade de me franquear o portão de sua casa e me mostrar o que resta do carro que ardeu quando atearam o fogo a sua casa - a única loja comercial que ali havia, naquela altura, a qual fora saqueada antes de lhe deitarem o fogo -  Penso que esses objetos deviam ser guardados no museu e que não acabassem  por se desfazer com a ferrugem. 
Sim, lá estava ainda a mola de um velho chassi calcinado, assim como a carapaça do motor, junto às raízes da árvore da fruta pão.  E, pelo que me apercebi, não me mostravam tais memórias como meros souvenires (que julgo, o terão feito pela primeira vez a um jornalista), dado  tratarem-se de peças que têm muito a ver com um período, muito sofrido, do casal que ali vivia, e que depois passaram  também a ser, como que um relicário sagrado para os filhos e netos., pelo que não deixei de ver nos olhos e nos rostos de todos, quantos ali se encontravam presentes, como que o perpassar  um sentimento, misto de dor, frieza e de  angústia, difícil de apagar e de esquecer. 

No termo desta visita à Vila do Batepá (que também tinha como destino  uma peregrinação à Roça Saudade, onde nasceu Almada Negreiros,  na companhia de Manuel Gonçalves, o português a quem devo a simpatia de me  acompanhar no jipe que alugou) ambos passámos pelo Mercado Municipal, onde fomos bem recebidos, pudemos almoçar comida típica e  um refrescante vinho de palma, confraternizando e vivendo  momentos de franco e amistoso diálogo, tanto mais que fui ali encontrar santomenses que se lembravam ainda de mim, quer das minhas aventuras marítimas, quer dos artigos que publicara na Semana Ilustrada, sobre os massacres do Batepá – De resto, creio que teria sido  por esse facto que, aquela velhinha de 80 anos, a Mena, com o rosto que parecia um livro ainda vivo de memórias,  me concedera  à porta de sua casa, após o que, já na companhia da sua filha mais velha, me franqueara o seu quintal para me mostrar testemunhos materiais, que o passar dos  anos ainda não desfez.
De referir que, inicialmente algo renitente, com expressão dura e não oculta de alguma  desconfiança, como se, porventura, a memória que os brancos lhe deixaram,  naqueles martirizados dias, ainda pudesse ser estampada num português que agora lhe batia inesperadamente à porta. Sim, pude ver  que há chagas psicológicas, feridas no coração, que deixam marcas para o resto da  vida – Sobretudo, no seu caso, quando era ainda menina e moça, se bem que já grávida  (pois em África o fenómeno  da procriação manifesta-se mais cedo que nas regiões frias) e, além de a espancarem, quase a sufocaram quando lhe meteram a cabeça num tanque de água para a obrigarem a confessar que estava envolvida na tal fictícia conspiração comunista
CAMPO DE EXTERMÍNIO DE FERNÃO DIAS

Um local pantanoso, infestado de mosquitos, embora a escassos metros da praia, onde muitos presos, ou  eram imediatamente acorrentados e lançados ao mar ou, ainda sob o peso de fortes grilhetas,  obrigados a carregar pesadas tinas de água ou grandes blocos de pedra, por forma a que o seu extermínio ainda fosse mais doloroso, porque física e psicologicamente mais sórdido e lento, quando não sufocados pelo terreno movediço da lama para onde também eram atirados ou mortos vivos em valas abertas pelos próprios prisioneiros, que eram obrigados a cavar a sepultura, sob as prepotências e as arbitrariedades de um contratado angolano, um tal Zé Mulato, um inqualificável verdugo que  que as autoridades foram buscar à cadeia,  onde  cumpria pena de assassínio, para chefiar o dito campo de morte. 
 EM PORTUGAL - NUMA REMOTA ALDEIA - TAMBÉM HOUVE OUTRO MASSACRE
Claro que não se pode dizer que, em 1953, os tempos também fossem bons para os portugueses que viviam na “metrópole do império colonial”, muito pelo contrário: eram tempos de repressão, de fome e de miséria – E a pequena aldeia do Colmeal onde nasceu o meu bisavô paterno, varrida por ação de um processo judicial, injusto e prepotente, no dia 10 de Junho de 1957, com os seus habitantes despejados à força, com  desfecho trágico de casas queimadas e algumas mortes por balas da GNR- a guarda pretoriana do regime colonial-fascista -, é  também outra das páginas negras da História da Lusitânia moderna –
Conheci pessoalmente a dureza desses tempo, quando fui trabalhar aos 11 anos, como marçano em Lisboa. Daí  que, os criminosos  acontecimento que ocorreram em Fevereiro de 1953, em S. Tomé, sob o comando do próprio governador colonial,  tenham que também de ser analisados -não estritamente por via de  ódios raciais – mas num contexto mais abrangente – O da época colonial e do fascismo que se servia de todos os meios para defender os interesses de uma certa burguesia privilegiada – Infelizmente é esta a situação a que estamos assistir através da ideologia liberal. 

Ainda entrevistei algumas das vítimas - "Prenderam-me durante 45 dias. Houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí surgiram as prisões, mais prisões sem quaisquer razões para isso. Procurava-se emprego e não se encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam eram presas. É claro que houve um ou outro que reagiu sobre essas atitudes." Declarações de Bartolomeu Cravid
Pouco depois do 25 de Abril, vi com os meus próprios olhos  essas feridas -  Ainda em chagas vivas por sarar! ... Provocadas por longo cativeiro, no campo de concentração de Fernão Dias, acorrentados a bolas de ferro, tal como aos escravos nos barcos negreiros. Pude entrevistar algumas dessas pessoas para a Revista Semana Ilustrada.
 

Vi também  a fotografia da famosa cadeira onde os presos eram algemados, submetidos a ignóbeis espancamentos e torturas,  até sujeitos a choques elétricos para os obrigarem a confessar e assinar declarações de factos forjados para os incriminarem o seu envolvimento numa revolta que pretenderia matar o governador e os colonos e aproveitarem-se das suas mulheres  - Mais tarde  a PIDE, enviada   por Salazar, iria negar a existência da conspiração, que depois de ter sido rotulada de comunista, passar a ser provocada por elementos desafetos ao regime – Vi também as   fotos   de outras macabras imagens, que me foram mostradas - Pasme-se pelo então chefe da Redação de "A Voz de S. Tomé e Príncipe"  e professor de português no Liceu, que, com um sorriso irónico, chegara ao pé de mim (claro, quando este quinzenário do regime deixara de se publicar, por foça da revolução de Abril e ele andava um tato ou quanto com assustado e com o "rabo encolhido", receando que as liberdades democráticas lhe pudessem tirar os privilégios) vindo junto de mim com esta surpreendente mas hipócrita sugestão: 
 "Você que é amigo dos pretos, veja se tem a coragem de publicar estas  fotografias! Ao mesmo tempo que mas passa algumas para as mãos, pedindo-me, que, logo que as fotografasse, lhas devolvesse. Com a recomendação: "Mas  se o fizer, acautele-se!  Olhe que eles ainda andam quase todos por aí  e não vão gostar - Agradeci-lhe  o gesto e a recomendação mas  não me amedrontei. Pelo contrário, tinha ali um bom motivo de reportagem, entre mãos mas, para isso, precisava de ouvir  alguns dos sobreviventes e  de  fazer as entrevistas que me fosse possível.
 COMETERAM CRIMES HEDIONDOS E NÃO FORAM PRESOS

Ao chegar a minha casa, olhando com atenção para  aquelas fotos (bastantes  mais do que que as hoje se encontram expostas no museu da resistência), sim, não me foi difícil identificar alguns dos protagonistas  envolvidos nos  criminosos acontecimentos. Um dos quais era o chefe de escritórios da Roça Uba-Budo, onde passei um mau bocado: ia para fazer o estágio do meu  curso de Agente Rural, e, além de me terem dado a categoria  mais baixa da roça, a seguir à dos serviçais contratados, que é a de empregado de mato, ainda me queriam obrigar a tratar o trabalhador por tu e ao estilo colonial  - Bom, como recusasse, fui enviado de castigo para a Roça Ribeira Peixe, com um trabalhador cabo-verdiano, a contar cacaueiros velhos e abandonados, na zona infestada pela cobra preta. Não vou agora contar essa porque, só isso, daria talvez um livro. 
 

Outro colono, que também  identifiquei, era o “Silva Pereira Taxista”, um branco que habitualmente estacionava o carro frente ao Restaurante Palmar -   Quando lhe falei no assunto,  quase me ia fuzilando com os olhos: você não tem vergonha de me vir falar de um caso , que já foi resolvido pelos Tribunais?!... Vás-se f...." - Vi logo que não era pelos brancos que devia começar - Estava visto que dali não lograva qualquer declaração. De resto, a primeira vez que ouvira falar dos Massacres do Batepá, foi depois do 25 de Abril 
Eu desembarcara, a bordo do paquete Uíge, em Novembro de 1963, numa altura em que ainda devia haver bastantes mais feridas por cicatrizar do que após o 25 de Abril de 1974, mas nem assim nunca ninguém me falou de tais factos. A razão é simples de compreender: eram das tais conversas, publicamente proibidas, tal como proibido chegara a ser o livro das “MEMÓRIAS DE UM AJUDANTE-DE-CAMPO”, a que conto vir a falar numa das postagens seguintes. 
MUSEU NACIONAL DE SÃO TOMÉ – SITO NA ANTIGA FORTALEZA DE S. SEBASTIÃO - ONDE O PASSADO HISTÓRICO PORTUGUÊS NÃO DEIXA MUITO A DESEJAR
São Tomé e Príncipe possui um Arquivo Histórico, localizado na praça de Mártires da Liberdade, na cidade capital,  com  a avenida da Independência e Parque Popular, e o Museu Nacional, localizada no sudeste da mesma cidade, que passou ali a integrar as instalações da antiga fortaleza de S. Sebastião, desde 1975.  

Quem ali for visitar, o vetusto ao edifício, erguida na ponta mais a oeste da margem direita  da Baía Ana de Chaves, sobretudo se é português e se ali entrar com olhos de ver - que esqueça os tempos épicos,  em que os canhões tentaram repelir os invasores Olandeses e Franceses ou até mesmo queira ali lembrar os chamados feitos “por mares nunca dantes navegados” de João de Santarém e Pero Escobar, cujas estátuas, depois de apeadas dos seus pedestais,  se encontram ali à entrada na condição de miseráveis testemunhas  mudas  e desprezíveis de um tempo que, por não merecer ser recordado, à população local, as ostraciza e as vota como que ao rol das pedras mortas, que, mesmo tendo fisionomias humanas, deixaram de ter qualquer importância histórica para a posteridade. Não tenho dúvidas que é mesmo assim – Esse o sentimento que também ali nutre depois de lá entrar – O passado não se pode apagar mas também só merece ser lembrado, se as boas recordações superarem as más. Não me parece que seja  o caso. 

E, embora ao chegar ao local, sendo  um dos admiradores dos poemas épicos de Camões («Sempre, enfim, pera o Austro a aguda proa/No grandíssimo gôlfão nos metemos, /Deixando a Serra aspérrima Leoa, /Co Cabo a quem das Palmas nome demos./O grande rio, onde batendo soa) ainda seja tentado  a sentir algum rebate nostálgico, creio que à saída deixará de o ter – Por uma simples razão: é que, na sala reservada ao  ‘’massacre de Batepá’’ do Museu Nacional, o que ali constata é uma autêntica câmara de horrores.  Mesmo assim, não deixe de testemunhar com os olhos de ver,  até onde chega a barbárie. Que mais não seja para admirar, ali mesmo ao lado, talvez a praia mais concorrida pelo colorido e alegria dos  santomenses, sem olhar a idades ou a sexo.

Obviamente, que, por minha parte, não podia deixar de ali fazer  uma vista  ao Museu Nacional de S. Tomé e Príncipe, onde me deparei com algumas das imagens que já conhecia, as quais, juntas com outros macabros objetos, desde as grilhetas, a implacável palmatoria, capaz de fazer estalar uma mão, às  antigas mauseres,  com baioneta cravada nas pontas, usadas por milícias e forças militarizadas, à foto e farpela do Homem Cristo, que fora crivada de balas e que, mesmo assim, milagrosamente, lograra escapar-se aos  carrascos prisionais, bem como dos rostos desfeitos desfigurados, a par de outros rostos, de figuras que pude conhecer, as quais, conquanto tenham sido poupadas de tais horrores, nem por isso deixaram de suportar várias barbaridades e sevicias. 
Confesso que também guardo más recordações destas  instalações. Era ali a antiga Capitania dos Portos, e, no seguimento da minha viagem clandestina de canoa ao Príncipe, fui ali chamado pelo Capitão dos Portos – um tal Elias da Costa - que, além de me  aplicar pesada coima, me deu uns valentes encontros contra a parede  – Isto já depois  de ter sido recebido no aeroporto de S. Tomé, com um par de socos no estômago e de seguida ter passado pelos calabouços da Pide, supondo que eu não queria ir para aquela ilha mas fugir para o Gabão

MASSACRE DE BATEPÁ - VÍDEO



Portugal “assume a responsabilidade” pelo massacre de Batepá

Pela primeira vez, um Presidente da República visita o lugar onde pelo menos 400 pessoas morreram às mãos de um governador português em São Tomé, há 65 anos.


São mais de 400 os nomes das vítimas mortais inscritos no Memorial dos Heróis da Liberdade, caídos à mão de um governador português há 65 anos aqui em Fernão Dias, a meia hora de São Tomé. Na primeira vez que um Presidente da República de Portugal visita o lugar, não houve um pedido de desculpas pelo massacre de Batepá, mas um assumir de responsabilidade, uma coroa de flores e um minuto de silêncio.
“Vim aqui homenagear todos aqueles que lutaram pela liberdade e em particular todos os que morreram pela liberdade faz agora precisamente 65 anos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa depois de ter colocado uma coroa de flores no monumento, que não evoca a dor, mas as ondas do mar que, ali ao lado, foram testemunhas dos horrores daquele tempo.

Marcelo não escamoteia as culpas. “Portugal assume a sua história naquilo que tem de bom e de mau, e assume nomeadamente, neste instante e neste memorial, aquilo que foi o sacrifício da vida e o desrespeito da dignidade de pessoas e comunidades”, disse. “Assume essa responsabilidade olhando para o passado, mas ao mesmo tempo para o presente e o futuro”.
“Foi aqui que os nossos antepassados sofreram massacres, levavam chibatadas e essas coisas todas”, conta Carlos, vinte e poucos anos, um dos dançarinos do grupo Leonino que desta vez veio cantar e dançar para o chefe de Estado português. “É um marco histórico, porque muitas pessoas morreram aqui, muito sangue e muitas lágrimas desceram aqui”. Hoje é símbolo da luta pela liberdade e o dia 3 de Fevereiro, em que tudo começo, o dia nacional do país.
A mensagem era não ficar preso ao passado, nem olhar para ele com os olhos do presente: “É reconhecendo o que foi o passado, construindo todos os dias o presente e edificando o futuro fraternal, de amizade profunda e constante entre Estados, pátrias e povos, que estaremos uns e outros a construir o mesmo desígnio: ter cada pessoa concreta como princípio e fim da nossa actividade colectiva”.
Marcelo Rebelo de Sousa já se tinha referido ao massacre de Batepá nos brindes do jantar oficial oferecido, na véspera, pelo homólogo santomense, quando evocou “os episódios de sofrimento e opressão que fazem parte do passado comum”. “Assumimos tudo de bom e de mau que povoou esse passado comum, e nessa História cabe, na sua brutal violência, o massacre de Batepá, há 65 anos”, disse.
Também não pediu desculpa, mas considerou-o “intolerável e condenável”, nestes termos: “E nem o facto de o vivido o ter sido noutros tempos, com outras visões, nos isenta de reconhecermos todo o peso intolerável e condenável de sacrifício de pessoas e comunidades”. E no mesmo passo evocou, “com respeito e admiração, os que lutaram pela liberdade e os que perderam a vida nessa luta”.
Os jovens do grupo Leonino que nesta quarta-feira cantaram e dançaram para o Presidente da antiga metrópole colonizadora, também têm um sonho de futuro: ir a Fátima, como católicos que são, mostrar as suas marchas tropicais.
Mais tarde, questionado sobre a existência de um relatório sobre o massacre que terá sido feito no início da democracia mas que ainda estaria classificado, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que qualquer documento pode ser tornado público 30 anos depois da classificação e que se iria informar da situação ao chegar a Lisboa. Até porque “os documentos não são classificados por motivos circunstanciais” , frisou Augusto Santos Silva.O pêndulo e o árbitro
Marcelo Rebelo de Sousa começou o segundo dia de visita oficial na Escola Portuguesa e depois na Universidade, onde a turbulência na vida política são-tomense veio ao de cima. Um aluno de Direito acusou São Tomé de estar a viver num “sistema hitleriano, em que uma mesma pessoa é a Constituição, o Presidente da República, da Assembleia e do Tribunal Constitucional”; outro pediu “conselho” sobre o que fazer a um professor a quem faltarão qualificações; e uma recém-licenciada perguntou porque é que são os são-tomenses a ir estudar para Portugal e não os professores a fazer a viagem em sentido contrário.
Marcelo foi pedagógico e diplomático. Lembrou estar em visita de Estado e que não se deve pronunciar sobre a vida interna do Estado visitado, mas lá acabou por dizer que “a democracia tem de ser construída todos os dias, como a independência”, e que só há uma forma de se construir uma sociedade civil forte: “Fazendo, intervindo”. Salientou os pontos fortes da cooperação portuguesa, prometendo que será reforçada ainda este ano. E no final, deixou um conselho: “Não gostam de um professor? De um político? Lembrem-se: tudo isso passa. Só a capacidade de criar e de sonhar é que não".
À tarde, o chefe de Estado subiu a Neves, para conhecer a obra das Irmãs Franciscanas numa zona remota e ainda mais pobre da ilha, que dá educação a 1200 crianças, da creche à 5.ª classe, mantém um lar de idosos e anima actividades desportivas. No campo do Benfica local, entraram duas equipas de miúdos – alguns com sapatilha só no pé direito - para um jogo de futebol de cinco e Marcelo foi o árbitro.
No final, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, matou saudades do comentário político: “O Presidente cumpriu as suas funções de árbitro de forma totalmente imparcial e não teve que exercer a sua função de poder moderador, porque os jogadores portaram-se com o maior fair play. Tal como acontece em Portugal”.








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