O Apsarases apresenta-te uma fusão entre fado e flamenco: dois f´s à primeira vista tão diferentes e distantes, mas que casam tão bem. Quem nos conta esta estória é Marta Chasqueira, com a técnica e alma de quem vive a vida a dançar.
Os primeiros passos na dança foram dados com oito anos em aulas de ballet, clássico espanhol, sevilhanas e flamenco. Seis anos depois cruzava-se com aquela que considera ser a sua grande mestra: Ana Maria Martinez. Em 2005, Marta Chasqueira foi uma das fundadoras do grupo Hijas del Flamenco, no qual posteriormente assume funções de coreógrafa e diretora artística. Entretanto abriu uma escola de flamenco em nome próprio onde recebe com frequência vários professores vindos de Espanha.
Como a própria afirma, em 2014 optou por seguir um “caminho em nome próprio” e, é nesta viagem que fado e flamenco se unem, naquilo que apelida de “(re)construção identitária”.
Maldição – Gisela João
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“Acredito, como lema de vida, naquela doçura feroz, naquela genuinidade com picardia, naquela humildade confiante, naqueles saltos altos que se descalçam”, estas palavras são da bailarina e destinam-se à fadista. O tema Maldição foi escolhido para homenagear as “Meninas-Mulher (…) que ousam rasgar-se, não para se destruírem mas para se conhecerem”.
O fado e o flamenco encontram-se aqui por meio da voz de Gisela João e dos movimentos de Marta Chasqueira. Na alma e na verdade de ambas. Sobre a primeira pouco mais há a acrescentar: em 2013 apresentou o primeiro álbum a solo, conquistou o público e a crítica e desde então não para de somar prémios e elogios, tendo já sido aclamada a melhor voz depois de Amália Rodrigues. A segunda não é tão conhecida, mas é quem queremos destacar.
O trabalho consistente desenvolvido por esta bailarina e coreógrafa ao longo dos anos reflete a maturidade com que se apresenta. Destaque para a intencionalidade de cada gesto, uma procura de representar as palavras, que nos faz entrar, quase inconscientemente, neste jogo de mímica.
Espelho de Alice – Ana Moura
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Este segundo momento é fruto não de duas, mas de três artistas: a fadista Ana Moura, a bailarina Marta Chasqueira, e a coreógrafa Cristina Hall. É, mais uma vez, a prova de que a tradição pode ser renovada, de que a simplicidade não tem que ser simplista. Aqui não há excessos, há harmonia, sem que isso implique abdicar da expressividade. Nas palavras da protagonista há “um corpo, livre, a contar as suas dores, o seu caminho, a sua transformação”.
O espetáculo Identidade F juntou em palco fadistas como Sara Correia, Catarina Rosa, Diana Vilarinho e Miguel Ramos que deram voz ao baile de Marta.
Chegamos então à conclusão de que fado e flamenco não têm que alimentar aquela rivalidade histórica que separa dois países. A coexistência dos dois f’s é enriquecedora não só para quem faz, como para quem vê. No seu íntimo, os dois f’s apresentam formas similares de sentir e viver. Têm a mesma capacidade de emocionar, estremecer, envolver, impressionar e arrepiar. Marta Chasqueira escreveu que faz todo o sentido gritar “Olé Fadista!” e nós acrescentamos: “Silêncio que se vai dançar o fado”!
espalhafactos.com
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