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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A ESCONDIDA “GUERRA POPULAR” CONTRA O CORONAVÍRUS





VÍDEO

Os cientistas chineses identificaram numa semana a sequência do genoma do coronavírus detectado na China, colocaram imediatamente os dados ao dispor da comunidade científica planetária e abriram caminho à elaboração da vacina. É um feito histórico: as instâncias científicas norte-americanas demoraram dois meses e meio a obter os conhecimentos equivalentes sobre o ébola.


Entretanto, em Wuhan – região com 56 milhões de pessoas – trava-se uma “guerra popular”, em grande parte com suporte voluntário, para conter a disseminação do vírus e cuidar dos infectados. É uma realidade mal conhecida: enquanto isso, os media corporativos desdobram-se em insinuações de guerra fria sobre a “ameaça chinesa”, dando origem à multiplicação de casos de xenofobia contra cidadãos orientais.
Pepe Escobar, Asia Times/n´O LADO OCULTO

O presidente chinês, Xi Jinping, declarou formalmente ao presidente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, durante uma reunião efectuada no início da semana, que o surto de coronavírus “é um demónio e, como tal, “não podemos permitir que se esconda”.

Ghebreyesus, por seu lado, não escondeu elogios a Pequim pela sua estratégia de resposta extremamente rápida e coordenada – que inclui a identificação rápida da sequência do genoma. Cientistas chineses já fizeram chegar o genoma do vírus a colegas russos, com testes rápidos capazes de identificá-lo num corpo humano num espaço de duas horas. A Rússia e a China estão a colaborar no desenvolvimento de uma vacina.

O diabo, claro, está sempre nos pormenores. Numa questão de dias, no auge do período de viagens mais congestionado do ano na China, as autoridades chinesas conseguiram colocar de quarentena um ambiente urbano com mais de 56 milhões de pessoas, incluindo a megalópole de Wuhan e três cidades vizinhas. É a primeira vez que tal acontece em termos de saúde pública e em qualquer momento da História.

Wuhan, com um crescimento do PIB de 8,5% ao ano, é um importante centro de negócios para a China. Situa-se na encruzilhada estratégica dos rios Yangtzé e Han e num entroncamento ferroviário – entre o eixo Norte-Sul que liga Guangzhou a Pequim e o eixo Leste-Oeste, ligando Xangai a Chengdu.

Enquanto o primeiro-ministro, Li Keqiang, se deslocou para Wuhan o presidente Xi visitou a província meridional estratégica de Yunnan, onde examinou o enorme aparelho governamental montado para aumentar o controlo e os mecanismos de prevenção sanitária, de modo a limitar a propagação do vírus.

O coronavírus chegou à China num momento extremamente sensível: depois das tácticas (fracassadas) de guerra híbrida aplicadas em Hong Kong; em plena ofensiva norte-americana de apoio a Taiwan; durante uma guerra comercial que está longe de ser resolvida com um mero acordo de “fase 1” e enquanto novas sanções estão a ser planeadas contra a Huawei; e até o assassínio do major-general iraniano Qasem Soleimani, que visa atingir, em última análise, a expansão da Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) no sudoeste da Ásia através do eixo Irão-Iraque-Síria.

Ao quadro geral acresce uma guerra total de informação no Ocidente repisando sem descanso a “ameaça chinesa” – agora até metastizada com conotações racistas e as insinuações de “perigo biológico”. Deste modo, quão vulnerável será a China?

Uma guerra popular

Há quase cinco anos opera em Wuhan um biolaboratório de segurança máxima dedicado ao estudo de microrganismos altamente patogénicos; foi criado em parceria com a França na sequência da epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa). Em 2017, a revista Nature alegou a existência de riscos de dispersão de agentes patogénicos no exterior do laboratório, mas não há qualquer prova de que isso possa ter acontecido.

Em termos de gestão de crises, o presidente Xi parece estar à altura da ocasião – garantindo que a China lute contra o coronavírus com a máxima transparência. Pequim instruiu todo o aparelho governamental, em termos inequívocos, para não encobrir dados. Foi criada uma página de internet em inglês de disponibilidade universal e com actualização em tempo real.

Um post que se expandiu rapidamente através da Ásia há alguns dias afirma: “Em Wuhan entrámos realmente em estado de guerra popular contra a nova pneumonia viral”; e muitas pessoas, “principalmente membros do Partido Comunista”, tornaram-se “voluntárias para colaborar sob a orientação das unidades de rua”.

A orientação fundamental transmitida pelo governo vai no sentido de todas as pessoas instalarem uma aplicação do WeChat designada “Wuhan Neighbours. Por essa via determina-se “o endereço de quarentena de cada casa via satélite e insere-o na rede comunitária e de voluntários filiados; a partir daí, as actividades sociais dos moradores e as informações de que devem ter conhecimento serão partes do sistema”.

Teoricamente, o processo permite que “qualquer pessoa com febre possa relatar o seu estado através da rede e o mais rapidamente possível. O sistema fornecerá imediatamente um diagnóstico online, localizará e registará o endereço de quarentena. Caso seja necessário um médico, a comunidade em rede providenciará uma viatura para transporte ao hospital, a cargo de voluntários. O sistema informará em tempo real sobre todo o processo: hospitalização, tratamento em casa, alta, casos de morte…”

Deste modo, milhões de cidadãos chineses estão totalmente mobilizados no que já foi designado “uma guerra popular” recorrendo a “altas tecnologias para combater doenças”. Milhões de pessoas estão igualmente a extrair as suas conclusões quando comparam os fins com que são usados estes apurados meios tecnológicos e a multiplicação de aplicativos de software em Hong Kong para desestabilizar o território e combater a polícia.

Quebra-cabeças biogenético

Em termos de gestão de crise, a velocidade de resposta científica chinesa pode considerar-se impressionante – o que obviamente não merece qualquer relevo em ambiente de guerra total de informação. Compare-se o desempenho chinês com a actividade do Center for Desease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, sem dúvida a principal agência de pesquisa de doenças infeciosas do mundo, com um orçamento anual de 11 mil milhões de dólares e 11 mil funcionários.

Durante a epidemia de ébola na África Ocidental em 2014 – requerendo urgência máxima e enfrentando um vírus com uma taxa de mortalidade de 90% – o CDC levou pelo menos dois meses e meio para obter a primeira amostra de paciente e a sequência completa do genoma. A China fez agora esse apuramento em alguns dias.

Durante a gripe suína nos Estados Unidos em 2009 – 55 milhões de cidadãos norte-americanos infectados e 11 mil mortos – o CDC levou mais de um mês e meio a criar kits de identificação.

Os cientistas chineses demoraram apenas uma semana a estabelecer a primeira amostra de pacientes para identificação e as sequências vitais completas do coronavírus. Feito isso, enviaram os dados para publicação e depósito na biblioteca de genomas, de modo a tornarem-se acessíveis em todo o planeta. Com base nessa sequência, as empresas chinesas de biotecnologia efectuaram ensaios validados de vacinas no prazo de uma semana – também algo nunca conseguido na História.

Além disso, verificou-se a notável construção de um hospital de última geração em Wuhan em tempo recorde, destinado apenas a vítimas do coronavírus. Todos os tratamentos são gratuitos. Estes acontecimentos vieram também reforçar o impulso da Healthy China 2030, a reforma do sistema de saúde do país.

O coronavírus abre uma verdadeira caixa de Pandora em biogenética. Permanecem questões sérias sobre a realização de experiências in vivo por impérios farmacêuticos sem autorização dos “pacientes”; e não pode ignorar-se a psicose colectiva expandida pelos media corporativos ocidentais, e de certa forma até pela própria OMS, em torno do coronavírus. Este pode muito bem vir a ser mais um pretexto para a realização de experiências genéticas através de vacinas.

Enquanto isso, parece vir a talhe de foice recordar Mao Tse-tung, para quem as duas principais variáveis políticas eram “independência” e “desenvolvimento”. Essas circunstâncias implicam soberania total. Como Xi Jinping parece determinado a provar que um Estado-civilização soberano é capaz de vencer uma “guerra popular” científica, isso não revela propriamente “vulnerabilidade”.



Via: CONVERSA AVINAGRADA http://bit.ly/36X4r50

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