O rei D.Dinis tem tido pouca sorte no seu descanso eterno em Odivelas, no mosteiro fundado em 1385. O seu túmulo foi vandalizado. Roubaram-lhe a espada e as esporas. E a abóbada da igreja também lhe caiu em cima com o terramoto de 1755.
O túmulo de El Rei D. Dinis está a ser recuperado graças à iniciativa popular do jornalista Armando Seixas Ferreira, criador da página no Facebook “Vamos Salvar o Túmulo de D. Dinis”. E ao interesse da Câmara Municipal de Odivelas.
D. Dinis foi um Rei-poeta. Entre muitas boas coisas, plantou há 600 anos o Pinhal de Leiria, para reter o avanço do mar.
Nós deixámo-lo arder por inteiro em dois dias, há três anos.
Mas naquele tempo, a vida não era fácil para as mulheres, nem mesmo sendo Altezas Reais. Isabel de Aragão foi oferecida ao Rei de Portugal, por conveniência das famílias reais de Portugal e Aragão. Era uma menina, tinha apenas 11 anos. O casamento foi por procuração, consumado um ano depois quando se celebrou a cerimónia na vila de Trancoso em 1282. Imaginem o trauma…
A Rainha apoiou-se o mais que pode na religião e em atos de caridade, de tal modo que era considerada uma mulher santa.
A lenda sobre o milagre das rosas demonstra bem a animosidade que existia no casal real. Ela dava pão aos pobres, ele proibia-a. Além disso, a História relata que D. Dinis não lhe seria inteiramente devotado e visitaria as freiras bernardas do Convento de Odivelas. O que não vem nos livros, vive na tradição oral popular que jura ter a Rainha rogado várias pragas ao Rei por causa das humilhações que sofria.
Assim, o infortúnio de D. Dinis, após a morte, é explicado pela maldição dos desentendimento com a Rainha Santa Isabel. Por isso, a Rainha pediu para ser sepultada em Coimbra. O Rei escolheu Odivelas, sempre ficava junto das suas meninas. Ao contrário da tradição que colocava os túmulos dos casais reais lado a lado. O Papa Clemente V pediu a Isabel de Aragão que reconsiderasse, mas sem sucesso.
Durante séculos o túmulo foi maltratado, embora tenha escapado ao vandalismo das invasões napoleónicas. O que é um mistério. O túmulo nunca foi aberto.
Mas foi muito mutilado e depois mal reparado pelos artesãos da Rainha Estefânia, no séc. XIX, que fizeram desaparecer a espada e as esporas da pedra.
Já Almeida Garrett se indignara com o estado do túmulo, como conta na Lírica de João Mínimo, de 1829. Mas a coisa passou. E depois o Mosteiro de Odivelas serviu de lar ao Instituto de Odivelas. E agora o instituto foi transferido para o Colégio Militar.
A Câmara Municipal de Odivelas deitou então mãos à preservação do mosteiro e do túmulo do Rei lavrador. Não tinha sido suficiente Garrett, foi necessário o alerta do jornalista Armando Seixas Ferreira. Jornalismo de mérito.
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