O ex-sindicalista e agente do Corpo de Intervenção Manuel Morais, conhecido pelo seu ativismo antirracista, desmente o presidente do maior sindicato da PSP que, em entrevista ao DN, tinha negado que Morais tivesse sido expulso desta organização sindical, onde foi dirigente 30 anos, por causa das suas denúncias racismo nas forças de segurança.
Questionado sobre a expulsão de Manuel - em maio de 2019, depois de ter denunciado, a existência de racismo nas forças de segurança - Paulo Santos, presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP), o mais representativo da PSP, respondeu que "o Manuel Morais não foi expulso da ASPP, e não saiu da ASPP por ter denunciado o que quer que seja".
Recorde-se que nessa altura, conforme o DN noticiou, o então presidente da ASPP, Paulo Rodrigues, estava a ser pressionado por sócios e, principalmente, por polícias que nas redes sociais e numa petição pública exigiam a demissão deste dirigente.
Na origem da onda de contestação estava a opinião que Manuel Morais, 54 anos, na altura vice-presidente da ASPP, expressou numa reportagem da SIC sobre a intervenção policial violenta nas zonas urbanas sensíveis, na qual alertava para a necessidade de "desconstruir" o preconceito racial "na sociedade em geral", assumindo que o racismo e a xenofobia existem também nas forças de segurança.
Cerca de um ano antes - quando estava a começar o julgamento dos 15 agentes da PSP da esquadra de Alfragide acusados de racismo e tortura na Cova da Moura - numa entrevista ao DN em que também denunciara essas questões, foi também alvo de contestação interna, mas nessa altura a ASPP ainda o apoiou.
Perante as declarações de Paulo Santos este sábado, Manuel Morais fez questão em reforçar a sua versão dos acontecimentos da altura e porque foi afastado do seu sindicato.
"Hoje, alguns camaradas, depois de lerem uma entrevista que atual presidente da ASPP, Paulo Santos, deu ao Diário de notícias, confrontaram-me sobre a questão do meu afastamento da ASPP, e os verdadeiros motivos que levaram ao meu afastamento.
Sinto-me obrigado a clarificar este assunto por uma questão de honra", refere Manuel Morais na sua página de facebook.
O agente, que é fundador da movimento 100 Racismo e da Associação 100 Violência, afirma que foi mesmo "afastado pela direção da ASPP" e que "não é menos verdade que as razões que motivaram a direção a tomar essa decisão" foram as suas "declarações sobre os preconceitos étnicos na sociedade e nas forças de Segurança - qualquer outra versão é pura ficção".
Manuel Morais aproveita ainda para criticar Paulo Santos pelas suas "declarações sobre, o racismo e a xenofobia nas forças de segurança", sublinhando que estas não o "surpreendem em absoluto".
Ironizando com o facto do presidente da ASPP ter garantido que não via "infiltrações de extrema direita, nem de extrema esquerda na PSP", Morais diz que Paulo Santos "não vê nada, aliás, porque nunca viu nada, e tenho a certeza nem nunca chegará a ver nada. Há pessoas que nascem com essa capacidade...Ou então, ver é um dom que Deus não proporciona a toda a gente."
Contactado pelo DN, sobre esta publicação pública, Paulo Santos respondeu: "além do que está na entrevista não tenho nada mais a acrescentar".
Nesta entrevista, o presidente da ASPP, questionado sobre se polícias como Manuel Morais eram um exemplo ou um incómodo, respondeu assim: "não o vejo como um exemplo nem como um incómodo.
Vejo o Morais com uma agenda que é dele e que a ASPP não tem de se pronunciar sobre uma agenda cujos pressupostos são desconhecidos. Agora se me perguntar se a ASPP defende os valores do Estado de Direito Democrático, basta ir ao nosso histórico para ver que essa sempre foi a nossa luta. Valores como a solidariedade e a fraternidade estiveram na origem da ASPP. Não precisamos que venha um Morais ou outro agente ensinar-nos isso".
Manuel Morais está neste momento sujeito a uma pena disciplinar que lhe impõe uma suspensão por 10 dias, por ter chamado "aberração" a André Ventura e ter apelado a que as ideias racistas fossem "decapitadas".
Recorreu da decisão do seu comandante, Paulo Lucas, que lidera a Unidade Especial de Polícia da PSP, e está a aguardar o veredicto fina do diretor nacional da PSP, Manuel Magina da Silva.
Na contestação ao castigo, Manuel Morais, contou com os testemunhos a seu favor de Ana Gomes, ex-eurodeputada, ativista de Direitos Humanos e a 2ª classificada nas eleições presidenciais de janeiro passado; do ex-ministro da Administração Interna e comentador da CMTV, o penalista Rui Pereira, e do juiz jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, membro do Conselho Superior de Magistratura, Bernardo Colaço.
"Alarmante que a atual direção da PSP aplique pena disciplinar a um dos seus agentes que mais tem promovido a imagem da PSP como força de proteção dos cidadãos em defesa dos direitos fundamentais e da democracia, enquanto a mesma Direção mantém ao serviço e tarda em dar cumprimento a penas confirmadas por Tribunal da Relação recaindo sobre agentes condenados por crimes de agressão e sequestro no chamado processo "Cova da Moura", declarou, na altura ao DN, Ana Gomes
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