Francisco Lima, presidente do INE, considera que «vai deixar de ser necessário fazer inquérito à população». Ou seja, os Censos de 2021 «serão os últimos a serem feitos nestes moldes» (com a inquirição de todos os residentes). Uma convicção assente na ideia de que, com o recurso a dados administrativos, passará a ser possível dispor de informação censitária com uma periodicidade anual, em vez de decenal.
Nos últimos censos, realizados em 2011, curiosamente, a então presidente do INE, Alda Carvalho, expressava já a vontade de que fossem os últimos realizados com recolha direta da informação junto da população. Nessa altura, ainda não havia certezas sobre a existência de «toda a informação necessária» nas bases de dados administrativos. Mas o trabalho de verificação da informação disponível estava já a ser feito.
É provável que o otimismo em relação a esta possibilidade de recensear sem inquirir se justifique. Mas importa lembrar que há vários indicadores importantes que não tiveram qualquer atualização (por via administrativa) desde os Censos de 2011. Dois exemplos, entre outros: a distribuição da população segundo a dimensão dos lugares e o número de fogos devolutos. Os últimos dados exaustivos que se conhecem, nestes dois casos, são de 2011.
Acresce que a última década compreende dois períodos muito distintos. O primeiro (2011-2015), profundamente marcado pelas convulsões causadas pelos «anos de chumbo» da troika e pelas políticas de «empobrecimento competitivo» da direita. O segundo (2015-2021), marcado pela relativa recuperação dos danos causados, já com a maioria de esquerda no poder, mas também, desde o ano passado, pelos impactos da crise pandémica. Ou seja, como sugerido aqui, não teria sido nada má ideia que o INE tivesse realizado, em 2015, uns censos intercalares. Aliás, por inquérito direto ou por recurso a bases administrativas, é impensável que diversos indicadores tenham que voltar a esperar dez anos pela sua atualização.
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