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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Fim dos "Médicos pela Verdade": o Chega e as afinidades que a VISÃO destapou


 

visao.sapo.pt 


Sem pompa, mas ferido pelas circunstâncias, o movimento Médicos pela Verdade suspendeu a atividade e encerrou o seu site e páginas nas redes sociais. 

“A nossa vontade e a nossa determinação em divulgar ciência e em expor alternativas continuam vivas e irão seguir em frente, mas o ambiente concentracionário e repressivo em que vivemos e que vem sendo acentuado desde a nossa fundação, aconselha a que por ora não se vá mais além neste formato. Vamos suspender a nossa página e o nosso site até que sejamos todos livres de novo”, anuncia-se num comunicado colocado no sítio oficial do movimento associado às teses negacionistas sobre a gravidade da pandemia. De acordo com o Observador, o coordenador Alfredo Rodrigues referiu-se ao fim do grupo num vídeo transmitido no Facebook, com acusações para o interior do mesmo: “A esmagadora maioria dos membros do grupo falhou sempre quando era necessário estar presente”.

Desde outubro que os Médicos Pela Verdade eram alvo de críticas por causa das suas posições contra a gestão da pandemia – cuja gravidade contestava – o uso generalizado de máscaras, o isolamento de assintomáticos e a utilização de testes PCR. As redes sociais eram a sua praia, mas as suas ações e opiniões, muitas delas sem qualquer fundamento médico e científico, levaram a Ordem dos Médicos a abrir um inquérito às atividades do grupo. Oficialmente, o movimento e os seus objetivos serão agora…repensados.

Chega escondido com movimento de fora?

Foi em dezembro que uma investigação da VISÃO permitiu iluminar os bastidores dos Médicos pela Verdade e destapar o perfil do seu coordenador. Desde logo, saltou à vista o longo braço do Chega na multiplicação de movimentos “pela verdade” que se plantaram no Facebook e aí cresceram como cogumelos. 

O partido de André Ventura, os seus membros e simpatizantes contaminam e partilham páginas de alegados jornalistas, juristas, enfermeiros e professores “pela verdade”, todos com milhares de seguidores, reais ou fictícios, por vezes terçando armas pelo negacionismo ou alimentando outras conspirações.

Na altura, a VISÃO passou uns dias na morada virtual dos Médicos pela Verdade, então com quase 43 mil seguidores. 

A ideia ter-se-á iniciado na melhor das intenções: reunir profissionais de saúde preocupados com os doentes e saúde das crianças, jovens e mais velhos em tempo de pandemia. Mas cedo se percebeu que a “casa” montada no Facebook não tinha seguro contra “infiltrações”.

O publicitário Alfredo Rodrigues fazia a coordenação informática dos Médicos Pela Verdade. Pelo menos, era essa a sua versão. Mas a verdade tem mais que se lhe diga: de acordo com o relato de membros do grupo que dele se distanciaram no final do ano passado, Alfredo destacava-se pelo caráter conflituoso, agressivo e persecutório. Foi a partir de entrevistas aos principais rostos do movimento, com o médico Gabriel Branco em destaque, que Alfredo sugeriu a criação do grupo e assumiu o papel de “comandante das tropas” nas redes sociais, arrebanhando os médicos que iam sendo sugeridos. Adiantou o dinheiro para pagar a sala no Hotel Altis, em Lisboa, para a primeira conferência, a 29 de agosto, e contou com a mobilização de outros ativistas de fresca data, ligados ao grupo “Verdade Inconveniente”. Apesar do seu desmentido, metade dos 2105 euros do aluguer da sala foram liquidados pela associação congénere espanhola, Medicos por la Verdad, cuja porta-voz, Natalia Prego, tem sido descredibilizada pela postura negacionista que assumiu em relação ao coronavírus.






O advogado de Mário Machado

Alfredo tentou ainda convencer o fundador Gabriel Branco a dar entrevistas ao canal digital do negacionista João Tilly, líder distrital do Chega em Viseu, e ao Notícias Viriato, de tendência nacionalista de direita, mas o médico recusou politizar o grupo. Aos Médicos pela Verdade juntaram-se a anestesiologista Maria de Oliveira e José Manuel Castro, advogado do neonazi dos Hammerskins e da NOS, Mário Machado, que ofereceu os seus serviços pro bono. Mandatado pelo advogado do night-club Elefante Branco, Alfredo promoveu, nas “redes”, uma recolha de fundos destinada a promover uma “ação popular” contra as medidas do Governo, a 50 euros por cabeça.

Durante anos, o “gestor” informático dos Médicos pela Verdade representou, em Portugal a sociedade Zeek Rewards, na verdade um esquema em pirâmide online que defraudou um milhão de pessoas nos EUA e noutros países com promessas de rendimentos avultados. Paul Burks, o mentor daquela que é considerada uma das maiores burlas de sempre (superior a 900 milhões de dólares), foi condenado a mais de 14 anos de prisão em 2017, mas Alfredo Rodrigues sempre defendeu a empresa nos fóruns e páginas de investidores que, anos antes da derrocada, já se queixavam ou alertavam para os indícios de fraude. Sobre isto, o visado não falou à VISÃO, considerando serem assuntos da sua “área privada”.   Inflamado propagandista da página “queroemigrar.com” no Facebook, emitida a partir de Bruxelas e com mais de 56 mil seguidores, Alfredo é um guru do “desenvolvimento pessoal” e do marketing multinível. Tanto promove sessões de “apoio holístico” como comenta o programa do Chega, do qual nega ser militante, sem disfarçar afinidades. 

“Um partido que pensa em nós, que estamos longe de Portugal, finalmente”, saudou, quando Ventura lançou o projeto político. Alfredo até já comparou as propostas do Chega a “um verdadeiro tratado filosófico (…) Só me lembro de ter tido um gozo tão grande quando li a Utopia, de Thomas Moore”, admitiu. 

A sua filosofia é simples: se Ventura “mete os pés”, ele critica. “Quando diz coisas que fazem sentido, eu apoio”. 

A segunda acontece mais vezes.


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