O QUE ESTÁ EM CAUSA?
A psicóloga e antiga deputada do Bloco de Esquerda publicou dois "tweets" alegando que em Portugal não existe um único epidemiologista, baseando-se numa suposta tabela do Instituto Nacional de Estística (INE) com o número de médicos por cada especialidade ou competência no país. Verdade ou falsidade?

"Sabem quantos epidemiologistas tem Portugal? Zero", escreveu Joana Amaral Dias na sua página no Twitter, a 9 de fevereiro. Poucas horas depois publicou um segundo tweet com mensagem praticamente similar - "Em Portugal existem zero epidemiologistas. Zero!" - e remetendo para uma tabela do INE com o número de médicos por cada especialidade, subespecialidade ou competência no país, alinhados mediante o local de residência. Esses dados são referentes ao ano de 2019.

A partir da tabela, Amaral Dias conclui que em Portugal não existe um único epidemiologista. Tem razão?

Questionada pelo Polígrafo, Elisabete Ramos, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Epidemiologia (APE), começa por explicar que um epidemiologista "estuda os determinantes de saúde e doença, isto é, quantifica a ocorrência de eventos e estuda o porquê daquele evento naquele contexto, considerando a população, o lugar, e o momento", cabendo-lhe igualmente "a utilização desse conhecimento para encontrar soluções que visem melhorar a saúde da população".

Uma vez que o exercício da Epidemiologia “envolve conhecimentos de diversas áreas científicas, por exemplo Medicina, Matemática, Demografia", há diversas profissões que podem exercer funções nesta área, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos ou matemáticos. Porém, a formação de base deve ser complementada "com formação específica em Epidemiologia", sublinha Ramos.

A formação é obtida "através de mestrado ou doutoramento em Epidemiologia ou em áreas afins com especialização em Epidemiologia, ou um curso na área reconhecido como tal". 

Nesse âmbito, a presidente da APE exemplifica: “O mestrado em Saúde Pública da Universidade do Porto pode atribuir como área de especialização a Epidemiologia, considerando a formação e a tese desenvolvida para a obtenção do grau".

Relativamente ao número de médicos especialistas em Epidemiologia em Portugal, Ramos indica que "o processo para atribuição da competência em Epidemiologia na Ordem dos Médicos iniciou-se no final na década de 1990, num processo relativo a seis médicos que não chegou a ser concluído e, por essa razão, não há nenhum com a competência formalmente atribuída".

"Um desses seis médicos é o português com mais trabalho em Epidemiologia, o professor Henrique Barros. O reconhecimento internacional do seu trabalho como epidemiologista foi expresso na sua eleição para presidente de Associação Internacional de Epidemiologia", conclui Ramos.

Em suma, a tabela do INE refere-se exclusivamente a médicos, não englobando outros profissionais com especialização em Epidemiologia. A APE tem cerca de 280 associados, todos epidemiologistas.

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Avaliação do Polígrafo:

FALSO
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