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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Lenços tradicionais portugueses - trajes típicos

 


Tabaqueiro conhecido pelo "O Alcobaça", séc. XIX - Lenços e Colchas de Chita de Alcobaça. Museu de Alcobaça, 1988. IPPC.

lenço tabaqueiro conhecido pelo "O Alcobaça", é um grande lenço quadrangular de algodão, de fundo vermelho, azul ou amarelo, lavrado com barras de diferentes tipos e cores. Originalmente foi fabricado pela Real Fábrica de Lençaria e Tecidos Brancos de Alcobaça, fundada em 1774. 


Tabaqueiro conhecido pelo "O Alcobaça", séc. XIX - Lenços e Colchas de Chita de Alcobaça. Museu de Alcobaça, 1988. IPPC.

Lenço estampado conhecido por "Lenço de Alcobaça" - Lenços e Colchas de Chita de Alcobaça. Museu de Alcobaça, 1988. IPPC.
Lenço estampado conhecido por "Lenço de Alcobaça" - Lenços e Colchas de Chita de Alcobaça. Museu de Alcobaça, 1988. IPPC.

A Real Fábrica é transmitida a título de venda à Sociedade Carvalho e Guillot, em 1792. Com esta sociedade assiste-se ao aumento da especialização e actualização do equipamento técnico.

É por volta de 1815-18 que se fixa e aperfeiçoa o célebre lenço denominado "O Alcobaça". A procura acentuada deste lenço, dito tabaqueiro, "obriga" a que se fabriquem 97 padrões, com 8, 10, 12, 14 e 18 cores.
"O Alcobaça" é citado por escritores como Camilo Castelo Branco na "Brazileira de Prazins", Aquilino Ribeiro em o "Volfrâmio" e Júlio Dantas na "Severa".

Posteriormente em 1932, a Companhia de Fiação e Tecidos de Alcobaça, retoma o fabrico deste tipo de lenço.


(...)
Em 1820, é que se operou uma alteração mais acentuada no vestuário masculino. O innovador vintista, o "de vinte", vestia casaca de briche e tromblon (chapéu alto de pêlo),calça larga até à bota, collete de baetão pardo, castanho ou vermelho, abotoado de prata, bota de presilhas cahidas, collarinho de bretanha e lenço ramalhudo de Alcobaça. (...)
História do Trajo em Portugal; Lello e Irmão, Porto. Págs. 54-55  
Lenço de namorados; tecido de algodão, bordado a ponto pé de flor, ponto lançado, zig-zag e renda; A. 20,5 x L. 20,5; séc. XIX?; "Meu Manuel vai para o Brasil/ Eu também vou no vapor/ Guardada no coração/ Daquele que é meu amor" ; Viana do Castelo - Museu de Arte Popular
Lenço de namorados; tecido de algodão, bordado com fio de algodão encarnado; ponto cruz; A. 54,5 X L. 55 cm; Baixo Minho (1956-1975) - Museu Alberto Sampaio
Lenço de Amor ; tecido de linho, bordado com fio de algodão; ponto cruz, croché e ponto espiguilha; séc XX; L. 32,5 x A. 30 cm - Museu Nacional de Etnologia
Lenço de Amor; tecido, bordado com fio de algodão laranja e branco; ponto cruz, ponto de casear e crivo; L. 48,5 x A. 51 cm; séc XX - Museu Nacional de Etnologia
Lenço de Amor; tecido de algodão bordado com linha preta; ponto cruz, ponto de casear, ponto cheio e crivo; L. 48 x A. 44 cm; séc XX - Museu Nacional de Etnologia

Lenço de Namorados, confeccionado sobre tecido de linho ou lenço de algodão, era bordado com motivos variados, escolhidos pela sua autora. Esta peça de vestuário típico do Minho, era usada por mulheres em idade de casar. 

A rapariga apaixonada bordava o seu lenço com versos e desenhos, tendo simbologia própria, e entregava-o ao seu amado. Se o homem usasse o lenço em público demonstrava que tinha dado início ao namoro. A origem dos "Lenços de Namorados" ou "Lenços de Pedidos" está, provavelmente, ligada aos lenços senhoriais do século XVII e XVIII. Posteriormente foram adaptados pelas mulheres do povo, adquirindo um aspecto mais popular.


Lenços de cabeça, traje de lavradeira do Minho; sarja de lã estampada, com motivos florais, vegetalistas e cornucópias; franjas de lã; 1940; Santa Marta de Portuzelo - Viana do Castelo- Minho -Museu Nacional do Traje e da Moda 

Lenço de pescoço, traje de lavradeira do Minho; sarja de lã estampada, com motivos florais, vegetalistas e cornucópias; franjas de lã; 1940; Santa Marta de Portuzelo - Viana do Castelo- Minho - Museu Nacional do Traje e da Moda 
Minho; aguarela sobre papel (42 x 48cm); 1935; autora Raquel Roque Gameiro - Museu José Malhoa 
Lenço de cabeça (inteiro), de algodão, de forma quadrangular, de fundo azul estampado com motivos geométricos, florais e vegetalistas de cor castanho, branco e amarelo. Traje de Domingar.  Museu do Traje de Viana do Castelo; 2007. CM Viana do Castelo
Lenço de cabeça (inteiro), de sarja, de forma quadrangular, de fundo vermelho, estampado com motivos geométricos, florais e vegetalistas em cor-de-laranja e azul. Traje de Domingar.  Museu do Traje de Viana do Castelo; 2007. CM Viana do Castelo
Lenço de cabeça (inteiro), de  algodão, de forma quadrangular, de fundo azul, estampado com elementos florais e geométricos de cor branco e amarelo. Traje de Domingar.  Museu do Traje de Viana do Castelo; 2007. CM Viana do Castelo
Lenço de cabeça, de sarja de lã, bordado com motivos vegetalistas na cor violeta; A. 100 x L. 100 cm; 1976; Arcos de Valdevez (Minho); Arquivo comjeitoearte .

O traje de lavradeira do Minho ou traje à vianesa, foi usado pelas raparigas das aldeias rurais, próximas da cidade de Viana do Castelo, até ao início do século XX. Definido pela riqueza das cores e elementos decorativos, este traje é facilmente identificado com a região de origem. 

As saias resultam de uma variedade de combinações de lã, linho ou algodão, em cores e tons diversos. As camisas de linho branco, são decoradas com bordados, folhos e rendas. O colete muito curto, é guarnecido com barras de veludo preto lavrado. Os aventais estreitos e curtos, têm esplêndidos bordados em ponto de tapete, nas mais belas cores. Os lenços de cabeça são usados de diversas formas: em grande laço, fazendo diadema sobre os cabelos, achatados no alto da cabeça ou envolvendo o cabelo enrolado sobre a nuca. Tradicionalmente são de fundo vermelho, estampados com motivos geométricos, florais, vegetalistas e cornucópias. 


A rapariga da aldeia que cultivava o linho e criava as ovelhas, executava com frequência as peças de roupa que decorava com bordados. O traje era usado e mostrado com orgulho em momentos distintos da vida quotidiana, em que a mulher se queria apresentar mais bem arranjada, para ir à missa ou à cidade, à feira ou ao mercado ou às romarias.


Lenço de cabeça; seda de damasco com motivos florais e geométricos, em cor amarelo, azul, castanho e verde (séc. XIX-XX?); L. 100 X A. 100 cm; Trás-os-Montes - Museu de Arte Popular
Lenço, traje; seda de damasco cor-de-laranja, com motivos em brocado de cor amarelo, verde e violeta  (séc. XX); A. 93,5 X L. 92 cm; Trás-os-Montes? - Museu de Arte Popular
Lenço, traje; seda de damasco com motivos florais e vegetalistas (séc. XX); A. 100 X L. 90 cm; Trás-os-Montes (Miranda do Douro/ Duas Igrejas) - Museu de Arte Popular


O traje de trabalho da mulher da Nazaré, continua a ser usado no dia-a-dia pelas mulheres mais velhas. Em dias de festa e dias santos, o traje de festa é vestido com orgulho por todas as nazarenas. 

O lenço de pontas caídas, é usado sob a capa preta, e sobre esta, um chapéu de feltro grosso com abas reviradas e uma grande borla ao lado esquerdo. Debaixo da capa, a mulher veste blusa justa de chita de algodão, com ramagens, ou branca com flores. A "saia de cima" de escocês, de terylene plissada. de merino preto ou de chita com barra de veludo preto, cobre as sete ou oito "saias de baixo", de pano branco guarnecidas com bordado, de flanela ou algodão, com recortes e debruadas a crochet ou fita de várias cores. O avental de cetim ricamente bordado, acompanha a saia no seu comprimento. 


"Alzira" vestindo o traje tradicional da zona da Nazaré; lenço preto com flores vermelhas; aguarela sobre cartão; 1940; autor, Alberto Souza - Museu José Malhoa
Lenço feminino, traje de festa; lã com motivos geométricos (séc. XX); Nazaré - Museu Dr. Joaquim Manso
Traje típico da mulher da Nazaré (sete saias); lenço solto por debaixo do chapéu. Postal; autor Emílio Freixas Aranguren; arquivo, comjeitoearte.
Algumas maneiras de usar o lenço do traje tradicional da Nazaré; tinta da China sobre papel; 1955; autor, Abílio Mattos Silva -  Museu Dr. Joaquim Manso
Lenço, traje; lã merino, com padrão de motivos fitográficos geometrizados de cores azul, vermelho, amarelo, verde e castanho; séc. XIX - XX; L. 98 X A. 98 cm; Nazaré - Museu Nacional de Etnologia
Vendedeira de peixe, Lisboa; lenço de cor creme pendendo pelas costas; aguarela sobre papel; 1940; autor, Alberto Souza - Museu José Malhoa




Lenço de cabeça, traje de varina; lã, com padrão de motivos vegetalistas e geométricos, lavrado e bordado com fio de seda amarelo, sobre fundo roxo; A. 102 x L. 97,5 cm fabricado no Porto - Museu Nacional do Traje e da Moda

Na região saloia, situada nos arredores de Lisboa, o trajar da mulher definia-se pela blusa e saiotes de chita garrida, a saia a um palmo e meio dos pés, as botas de cano curto, o avental, que, para além da função utilitária de proteger a saia, era também utilizado como adorno e o lenço. O arranjo da cabeça era muito importante no traje da saloia. As que vinham no Inverno a Lisboa, envolviam o rosto nas reviravoltas do lenço, ficando apenas de fora os olhos e o nariz. 

No Verão, o calor não as impedia de usar o lenço. Solto ou cingido, a sua posição e arranjo dependia do uso e gosto da mulher. As duas pontas laterais do lenço, enlaçavam-se: nó à frente; nó atrás na nuca; do queixo para a nuca; nó pousado no cimo da cabeça... O chapéu de palha, amplo e de abas largas, colocado sobre o lenço, protegia-a do sol.


Ceifeiras - Lumiar; lenço estampado na cabeça, atado sobre a nuca; óleo sobre tela; 1839; autor, António Carvalho de Silva Porto - Museu Nacional Soares dos Reis
Raparigas do Paço do Lumiar, com trajes de saloia,saia comprida, casaquinha e lenço vermelho na cabeça; óleo sobre tela; 1881-1893; autor, António Carvalho de Silva Porto - Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Figurino "A Saloia do burro cebolinha" (Beatriz Costa) da revista "Lua-Cheia"; aguarela e lápis sobre papel; 1943; lenço amarelo com pintas vermelhas; autor, Adolfo Hubner - Museu Nacional do Teatro
Fotografia de cena da revista "Lua-Cheia; actores Costinha no papel de "Saloio do burro" e Beatriz Costa no papel de "Saloia do burro cebolinha"; 1934; autor, Horácio Novais - Museu Nacional do Teatro
Saloia de Sintra; lenço atado na nuca; aguarela sobre papel; 1940; autor, Alberto Souza - Museu José Malhoa


Lenço, traje; tecido de algodão com motivos florais, vegetalistas e geométricos, em cor amarelo vermelho e verde sobre fundo vermelho; L. 66 x A. 70 cm; séc. XIX - XX; fabricado por "A União de Sacavém" - Museu Nacional de Etnologia


O lenço que tu me deste
Tem dois corações ao meio:
Tu não descubras ao mundo
Donde este lenço veio.


No início do século XX, as mulheres da região do Algarve completavam o traje de trabalho com chapéu em feltro ou palha, de aba direita, colocado por cima do lenço de cor, em chita ou lã. Nos dias festivos adornavam o chapéu com uma pena de pavão, e colocavam-no sobre um lenço de seda. O lenço era usado completamente solto ou envolvendo a cabeça e atado atrás ou debaixo do queixo. 

A blusa era de chita, com manga larga e apertada nos punhos. A saia exterior de algodão escuro, rodada, com padrão de barras ou xadrez, descia até ao tornozelo. Por baixo desta, existia uma saia, rendada e com folhos, e um saiote, geralmente encarnado. O avental, comprido, liso ou com pequeno folho, protegia a saia. Usavam sapatos grosseiros no dia-a-dia, que, em ocasiões festivas, substituíam por uns de cabedal preto, com meia branca de linho.


Traje de trabalho da mulher do Algarve; lenço de forma quadrangular, em sarja de lã estampada com motivos florais vegetalistas e geométricos, em tons castanho, amarelo e vermelho. Barra azul escuro; 1940 - Museu Nacional do Traje e da Moda
Lenço de cabeça; algodão estampado com padrão de motivos florais e de influência oriental, em tons castanho, amarelo e verde, sobre fundo azul turquesa; barra com cornucópias entrelaçadas; séc. XIX - XX (?); L. 72 X A. 72 cm; Algarve - Museu de Arte Popular
Lenço, traje; algodão estampado com padrão de motivos florais com enrolamentos e grinaldas de cores azul, verde e rosa; séc. XIX - XX (?); L. 78,5 X A. 79,5 cm; Algarve - Museu de Arte Popular.
Traje típico da mulher do Algarve; lenço em tons vermelho e branco, atado sobre o queixo. Postal; autor Emílio Freixas Aranguren; arquivo, comjeitoearte.

Commercio portuguez em Bristol, e portos adjacentes, no anno de 1838.
(...) 
"Lenços de Tecido de Algodão da Fábrica dos Srs. Pomme & Cª, no Campo Pequeno, com Armazém na Travessa de S. Nicoldo, num. 41 e 42". 
Os Lenços de Algodâo desta Fabrica foram justamente elogiados, e especialmente pela bondade de suas côres e tecido. Esta manufactura tem gosado de constante preferencia desde a epocha em que os primeiros Lenços desda qualidade se principiaram a lavrar na Fabrica de Alcobaça; e póde afoutamente dizer-se, que ella, por seu fino e bem acabado, está quasi exempta de toda a concorrencia estrangeira. (...)
“ Chitas, e Lenços estampados da Fabrica da Sr.ª  Viuva Bandeira 8 Ca, em Chellas".
Os Lenços são de muita perfeição, e podem competir com os melhores, neste genero, das Fábricas estrangeiras. (...)
Mascarenhas, Antonio Barão. Commercio portuguez em Bristol, e portos adjacentes, no anno de 1838. Offerecido aosportugueses por A. B. de Mascarenhas. Editora Nathaniel Lomas, 1839


Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Len%C3%A7os_de_namorados
http://www.cm-viana-castelo.pt/pt/mt-apresentacao
Duarte, L. Cristina, Trajes Regionais, Gosto Popular, Cores e formas; 2007, CTT
http://www.freixas.es/caste/caste_index.htm
http://www.cm-nazare.pt/Home/Home.aspx


Traje de Domingar.  Museu do Traje de Viana do Castelo; 2007. CM Viana do Castelo


Mascarenhas, Antonio Barão. Commercio portuguez em Bristol, e portos adjacentes, no anno de 1838. Offerecido aosportugueses por A. B. de Mascarenhas. Editora Nathaniel Lomas, 1839

https://books.google.pt/books?id=KKZVAAAAcAAJ&dq=len%C3%A7os&hl=pt-PT&source=gbs_navlinks_s

comjeitoearte.blogspot.com

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