O velho
Essa mão no cajado
ainda à vida agarrado
e foram tantos os trabalhos
rugas vincadas no rosto
o olhar como um sol posto
no pensamento os retalhos
cabelos raros como secos galhos
ossos rangendo como soalhos
e a coluna dobrada
o velho avança lentamente
o horizonte já não é urgente
já é longa a caminhada
foi dura, penosa a estrada
numa existência atribulada
pouco a sorte o bafejou
restam agora recordações
moribundas as ilusões
que em jovem acalentou
na existência porque passou
sofreu, viveu só, e amou
num percurso diabólico
ás vezes conta as histórias
traz à luz as suas memórias
de voz cansada e melancólico
sua meta hoje em dia
na busca de alguma alegria
é nos bancos da aldeia
é aí junto aos amigos
que recordam amores e perigos
para espairecer a ideia
António Garrochinho
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