Partiram para a Síria para combater e morrer nas fileiras dos «rebeldes» que, afinal, eram o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. Os países que os elogiaram demoram a repatriar-lhes os órfãos.
Responsáveis da ONU apelaram aos países dos quais partiram combatentes para a guerra na Síria que assumam a responsabilidade de repatriar as crianças e mulheres que se encontram no campo de refugiados de al-Hol, informa a agência Associated Press.
As crianças são filhos e filhas de estrangeiros que foram para a Síria e o Iraque para combater contra os governos legítimos de ambos os países nas fileiras dos chamados grupos «rebeldes», que afinal se revelaram simples filiais do Estado Islâmico e da Al-Qaeda.
Sem qualquer relação com as populações das regiões onde actuavam, os combatentes estrangeiros foram responsáveis por numerosas atrocidades. Tomaram mulheres, muitas vezes entre as sobreviventes das comunidades por eles massacradas, e tiveram filhos que sucessivamente arrastavam conseguido para as zonas de guerra em que combatiam.
Derrotados pelas milícias xiitas no Iraque e pela coligação sírio-russo-iraniana na Síria, os combatentes e deixaram dezenas de milhar de viúvas e descendentes.
O campo de refugiados de al-Hol, na província de Hasaka, no norte da Síria ocupado pelos EUA e seus homens de mão no terreno, os membros das chamadas Forças Democráticas Sírias (FDS), é o maior do país, contando com cerca de 62 mil residentes dos quais, segundo a ONU, mais de 80% são mulheres e crianças, a maioria das quais fugiram depois da derrota do Estado Islâmico na Síria.
Cerca de 27 mil crianças permanecem «abandonadas ao seu destino» e «em risco de radicalização» no campo, alertou o responsável da ONU pela luta contra o terrorismo, Vladimir Voronkov, numa reunião informal do Conselho de Segurança das Nações Unidas na passada sexta-feira onde classificou a situação em que se encontram como «horrível» e «um dos problemas mais prementes da actualidade, em todo o mundo».
O responsável da ONU pelo contra-terrorismo responsabilizou pelas crianças os 60 estados de onde os seus pais partiram e deu como um exemplo positivo o caso da Rússia e do Casaquistão, que entre ambos já repatriaram cerca de mil crianças e suas famílias.
Afirmou que o estudo das experiências de repatriamento revela que «o receio de riscos securitários se tem revelado infundado» e defendeu que as crianças sejam «tratadas primariamente como vítimas» e que os menores de 14 anos não sejam detidos nem processados judicialmente.
«Merecem uma oportunidade na vida, como qualquer criança»
Voronkov defendeu a reintegração das crianças nas suas comunidades de origem como a melhor forma, comprovada historicamente, de recuperarem de uma experiência traumática.
A representante especial das Nações Unidas para as crianças e conflitos armados, Virginia Gamba, manifestou-se em sintonia com o seu colega.
«São crianças» acima de tudo, afirmou, crianças cuja saúde mental, segurança e desenvolvimento a longo prazo são hipotecadas pelas «dramáticas condições» a que estão sujeitas nos campos de refugiados no norte da Síria e do Iraque.
Lembrando que as crianças têm direito a uma nacionalidade e identidade e que não podem permanecer apátridas e estigmatizadas, Gamba defendeu o seu repatriamento como prioritário «no melhor interesse das crianças».
«Deve ser-lhes devolvida a infância e um ambiente em que possam construir um futuro afastadas da violência», disse Gamba, e lembrou que «merecem uma oportunidade na vida, como qualquer criança».
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