Bom dia,
As eleições presidenciais deram um sinal claro de que há apoio crescente entre os eleitores para o discurso que se dirige a quem se sente frustrado e esquecido por partidos políticos que desvalorizam os seus problemas. O recado, que noutros actos eleitorais foi transmitido através de votações amplas em propostas de extrema-esquerda, devia ser entendido e levado a sério. Tanto mais quando a mensagem protagonizada pelo líder do Chega surgiu embrulhada em ataques despudorados a valores essenciais de uma democracia, de um Estado de direito, de um regime decente.
A conjuntura não é a melhor para iniciativas mal pensadas, provavelmente originadas em processos de decisão mais baseados no monólogo do que no diálogo. Dar prioridade na vacinação contra a covid-19 aos titulares dos mais altos cargos do Estado é uma proposta razoável e sensata. Pegar na ideia e, como fez António Costa, alargá-la a pessoas saudáveis, que estão expostas como qualquer outro cidadão, mas que dispõem dos recursos para resistir a uma eventual infecção que faltam nas faixas da população mais idosas, foi um erro desnecessário. Um daqueles deslizes que prepara o terreno onde a demagogia levanta voo, pronta para explorar os sentimentos de revolta, incluindo aqueles que são justos.
O primeiro-ministro pode não ter percebido o escasso discernimento da desafogada lista de membros dos órgãos do Estado que enviou para a Assembleia da República. Mas as reacções que foram conhecidas indicam que na política portuguesa a falta de tino não é generalizada.
Vários deputados afirmaram não querer ser inoculados agora. Rejeitaram uma ideia extravagante num cenário em que há profissionais da saúde e cidadãos vulneráveis que ainda se encontram na fila de espera. É um sinal de bom senso, quando o país sofre a pressão de uma crise sanitária que se agrava a cada dia e quando as previsões oficiais referem que a maioria da população com idade superior a 80 anos só estará vacinada no final de Março.
João Cotrim de Figueiredo, deputado da Iniciativa Liberal, explicou-se bem. Em declarações ao Expresso, defendeu que os critérios de vacinação devem privilegiar aqueles que estão envolvidos no "combate directo” à pandemia: “Não cremos que os deputados, podendo ser substituídos, se enquadrem nestes critérios". É só isto e é simples de entender. |
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NOTÍCIAS DA PANDEMIA
O agravamento da situação em Portugal levou o Governo a iniciar contactos, no domingo passado, para pedir ajuda internacional. A dois países europeus, que não foram identificados, estão a ser solicitados médicos intensivistas, enfermeiros, equipamentos e vagas hospitalares que permitam transferir doentes para fora do país.
Esta terça-feira, o Hospital Amadora-Sintra atingiu o limite da capacidade para fornecer oxigénio por via não invasiva. Perto de meia centena de doentes tiveram de ser transferidos para outras unidades. Em comunicado, emitido hoje, a unidade hospitalar informou, entretanto, que a rede está "a funcionar de forma estabilizada e dentro de padrões de segurança".
O aparecimento de novas estirpes do coronavírus, com maior capacidade de contágio, já levou as autoridades de França, Alemanha e Áustria a proibir o uso de máscaras comunitárias. Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) não altera, para já, as recomendações sobre este equipamento de protecção individual. Na indústria têxtil nacional há preocupação. Mil empresas estão a fabricar máscaras, uma actividade que representa cem milhões de euros em exportações.
Os dados mais recentes da DGS dão conta de que esta terça-feira o número diário de vítimas mortais foi de 291, o mais alto durante a pandemia. Desde o início de Janeiro, 4040 pessoas perderam a vida na sequência de complicações causadas pela covid-19. São quase tantas mortes quantas aquelas que o país sofreu entre Março e Dezembro de 2020. Nos últimos 40 anos, a mortalidade nunca foi tão elevada em Portugal. Entre as vítimas mortais da covid-19, mais de 4% faleceram em casa.
No concelho alentejano de Castro Verde, a autarquia local publicou um post no Facebook. No texto, que foi apagado, anunciava o confinamento da comunidade de etnia cigana de um bairro onde foram detectados 17 casos de infecção. Questionado pelo Expresso, o autarca socialista António José de Brito ripostou: "Rejeito completamente essa ideia, porque é que é discriminação?".
Peritos das Nações Unidas lançaram um alerta. Há falsas vacinas à venda na internet, uma fraude que representa graves riscos para a saúde de quem as tomar. A lentidão do processo de vacinação estará a ajudar à proliferação da oferta.
Uma luz de esperança que se vem juntar às vacinas que já estão a ser administradas. Um medicamento espanhol testado em França e nos Estados Unidos demonstrou uma redução quase total da carga viral do novo coronavírus, segundo um estudo publicado na revista ‘Science’. A plitidepsina é o composto em causa e os investigadores defendem que deve ser experimentado em ensaios clínicos alargados.
Encerramento de fronteiras, ensino à distância, autorização para a venda de livros nos hipermercados. Estas são algumas medidas que poderão entrar em vigor durante o novo período de estado de emergência, que se inicia no próximo domingo. O Presidente da República prossegue esta quarta-feira as conversas com os representantes dos partidos políticos, através de videoconferência.
OUTRAS NOTÍCIAS
A portaria que define a execução do apoio extraordinário destinado a trabalhadores e membros de órgãos estatutários que detenham rendimentos situados abaixo do limiar da pobreza foi publicada esta terça-feira. Saiba como funciona e quem pode beneficiar. Hoje, Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, responderá aos deputados durante uma audição sobre as ajudas aos pais que têm de acompanhar os filhos por causa da medida de encerramento das escolas.
As ondas de choque dos resultados das eleições presidenciais atingiram o CDS. Através de um artigo publicado no "Observador", Adolfo Mesquita Nunes afirma: "A crise de sobrevivência que o CDS hoje atravessa não conseguirá ser resolvida com esta direcção". O partido não pode esperar mais, diz o antigo secretário de Estado do Turismo.
Na área do PSD, o rescaldo das eleições promete aquecer o debate sobre eventuais coligações dos sociais-democratas com o partido de André Ventura. Num artigo publicado no "DN", Luís Marques Mendes assume posição: "Juntar PSD e Chega numa qualquer plataforma governativa é, no plano da coerência, naufrágio anunciado". O antigo líder do PSD acrescenta que a "ameaça de ingovernabilidade, à esquerda e à direita, espreita com grande crueldade".
A Pluris, empresa controlada pelo empresário Mário Ferreira, recebeu luz verde da Autoridade da Concorrência para avançar com a oferta pública de aquisição sobre as acções da Media Capital que ainda não estão na sua posse. Em causa está 70% do capital da detentora da TVI. O preço ainda terá de ser definido através de uma auditoria independente.
Em Matosinhos, os planos da Galp para o encerramento da refinaria vão prosseguir. A fábrica de combustíveis será a primeira a fechar, segue-se a unidade de aromáticos e óleos-base e, por fim, as restantes áreas de actividade. Os trabalhadores não se conformam com a decisão. A 2 de Fevereiro haverá uma manifestação em Lisboa, junto à sede da empresa.
Moradores do Prédio Coutinho, em Viana do Castelo, afirmaram estar na disposição de abandonar os apartamentos em que ainda habitam. Prometeram entregar as chaves à Viana Polis no prazo de 60 dias e a sociedade detida pela autarquia classificou a proposta como "razoável". O longo processo pode ter um vista à vista.
Na Europa há quatro países que não dispõem, ainda, de oferta comercial de telecomunicações móveis de quinta geração. Portugal está incluído neste grupo. Os leilões das licenças estão a decorrer e abrangem todo o espectro disponível, uma opção da Anacom, entidade reguladora do sector. Altice, NOS e Vodafone estão no terreno, mas mantêm que o regulamento do processo é “ilegal e discriminatório”.
A polémica entre operadores e Anacom estende-se a outra frente. O regulador revelou as conclusões de um estudo sobre os tarifários da internet móvel e indicou que Portugal está em quinto lugar entre os países da União Europeia com o preço mais elevado por GigaByte. A Apritel, que reúne os operadores, contesta.
FRASES
“Se o PS se entusiasmar com a ideia de que o governo pode continuar a prometer e a não cumprir, como fez nas contratações médicas ou nos apoios aos trabalhadores a recibo verde, aos desempregados, às trabalhadoras domésticas, aos gestores da restauração e a pequenos empresários, para se dedicar alegremente a um jogo político para atrapalhar Rui Rio, vai favorecer uma tempestade social.” Francisco Louçã
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