A antiga ministra da Saúde considera que há cada vez mais motivos para os portugueses ficarem desconfiados perante a falta de bom senso na distribuição das vacinas.
Maria de Belém Roseira não recua nas críticas ao plano de vacinação contra a Covid-19. No Fórum TSF, a antiga ministra socialista da Saúde afirmou que, depois de ouvir o coordenador Francisco Ramos anunciar que a fase 1 da vacinação vai incluir mais um grupo prioritário - os idosos acima dos 80 anos - dúvidas sobre a estratégia das autoridades acentuaram-se.
Na opinião de Maria de Belém, as autoridades de saúde estão a colocar "tantas pessoas e tantos grupos na mesma prioridade que, ao fim e ao cabo, não há prioridade nenhuma".
"É um grupo gigante, que vai crescendo. Isto não é esclarecimento, não é clareza, é confusão", condena.
SOM AUDIO (Maria de Belém)
Relativamente à prioridade de vacinação para os titulares de pastas públicas, Maria de Belém Roseira considera que "ninguém discute que as mais altas figuras do Estado sejam vacinadas". No entanto, ressalva que "tem de se discutir aquilo que é mais adequado perante uma situação pandémica: em primeiro lugar, salvar vidas; em segundo lugar, salvaguardar o sistema de saúde; e, depois, atingir a imunidade de grupo, que é aquilo que se pretende".
A antiga titular da pasta da Saúde é uma das subscritoras de uma carta aberta ao Presidente da República, a questionar os critérios de vacinação.
Maria de Belém Roseira considera que há cada vez mais motivos para os portugueses ficarem desconfiados perante a falta de bom senso na distribuição das vacinas.
"Verificamos que pessoas que o simples bom senso levaria a que não fossem vacinadas aproveitaram a onda. Isto não pode ser! Temos poucas vacinas, temos de as aproveitar bem", exclama.
SOM AUDIO (Maria de Belém)
A ex-governante defende que o plano de vacinação deveria "definir, no caso de sobrarem vacinas, como é que elas são imediatamente encaminhadas para os grupos que têm de ser vacinados, de acordo com o escalonamento de prioridades".
Maria de Belém Roseira critica ainda a sobrecarga de trabalho que os centros de saúde enfrentam e afirma que o resultado será desastroso.
Para a antiga ministra da Saúde, colocar todo o esforço da vacinação em cima dos centros de saúde "vai fazer com que a atividade programada passe a ficar para trás".
Som audio (Maria de Belém)
Maria de Belém afirma que existe já um "engarrafamento de acesso para patologias não-Covid" e um "agravamento da doença das pessoas que não têm Covid-19", e que se os centros de saúde não forem "resguardados, para fazer o seguimento dessas pessoas", muito mais gente vai ser atingida. "As consequências só se avaliarão, em toda a sua dimensão, daqui por bastante tempo", sublinha.
*com Mário Fernando e Rui Polónio
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