Na história dos experiências científicas envolvendo humanos, aqueles que tentaram de alguma forma averiguar nossos limites são os mais desafiadores e inclusive claustrofóbicos. Este último foi o caso do que ocorreu com Stefania Follini, que passou por um dos experimentos mais estranhos que aconteceram na década de 1980. A italiana se voluntariou para um trabalho sobre ritmos circadianos, que consistia em ficar isolada durante quatro meses em uma instalação subterrânea em uma gruta de 10 metros de profundidade em Carlsbad, Novo México, longe de todas as indicações externas próprias da noite e do dia. |
O experimento foi organizado pela Pioneer Frontier Explorations em conjunto com a NASA e começou em 13 de janeiro de 1989. Nesse dia, a jovem designer de interiores, de 27 anos, entrou em um pequeno quarto de acrílico montado na base da gruta para provar os efeitos físicos e psicológicos do isolamento prolongado em humanos. Não tinha relógio nem calendário para registrar os dias e sua única luz vinha de três lâmpadas.
Enquanto isso, uma equipe de pesquisadores italianos monitorava o trabalho buscando que os achados proporcionassem novos conhecimentos sobre o impacto do isolamento prolongado no espaço em astronautas. Também esperavam aplicar os resultados a estudos de padrões de sono, biorritmos e transtornos imunológicos e da capacidade de atenção.
Naquele quarto onde a mulher passou 131 dia sem luz solar nem o som de outra voz humana, Stefania contou que não se sentiu sozinha nem deprimida, em parte porque forjou amizades com ratos, rãs e inclusive gafanhotos que encontrava na gruta.
- "Sim, falava com eles, e sempre tinham razão", contou ela para a imprensa quando saiu. Também se dedicou a decorar a gruta com recortes feitos de papelão para passar o tempo.
De fato, o único vínculo com o mundo exterior era uma tela de computador na qual os cientistas lhe enviavam instruções a seguir. Assim monitoraram Stefania através de câmeras e microfones, controlando sua pressão arterial, frequência cardíaca, temperatura e padrões de ondas cerebrais com regularidade. Ademais, a mulher enviava amostras de sangue e urina em um recipiente com uma corda para testes periódicas para verificar se havia alguma mudança hormonal.
E 22 de maio de 1989 a mulher revia a luz do sol dando por finalizado o experimento. A primeira que pediram a ela foi que adivinhasse a data na qual se encontrava, e estimou que era 14 de março, ou seja a dois meses do início, em vez dos quatro que realmente tinha passado.
A verdade é que dentro do quarto, longe de todos os sinais do ciclo diário normal de 24 horas, seu relógio biológico se afastou de seu ritmo regular para seguir, primeiro em um dia de 28 horas, e depois um de 48. Começou a permanecer acordada durante mais de vinte horas e a dormir até dez horas seguidas.
Com seu ciclo diário mais lento, suas refeições ficaram mais esparsas e perdeu até 7,7 kg de peso. Sua dieta no experimento foi baseada a maior parte do tempo em feijão e arroz, o que resultou parcialmente na perda de vitamina D. Estas foram suas primeiras palavras ao sair:
- "A primeira coisa que quer fazer é dar uma longa caminhada. Foi legal estar ali, mas também posso dizer que estou feliz e prefiro estar aqui."
Os pesquisadores italianos comunicaram que decidiram terminar o experimento porque tinham reunido suficientes dados e Stefania tinha começado a dormir demais. Naquele dia, a designer italiana estabeleceu um novo recorde mundial da mulher com o maior número de dias isolada em uma gruta, rompendo a marca anterior de 104 dias.
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